sexta-feira, 28 de agosto de 2015

POLÍTICA MONETÁRIA PRATICADA ATRAVÉS DA TAXA BÁSICA DE JURO.

POLÍTICA MONETÁRIA PRATICADA ATRAVÉS DA TAXA BÁSICA DE JURO.

Inicialmente alguns conceitos necessários: 
1) POLÍTICA MONETÁRIA:
a) a politica monetária e a fiscal influenciam-se;
b) sozinha não resolve problemas microeconômicos, estruturais ou setoriais;
c) a estabilidade monetária é condição necessária, mas não suficiente, ao desenvolvimento e ao crescimento econômico;
d) o regime de taxa de câmbio flutuante é necessário para que a política monetária não provoque desequilíbrios no balanço de pagamentos. Taxa de câmbio administrada e mantida artificialmente alta ou baixa provoca desequilíbrios graves na economia.

2) INFLAÇÃO:
a)    CONCEITO: Aumento generalizado e contínuo dos preços dos bens e dos serviços (o nível geral dos preços).
b)    INÉRCIA INFLACIONÁRIA: A inflação presente e futura é efeito (função) da causa indexação passada. Aumentos dos preços provocados por contratos com cláusulas de correção por índices de preços,  por decisões judiciais, por memória inflacionária e por aumentos de salários (consumidores consideram normais os aumentos dos preços). A correção monetária (indexação) alimenta a inflação indefinidamente (vira uma espiral inflacionária). 
c)    CONTAMINAÇÃO, PREÇOS RELATIVOS: Aumento do preço de um produto com influência sobre os custos de outras mercadorias e serviços (petróleo, insumos, produtos oligopolizados), pode CONTAMINAR o nível geral de preços (ao invés de apenas os preços relativos) se a política monetária não for eficaz (expectativa dos agentes econômicos formadores de preços).
d)    AMBIENTES: A eficiência ou deficiência estrutural (física, legislação, judiciário) pode fazer os preços serem maiores em um ambiente do que em outro.

3) TAXA DE JURO NATURAL, DE MERCADO E BÁSICO:
a)    TAXA NATURAL (in, de equilíbrio, neutra): a taxa de juro natural é a ideal (virtual), a que não provoca inflação nem desequilíbrios no mercado;
b)    TAXA BÁSICA (ib): é a taxa (de curto prazo) pela qual a autoridade monetária (Banco Central) remunera as sobras de moedas no mercado (através dos bancos), estimulando ou desestimulando a monetização da economia. Teoricamente a taxa básica de juro (de curto prazo) deveria oscilar em torno da taxa de equilíbrio (+ - 0,25%). Evidentemente, se houver ameaça inflacionária, o BC coloca, temporariamente, a taxa básica acima desse nível de equilíbrio para fazer com que essa ameaça seja debelada. O inverso vale quando há ameaça de deflação e de recessão (ou desaceleração indesejada);
c)    TAXA DE JURO DE MERCADO (im): é a estabelecida pelo mercado (oferta e demanda de liquidez). São as diversas taxas que em um dado momento e para vários prazos formam a curva juro (imlp).   Com inflação estável e abaixo de 3% a curva de juros fica ascendente, mas saem excessos (os juros mais longos ficam maiores do que os mais curtos, é a preferência pela liquidez). Em um ambiente econômico-financeiro de mercado, sem crise de confiança (principalmente com expectativas racionais), sem influências negativas (insegurança política ou outras) a taxa de longo prazo é a melhor medida (diretriz) para definir-se a taxa de equilíbrio (estamos falando em conceitos dinâmicos). A taxa de equilíbrio (neutra) é o ponto mais negociado da curva de juro de mercado (imlp). A taxa de juro de longo prazo é a variável pela qual os agentes que têm valores em jogo precificam a inflação futura e a remuneração pelo capital financeiro (é o preço aceito pelos dois lados). É importante estudar a tendência da curva de juro, a imlp (se ascendente ou descendente) e a sua evolução no tempo (se ascendente ou descendente). A inclinação da curva de juros de mercado mais vertical indica que os agentes estão prevendo inflação ascendente e que a im está acima da in e que a taxa básica está fixada baixa (expansionista). Quanto menos vertical a curva (juros longos caindo), tendendo para plana, indica que a taxa básica está próxima do correto (sem inflação ascendente). Com inflação ascendente a taxa básica (ib) deve ser fixada acima da taxa de equilíbrio a in (no Brasil o DI 360). A curva de juro de longo prazo (imlp) é a base para a tomada de decisão na fixação da ib. A imlp é maior em países com déficit nominal e má qualidade na gestão dos gastos públicos (poupança e investimentos públicos pequenos em relação ao PIB). A credibilidade e a confiança passadas pela autoridade monetária (e governo) também influencia a curva de juros. Uma oposição política forte e com propostas demagógicas e populistas influencia a credibilidade e a curva de juros de mercado (os juros longos sobem);
d)    PONTO NEUTRO OU DE EQUILÍBRIO: a definição prática mais aceitável para o ponto de equilíbrio (ou neutro) é a taxa de juro mais negociada acima de 360 dias (no Brasil o DI 360, nos USA o T-Note de 2 ou de 5 anos). A taxa de juro de equilíbrio de longo prazo depende de vários fatores, entre os quais a situação fiscal (mais ou menos déficit) e o endividamento público, a credibilidade do BC (segurança), a taxa de investimento, o grau de abertura da economia, a eficiência do sistema financeiro, etc. É a taxa onde as forças da oferta e da demanda se encontram e se equilibram, atingindo o máximo produto e utilização dos fatores de produção (inclusive o trabalho) sem provocar inflação (nas crises, o efeito manada, distorce a curva). Essa taxa, teoricamente, é aquela em que a economia atinge a sua mínima taxa de desemprego sem inflação.

4) MOEDA X OUTROS ATIVOS (FORMAÇÃO DE BOLHAS): A escolha dos agentes econômicos (consumidores, investidores e poupadores) entre a Moeda e outros Ativos financeiros ou não é fundamental (isto é aceito por todos, keynesianos e clássicos).  Se a Moeda pátria não é aceita como Reserva de Valor (Moeda mais Juros) os agentes fogem para outros ativos (bolsa, imóveis, moedas estrangeiras, ouro, etc.), podendo formar bolhas (véspera da crise). Não existe nada pior para uma economia do que a desmoralização de sua moeda (bom senso). A combinação taxa básica expansionista e negativa (menor do que a inflação) é a receita para formação de bolhas (é o que podemos definir como política monetária expansionista e imprudente, o pior dos mundos).

5) WICKSELL - FISHER: Wicksell disse que um processo inflacionário se constata quando a taxa natural de juros (neutra, de equilíbrio) inicia uma tendência de alta. A causa dos processos inflacionários são os juros de mercado baixos em relação ao natural (neutro ou de equilíbrio).
Fisher complementa o raciocínio introduzindo o conceito de comparação entre os juros de mercado (nominal, ex-ante, fruto das expectativas de inflação, efetivamente planejado.), com o juro acontecido (real, ex-post, efetivamente realizado). Se as expectativas de inflação são maiores do que os juros de mercado é o pior dos mundos para o processo inflacionário. Para ele a inflação alimenta a expectativa de que os preços continuarão a subir.

6) JURO FIXO X SELIC X ÍNDICES: o detentor de poupança ao fazer uma aplicação financeira tem de escolher entre: a) juro fixo nominal; b) juro nominal mais um índice de correção; c) um percentual do CDI ou da Selic diária. Ao fazer a escolha o poupador (consciente ou inconscientemente) está comparando o juro obtido (efetivamente pactuado) com a inflação prevista (planejada) e com a evolução das taxas de juros. Um título corrigido por CDI, Selic ou índice (IPCA ou IGPM), é como comprar um seguro contra a inflação futura e movimentos (evolução) das taxas de juros. Um título com taxa pré-fixada corre o risco das taxas de mercado subirem, neste caso o valor de mercado do mesmo ficará abaixo do nominal - de face - (o inverso é verdadeiro, queda nas taxas fixas fazem o valor de mercado do título ficar acima do de face, o nominal).   

7) QUADRO RESUMO DAS RELAÇÕES in x im e ib x im. 
A in é uma taxa de juro de equilíbrio ideal, mas VIRTUAL. A im é uma de juro real. O BC, para equilibrar o mercado, entra fixando a taxa básica (ib) o mais próximo possível da natural (in). A melhor medida para a taxa básica é a de lp mais negociada acima de 360 dias. É o ponto definido pelas forças do mercado como o mais aceito pelos agentes econômicos. No Brasil considera-se o DI 360 ou a mais negociada acima deste ponto. Nos USA o T-Note de 2 anos, ou o ponto mais negociado acima deste ponto. Como os títulos americanos são considerados (ainda) refúgio para as reservas mundiais (inclusive privadas), deve-se analisar as taxas LIBOR  e a Prime (a distância para os T-Note).

RELAÇÃO TAXA NATURAL (in)  X TAXA DE MERCADO (im):
im é menor do que in, teremos: expansão monetária e inflação.
im é maior do que in, teremos: contração monetária e redução da inflação. 
RELAÇÃO TAXA BÁSICA  (ib) X TAXA DE MERCADO:
ib é maior do que im, teremos: contração monetária e redução da inflação. 
ib é menor do que im, teremos: expansão monetária e inflação.

im < in : - Poupança; + C; + Lucros; + I; + Salários; + NUFP; +  INFLAÇÃO.
im > in : + Poupança; - C; - Lucros; - I; - Salários; - NUFP; - INFLAÇÃO.

NUFP (nível de utilização dos fatores de produção).
Este texto baseou-se na teoria do juro e da moeda de Wicksell (Johan Gustaf Knut Wicksell, 1851, 1926), a mais bela construção teórica em economia monetária, pela simplicidade e bom senso (todos, após ele, nadaram em seus estudos).  MAG  resumo de publicação de 01/2007.

LEIAM A POSTAGEM
de 28/08/2015.


Nenhum comentário:

Postar um comentário