sábado, 4 de fevereiro de 2017

POLÍTICA MONETÁRIA (teoria e prática): A TAXA BÁSICA E A INFLAÇÃO (aumentos e reduções).



POLÍTICA MONETÁRIA (teoria e prática): A TAXA BÁSICA E A INFLAÇÃO (aumentos e reduções).


“Ao longo dos anos 90, fiquei muito impressionado com a facilidade com que passamos a influenciar, com a política monetária, a taxa de juros de longo prazo. Ficou mais fácil cumprir a missão.” Alan Greenspan.

INTRODUÇÃO (conceitos e dados necessários para uma análise):

     1) O CONSUMO é função da segurança proporcionada pela riqueza acumulada, pelo nível e expectativa da renda permanente (segurança no emprego), do subconsumo, da expectativa de vida remanescente e da taxa de juro nominal de mercado ex-ante em relação à taxa real ex-post (diferença entre a taxa nominal ex-ante e a inflação ocorrida = taxa real ex-post);

      2)  WICKSELL e FISHER: Wicksell disse que um processo inflacionário se constata quando a taxa natural de juros (neutra, de equilíbrio) inicia uma tendência de alta. Para ele a causa dos processos inflacionários são os juros de mercado baixos em relação ao natural (neutro ou de equilíbrio). Fisher complementa o raciocínio introduzindo o conceito de comparação entre os juros de mercado (nominal, ex-ante, fruto das expectativas de inflação, efetivamente planejado), com o juro real acontecido (real, ex-post, efetivamente realizado. Nominal menos inflação no período). Se as expectativas de inflação são maiores do que os juros de mercado é o pior dos mundos para o processo inflacionário. Para ele a inflação alimenta a expectativa de que os preços continuarão a subir;

   3) JURO FIXO X SELIC X ÍNDICES: o detentor de poupança ao fazer uma aplicação financeira tem de escolher entre: a) juro fixo nominal; b) juro nominal mais um índice de correção; c) um percentual do CDI ou da Selic diária. Ao fazer a escolha o poupador (consciente ou inconscientemente) está comparando o juro obtido (efetivamente pactuado) com a inflação prevista (planejada) e com a evolução das taxas de juros. Um título corrigido por CDI, Selic ou índice, é como comprar um seguro contra a inflação futura e movimentos (evolução) das taxas de juros. Um título com taxa pré, fixa, corre o risco das taxas de mercado subirem, neste caso o valor de mercado do mesmo ficará abaixo do nominal - de face - (o inverso é verdadeiro, queda nas taxas fixas fazem o valor de mercado do título ficar acima do de face, o nominal);  

      4) CAUSAS E EFEITOS: definir a causa primeira e principal (entre várias) de um fenômeno econômico exige conhecimentos da conjuntura (passada, presente e prospectiva - expectativas) é complexo, mas fundamental em análises racionais e consistentes. Confundir causa com efeito (e não saber definir período entre ação e efeito) é erro imperdoável em análise econômica, mas frequente (todo efeito passa a ser uma causa de acontecimento futuro);

     5) AMBIENTE: da mesma maneira que em engenharia é necessário estudar o ambiente (solo, ventos, sol), em economia também o é (abaixo descrevemos algumas condições). A política monetária dos EUA (emite a moeda meio de pagamento, unidade de medida e reserva mundial) tem que considerar o ambiente doméstico e o externo (o fluxo, os estoques e a absorção do dólar no mundo). O Brasil por não emitir moeda reserva mundial, tem que considerar em sua política monetária a relação velocidade de crescimento da oferta e da demanda (evitar déficits externos e crises cambiais). Deve-se considerar também nas políticas monetárias a conjuntura do momento e a prospectiva, se com inflação ascendente ou descendente, se após uma administração considerada irresponsável ou austera (responsável).  As análises em política monetária devem considerar o ambiente (interno e externo):

a) se o país é emissor ou não de moeda reserva mundial;
b) o percentual da carga tributária e da dívida pública em relação ao PIB. Carga tributária e dívida pública baixas facilitam o combate ao processo inflacionário;
c) a política fiscal (superávit ou déficit primário). Superávit primário aumenta a credibilidade (juros menores) e a previsibilidade;
d) a dívida externa (relação com PIB, com as reservas e com o saldo em transações correntes);
e) o saldo em transações correntes;
f) o saldo do balanço comercial;
g) a taxa de câmbio (administrada ou flutuante – de mercado).

      6)  AS VARIÁVEIS controláveis (a taxa básica), as influenciadas (expectativa de inflação e juros futuros), as dependentes, as independentes, as de mercado, internas, externas e naturais;

   7) NAICU (Non-Accelerating Inflation Capacity of Utilization); Taxa de utilização da capacidade instalada que não acelera a inflação;
      8)  NUCI : NÍVEL DE UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA;
      9) PIB POTENCIAL, CAPACIDADE DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA (estrangulamentos);
     10)  HIATO DO PRODUTO, diferença entre o PIB potencial e o efetivo;
    
     11)  TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA E EQUAÇÕES QUANTITATIVAS: as equações quantitativas são expressões matemáticas da teoria. Como todo modelo econômico é uma representação simplificada da realidade e como tal deve ser entendido. É um reducionismo. A teoria quantitativa é ampla e desenvolveu-se (e desenvolve-se) no tempo, não tendo as limitações das equações quantitativas.  A quantidade de moeda pode ser medida como a seguir:

M0 = Base Monetária = Moeda corrente + Reservas;
M1 = Meio de Pagamento = Oferta Monetária = Moeda Corrente + Dep. a Vista;
M2 = M1 + dep. investimentos + poupança;
M3 = M2 + fundos investimentos + operações compromissadas;
M4 = M3 + títulos federais Selic.

A teoria absorveu o estudo de inúmeras variáveis e seus efeitos no cp e no LP, no primeiro momento e nos sequenciais (o processo econômico, a evolução dinâmica). Conceitos como a curva de juros e sua evolução no tempo, a taxa básica e seus efeitos na parte curta e na longa da curva, no primeiro e no segundo momentos, nos preços de consumo e nos dos ativos financeiros e reais. A criação de moeda fiduciária, a quase moeda, as crises (bolhas e seus furos), as expectativas (positivas, negativas), o Banco Central, a liquidez, a política monetária, etc. A quantidade de moeda deve ser considerada, para fins de estudo da inflação, incluindo todo ativo (ou bem) com liquidez abaixo de 30 dias. A TQM só pode ser considerada insuficiente para explicar a inflação se considerada parada no tempo, sem as evoluções do conhecimento;

12) EQUILÍBRIO EM MOVIMENTO: como a economia é um processo em movimento as causa e os efeitos estão sempre acontecendo e influenciando as expectativas, que são ao mesmo tempo efeito da conjuntura passada e presente e causa (variável influenciável) da conjuntura futura. Alarmar os agentes econômicos é mais fácil do que torná-los otimistas e racionais (o conceito de equilíbrio presume o desequilíbrio). Expectativas racionais de mercado influenciam possíveis cenários econômicos, previsíveis pela teoria, mas que sofrem influências emocionais e do poder político. Confiança nas instituições e nas autoridades aumentam a segurança e a previsibilidade influenciando positivamente as expectativas e o ambiente de negócios (maior a segurança menor a taxa de juro). Um governo (e equipe econômica) considerado sério e responsável reduz a necessidade de taxa básica e o tempo entre ação e efeitos.

A Política Monetária (executada pelo BC) deve ser harmônica com a Política Fiscal (executada pelo executivo), pois uma complementa a outra:

a) estando a economia em depressão (queda de preços – deflação -  e redução das atividades econômicas) é recomendável que o executivo aumente os Gastos Públicos e o BC reduza a Taxa Básica de Juro (um pouco abaixo da de equilíbrio) e não permita que a liquidez nem os empréstimos caiam (não ocorra empoçamento da liquidez);
b) estando a economia com inflação ascendente (mesmo com recessão) é recomendável que o BC aumente a Taxa Básica de Juro para um nível um pouco acima da taxa de equilíbrio (no Brasil o DI 360. A menor possível) para reverter o processo;
c) países em desenvolvimento, onde a infraestrutura e os serviços básicos são deficientes, é aceitável, como medida benéfica, que antecipa o bem estar da população, um déficit público até o nível do crescimento do PIB;

13) A TAXA BÁSICA: como a taxa básica influencia os agentes econômicos (como ocorre a transmissão)? Em primeiro lugar influencia os agentes que têm renda mensal superior ao consumo (trabalhadores, autônomos e outros) e os que têm poupança. Se negativa (ou positiva) influencia a decisão entre consumir imediatamente ou postergar, fazer aplicações financeiras ou refugiar-se em ativos que não a moeda pátria (dólar, ouro, ações, imóveis). Taxas básicas negativas (ib – IR – IPCA) provocam insegurança e fuga para ativos que não moeda (formação de bolhas). A taxa básica atua também harmonizando a oferta e a demanda e a quantidade de moeda (as aplicações no BC reduzem a liquidez, é uma extensão da TQM). A taxa básica positiva passa  a percepção de aumento de renda dos agentes, podendo aumentar a segurança e influenciar o consumo. Neste caso as atividades não caem (não conheço nenhum caso real).
      Considerando as observações iniciais podemos analisar o efeito da taxa básica nos EUA e no Brasil. Vou considerar a política monetária gradualista (a mais praticada);
     
14) OS AUMENTOS DA TAXA BÁSICA PROVOCAM REDUÇÃO OU AUMENTO DA INFLAÇÃO?
    NO BRASIL: com uma conjuntura com inflação ascendente a taxa básica real negativa (ou abaixo da natural de equilíbrio) provocará aumento do processo inflacionário. A redução da mesma apressará o processo inflacionário para a hiperinflação (e a seguir a estagflação). Com uma conjuntura com inflação descendente as taxas de juros nominais de mercado de LP caem (acompanhando as expectativas de queda da inflação). A curva de juros nominais de mercado fica descendente. A taxa básica deverá ser reduzida até 0,5% abaixo da taxa natural (no Brasil o DI 360). A afirmação de que o aumento da taxa básica provoca aumento da inflação é um erro de análise que confunde causa e efeito. Se a taxa básica está abaixo da neutra (natural ou de equilíbrio) e a inflação está ascendente, os aumentos da mesma no sistema gradualista (tempo entre os aumentos e o efeito de no mínimo nove meses) ocorrerão concomitantes - aumento da taxa básica e da inflação. Quando os aumentos da taxa básica começam a surtir os efeitos, inclusive na inflação, revertendo o processo inflacionário para descendente, as reduções da taxa básica também ocorrem concomitantemente com a queda da inflação. A curva da inflação, assim como a curva dos juros nominais de mercado, iniciam a reversão de ascendente para descendente.  O argumento de que a taxa básica atua como um sinalizador da inflação futura só tem validade quando ela é fixada com consistência com a realidade – inflação já ascendente e autoridade com credibilidade. Reduzir a taxa básica com inflação ascendente é certeza de hiperinflação (absurdo demagógico);

     NOS EUA - A CRISE AMERICANA (SUBPRIME): O FEDERAL RESERVE (Fed - autoridade monetária americana) fixou a taxa básica, Fed Funds, excessivamente expansionista (diferença Fed Fund x T Note 5 e 2 anos) por tempo demasiado (2002 a 2005). Apesar disto a inflação doméstica não subiu, pois o mundo absorveu o excesso de dólares (não aconteceu excesso de monetização interna). O aumento do consumo foi satisfeito por aumentos das importações (os preços não subiram). Mas o excesso de dólares no mundo provocou a inflação de demanda mundial das commodities (a China os tigres asiáticos e alguns países em desenvolvimento seguraram a inflação de industrializados por algum tempo. Como não era possível importar moradias e as taxas de juros estavam muito baixas, os preços dos imóveis subiram acima da inflação (a bolha se formou aí). Quando o FED subiu a taxa básica elevando-a até 5,25%, em excesso e por tempo demasiado, 06/2006 a 08/2007, a bolha furou rapidamente (o que já estava acontecendo, sabido por experta do mercado, que tentaram desovar nos agentes menos avisados os títulos podres). Aparentemente a básica deveria ter ido apenas até 4% e por tempo menor. Os efeitos se fizeram sentir nos preços dos imóveis que subiram muito mais do que a inflação (a taxa básica baixa, 2002 a 2005, provocou fuga da moeda que não conseguia cumprir sua função de reserva de valor, a bolha se formou em imóveis e outros ativos). Some-se a isto o efeito do aumento das taxas de juros nas prestações dos imóveis (a renda dos americanos não subiu). Foi uma crise de solvência que alastrou-se e transformou-se em de liquidez (isto foi distribuído para o mundo todo, afetando mais os mais ricos e os que aceitaram riscos maiores). Os preços das commodities caíram com a crise e ajudou no controle da inflação. O FED foi obrigado a reduzir a taxa de redesconto e a básica (zero) para evitar um risco sistêmico mundial (teve que salvar o sistema bancário). Teve também que dar liquidez a títulos de LP (QE – quantitative easing) a juros baixos para evitar aumentos nos juros de LP e queda de empréstimos e liquidez. O BC Europeu foi obrigado a socorrer seus bancos (afetados pela crise de liquidez). Obs: Greenspan ficou no Fed de 1987 ao início de 2006, quando assumiu Ben Bernanke.

COMMODITIES - PREÇOS US$.

DATAS
Fed
funds
OURO
PETR.
Brent.
Milho
Café
Soja
Suco
Laran.
Açucar
Trigo
2002
1,25%
348,2
28,66
235,75
60,2
569,5
91,75
7,61
325,0
2003
1,00
416,1
30,17
246,0
64,95
789,0
60,75
5,67
377,0
2004
2,25
438,4
40,46
204,75
103,75
547,75
86,1
9,04
307,5
2005
4,25
518,9
58,98
215,75
107,1
602,0
125,2
14,68
339,3
2006
5,25
638,0
60,86
390
126
683,5
201,3
11,75
501,0
2007
4,25
838,0
93,85
455,5
136,2
1199
143,6
10,82
885,0
2008
0,25
884,3
45,59
407,0
112,05
972,25
68,55
11,81
610,8
2009
0,25
1096,2
77,93
414,5
135,95
1039,8
124,0
26,95
541,5
2010
0,25
1421,4
94,75
629,0
240,5
1393,8
172,35
32,12
794,3
2011
0,25
1566,8
107,38
646,5
226,85
1198,5
169,0
23,30
652,75
2012
0,25
1675,8
111,11
698,25
143,80
1418,7
116,05
19,51
778,0
2013
0,25
1202,3
110,80
422,00
110,70
1312,5
136,45
16,41
605,25
2014
0,25
1184,10
57,33
397,00
166,60
1019,25
140,25
14,52
589,75
2015
0,25
1065,20
37,28
358,75
126,70
871,25
140,00
15,24
470,00
% ano
x
-10,46
-34,97
-9,63
-23,95
-14,52
-0,04
4,96
-20,31
% 12 meses
x
-10,46
-34,97
-9,63
-23,95
-14,52
-0,04
4,96
-20,31

  15)   A RELAÇÃO TAXA BÁSICA E JURO NOMINAL DE MERCADO: se o BC fixar uma taxa básica abaixo da adequada (com inflação ascendente) as expectativas de inflação aumentam e também os juros de mercado de LP (a curva de juros fica ascendente acompanhando a curva da inflação). O BC só conseguirá vender seus títulos atrelados a ela com deságios (o inverso é verdadeiro).
              MAG - 04/02/217

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