domingo, 12 de fevereiro de 2017

INFLAÇÃO E TAXA BÁSICA (Selic): RELAÇÃO. UMA REPETIÇÃO NECESSÁRIA.



INFLAÇÃO E TAXA BÁSICA (Selic): RELAÇÃO.
UMA REPETIÇÃO NECESSÁRIA.

AMBIENTE: da mesma maneira que em engenharia é necessário estudar o ambiente (solo, ventos, sol), em economia também o é (ambiente e conjuntura). Algumas condições:

a) se o país é emissor ou não de moeda reserva mundial;

b) o percentual da carga tributária e da dívida pública em relação ao PIB. Carga tributária e dívida pública baixas facilitam o combate ao processo inflacionário;

c) a política fiscal (superávit ou déficit primário). Superávit primário aumenta a credibilidade (juros menores) e a previsibilidade;

d) a dívida externa (relação com PIB, com as reservas e com o saldo em transações correntes);

e) o saldo em transações correntes;

f) o saldo do balanço comercial;

g) a taxa de câmbio (administrada ou flutuante – de mercado);

h) se a tendência da inflação é ascendente ou descendente.

COMO A TAXA BÁSICA SE TRANSMITE (OS EFEITOS):
A taxa básica é nominal, de curtíssimo prazo e controlada pelo BC.
Uma taxa básica nominal ALTA, mas NEGATIVA (líquida de IR e abaixo da inflação) OU ABAIXO DA ADEQUADA é semelhante a uma dose alta de antibiótico, mas abaixo da adequada.
A taxa básica positiva atua de duas maneiras principais inicialmente: permitindo que os consumidores postecipem o consumo (reduz pressão da demanda) e reduzindo a liquidez. As aplicações no BC reduzem a quantidade de moeda. É por este efeito que afirmo que a utilização da taxa básica é uma modernização da TQM (teria quantitativa da moeda). É mais fácil manipular a taxa básica do que controlar a quantidade de moeda.  

A TAXA BÁSICA E AS CURVAS DE JUROS NOMINAIS DE MERCADO.

“Ao longo dos anos 90, fiquei muito impressionado com a facilidade com que passamos a influenciar, com a política monetária, a taxa de juros de longo prazo. Ficou mais fácil cumprir a missão.” Alan Greenspan.

COM INFLAÇÃO ASCENDENTE:

a) a curva de juros nominal de mercado fica ascendente (inclinação positiva). Significa que se o TN for captar à taxa prefixada terá que pagar o juro da curva referente ao mês do vencimento (quanto mais longo o prazo maior o juro);

b) se o BC fixar uma Selic abaixo da adequada (neutra), as expectativas de inflação aumentam e a curva de juros fica mais ascendente (a inclinação positiva aumenta) e para vender títulos indexados a ela (como forma de correção monetária), o TN só o conseguirá com deságios sobre o valor de face dos títulos (um título de R$ 1.000,00 o TN só conseguirá vender por valor abaixo de R$1.000,00). Se o hiato do produto (relação PIB efetivo/ PIB potencial) estiver perto de um, a velocidade de crescimento da demanda e da oferta se desarmoniza (a oferta interna não consegue atender a demanda) e provoca déficits externos (comercial e saldo negativo em transações correntes). Se o processo não for revertido (com aumento da taxa básica) acontece crise cambial;

c) se o BC fixar a Selic adequada (0,5% ou mais, dependendo da conjuntura e credibilidade do governo, acima da taxa neutra) a curva de juros inverte a tendência de ascendente para descendente (quanto maior o prazo menor fica o juro). A curva fica com inclinação negativa. Significa que as expectativas de inflação estão descendentes. O custo de captação do TN cai. A Selic pode cair responsavelmente;

d) se a Selic for fixada muito acima da adequada o TN conseguirá vender os títulos corrigidos por Selic com ágio (acima do valor de face). Neste caso o BC deve cair a Selic;

e) a política monetária gradualista (pequenos aumentos mensais) demora uns 9 meses para conseguir efeitos. Neste período a inflação e os juros sobem. Quando as expectativas de inflação caem - inverte a tendência para queda - a Selic pode cair (a curva de juros nominais de mercado muda a tendência de ascendente para descendente). Cai a inflação e os juros, origem da confusão dos analistas leigos e dos economistas desatualizados em economia monetária, confundem causa e efeito;

Estas conclusões se firmaram na década de 90 (século XX).
Os economistas formados antes desta época e que não se atualizaram (e escolas em que os professores não se atualizaram) não conseguem entender a relação taxa básica x taxa de juro neutra ou de equilíbrio x expectativa de inflação x curva de juros nominais de mercado. Ficam confusos (os que não entendem de mercado financeiro não conhecem nem a curva de juros). A análise da curva de juro nominal de mercado deve considerar os movimentos da curva, positivo ou negativo, para cima ou para baixo e ao longo da mesma. Se desconhecem a teoria monetária moderna não conseguem entender a política e fazer análises racionais e consistentes.

A TAXA BÁSICA ZERO, AS OPERAÇÕES DE QE (QUANTITAVE EASING) DO Fed (federal reserve, BC dos EUA) E A INFLAÇÃO PERTO DE ZERO NOS EUA (emissor da moeda reserva e meio de pagamento mundial):

Os EUA estavam enfrentando a crise denominado de subprime – 2008 – que explodiu com a quebra dos bancos  Bear Stearns e Lehman Brothers (seguida por inúmeros outros, a maioria salva pelos BCs dos países). A herança foi uma conjuntura complexa: crise de solvência (atraso de pagamentos), liquidez (redução) e crédito (aversão ao risco retraiu bancos). O Fed (federal reserve, autoridade monetária americana) evitou uma recessão profunda (que se não combatida adequadamente caminharia para depressão) fixando a taxa básica cada vez mais baixa (era o único que tinha liquidez), até chegar a zero, para evitar a queda da quantidade de moeda (liquidez) como ensinou Milton Friedman, ao analisar a crise de 29/30 (quando a quantidade de moeda caiu em um terço). Como a crise foi mais profunda do que pensavam não aconteceu inflação e o desemprego aumentou. Para combater a crise utilizaram além da taxa básica zero o aumento da liquidez através das operações de QE – quantitative easing (compra de títulos de LP com juro baixo). Combateram o juro de CP com a taxa básica zero e o de LP com a compra dos títulos de LP a juro baixo (afetaram a curva na parte curta e longa).

A ORIGEM: os Fed Funds (taxa básica dos EUA) excessivamente expansionista (diferença Fed Fund. x T Note 5) por tempo demasiado (2002 a 2005). Apesar disto a inflação doméstica não subiu, pois o mundo absorveu o excesso de dólares (não aconteceu excesso de monetização interna, mas o aumento das reservas dos países exportadores de commodities, da China e dos tigres asiáticos). O aumento do consumo foi satisfeito por aumentos das importações (os preços não subiram). Mas o excesso de dólares no mundo provocou a inflação de demanda mundial das commodities (a China e outros tigres asiáticos seguraram a inflação de industrializados). Como não era possível importar moradias e as taxas de juros estavam muito baixas, os preços dos imóveis subiram acima da inflação (a bolha se formou aí). Quando o FED subiu a taxa básica elevando-a até 5,25%, em excesso e por tempo demasiado, 06/2006 a 08/2007, a bolha furou rapidamente (o que já estava acontecendo, sabido por poucos, há uns dois anos). Aparentemente a básica deveria ter ido apenas até 4% e por tempo menor. Os efeitos se fizeram sentir nos preços dos imóveis que subiram muito mais do que a inflação (a taxa básica baixa, 2002 a 2005, provocou fuga da moeda que não conseguia cumprir sua função de reserva de valor, a bolha se formou em imóveis e outros ativos). Some-se a isto o efeito do aumento das taxas de juros nas prestações dos imóveis (a renda dos americanos não subiu). Isto foi distribuído para o mundo todo, afetando mais os mais ricos e os que aceitaram riscos maiores. O BC Europeu foi obrigado a socorrer seus bancos (afetados pela crise de liquidez). Obs: Greenspan ficou no Fed de 1987 ao início de 2006, quando assumiu Ben Bernanke.
Baseado em texto de MAG 23/12/2007 e outras publicações do blog.  

AS CURVA DE JUROS DE:
a) do dia  11/02/2017 (descendente);
b) de 18/01/2016 (ascendente);
c) no dia 21/12/2016  juro com vencimento em 2017 e 2021 ainda altos;
d) no dia 0/02/2017 juro com vencimento em 2018 e 2021 curva já descendente.   


Curva de juro de 09/02/2017 já descendente. 




Curva de juro de 18/01/2016 ainda ascendente.





CURVAS DE JUROS DO DIA 09/02/2017 COM VENCIMENTO EM 2018 E 2021 (descendentes).

CURVAS DE JURO DO DIA 21/12/2016 COM VENCIMENTOS EM 2017 E 2021. 



MAG 02/2017.

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