POLÍTICA
MONETÁRIA (teoria e prática): A TAXA BÁSICA E A INFLAÇÃO (aumentos e reduções).
“Ao
longo dos anos 90, fiquei muito impressionado com a facilidade com que passamos
a influenciar, com a política monetária, a taxa de juros de longo prazo. Ficou
mais fácil cumprir a missão.” Alan Greenspan.
INTRODUÇÃO (conceitos e dados necessários
para uma análise):
1) O CONSUMO é função da segurança proporcionada pela
riqueza acumulada, pelo nível e expectativa da renda permanente (segurança no
emprego), do subconsumo, da expectativa de vida remanescente e da taxa de juro nominal de mercado
ex-ante em relação à taxa real ex-post (diferença entre a taxa
nominal ex-ante e a inflação ocorrida = taxa real ex-post);
2) WICKSELL e FISHER: Wicksell disse que um
processo inflacionário se constata quando a taxa natural de juros (neutra, de
equilíbrio) inicia uma tendência de alta. Para ele a causa dos processos
inflacionários são os juros de mercado baixos em relação ao natural (neutro ou
de equilíbrio). Fisher complementa o
raciocínio introduzindo o conceito de comparação entre os juros de mercado
(nominal, ex-ante, fruto das expectativas de inflação, efetivamente
planejado), com o juro real acontecido (real, ex-post, efetivamente
realizado. Nominal menos inflação no período). Se as expectativas de inflação são maiores do que os juros de
mercado é o pior dos mundos para o processo inflacionário. Para ele a inflação
alimenta a expectativa de que os preços continuarão a subir;
3) JURO FIXO X SELIC X ÍNDICES: o
detentor de poupança ao fazer uma aplicação financeira tem de escolher entre:
a) juro fixo nominal; b) juro nominal mais um índice de correção; c) um
percentual do CDI ou da Selic diária. Ao fazer a escolha o poupador (consciente
ou inconscientemente) está comparando o juro obtido (efetivamente pactuado) com
a inflação prevista (planejada) e com a evolução das taxas de juros. Um título
corrigido por CDI, Selic ou índice, é como comprar um seguro contra a inflação
futura e movimentos (evolução) das taxas de juros. Um título com taxa pré, fixa,
corre o risco das taxas de mercado subirem, neste caso o valor de mercado do
mesmo ficará abaixo do nominal - de face - (o inverso é verdadeiro, queda nas
taxas fixas fazem o valor de mercado do título ficar acima do de face, o
nominal);
4) CAUSAS E EFEITOS: definir a causa primeira e principal (entre
várias) de um fenômeno econômico exige conhecimentos da conjuntura (passada,
presente e prospectiva - expectativas) é complexo, mas fundamental em análises
racionais e consistentes. Confundir causa com efeito (e não saber definir período
entre ação e efeito) é erro imperdoável em análise econômica, mas frequente
(todo efeito passa a ser uma causa de acontecimento futuro);
5) AMBIENTE: da mesma maneira que em engenharia é
necessário estudar o ambiente (solo, ventos, sol), em economia também o é
(abaixo descrevemos algumas condições). A política monetária dos EUA (emite a
moeda meio de pagamento, unidade de medida e reserva mundial) tem que considerar o ambiente
doméstico e o externo (o fluxo, os estoques e a absorção do dólar no mundo). O
Brasil por não emitir moeda reserva mundial, tem que considerar em sua política
monetária a relação velocidade de crescimento da oferta e da demanda (evitar déficits
externos e crises cambiais). Deve-se considerar também nas políticas monetárias
a conjuntura do momento e a prospectiva, se com inflação ascendente ou
descendente, se após uma administração considerada irresponsável ou austera
(responsável). As análises em política
monetária devem considerar o ambiente (interno e externo):
a) se o país é emissor ou não de moeda
reserva mundial;
b) o percentual da carga tributária e da
dívida pública em relação ao PIB. Carga tributária e dívida pública baixas
facilitam o combate ao processo inflacionário;
c) a política fiscal (superávit ou déficit
primário). Superávit primário aumenta a credibilidade (juros menores) e a
previsibilidade;
d) a dívida externa (relação com PIB, com as
reservas e com o saldo em transações correntes);
e) o saldo em transações correntes;
f) o saldo do balanço comercial;
g) a taxa de câmbio (administrada ou
flutuante – de mercado).
6) AS VARIÁVEIS controláveis (a taxa básica), as influenciadas
(expectativa de inflação e juros futuros), as dependentes, as independentes, as
de mercado, internas, externas e naturais;
7) NAICU (Non-Accelerating Inflation Capacity of
Utilization); Taxa de utilização da capacidade instalada que não acelera a
inflação;
8) NUCI : NÍVEL DE UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA;
9) PIB POTENCIAL, CAPACIDADE DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA (estrangulamentos);
10) HIATO DO PRODUTO, diferença entre o PIB
potencial e o efetivo;
11) TEORIA QUANTITATIVA
DA MOEDA E EQUAÇÕES QUANTITATIVAS: as equações quantitativas são
expressões matemáticas da teoria. Como todo modelo econômico é uma
representação simplificada da realidade e como tal deve ser entendido. É um
reducionismo. A teoria quantitativa é ampla e desenvolveu-se (e desenvolve-se)
no tempo, não tendo as limitações das equações quantitativas. A
quantidade de moeda pode ser medida como a seguir:
M0 = Base Monetária =
Moeda corrente + Reservas;
M1 = Meio de
Pagamento = Oferta Monetária = Moeda Corrente + Dep. a Vista;
M2 = M1 + dep.
investimentos + poupança;
M3 = M2 + fundos
investimentos + operações compromissadas;
M4 = M3 + títulos
federais Selic.
A teoria absorveu o estudo de
inúmeras variáveis e seus efeitos no cp e no LP, no primeiro momento e nos
sequenciais (o processo econômico, a evolução dinâmica). Conceitos como a curva
de juros e sua evolução no tempo, a taxa básica e seus efeitos na parte curta e
na longa da curva, no primeiro e no segundo momentos, nos preços de consumo e
nos dos ativos financeiros e reais. A criação de moeda fiduciária, a quase
moeda, as crises (bolhas e seus furos), as expectativas (positivas, negativas),
o Banco Central, a liquidez, a política monetária, etc. A quantidade de moeda
deve ser considerada, para fins de estudo da inflação, incluindo todo ativo (ou
bem) com liquidez abaixo de 30 dias. A TQM só pode ser considerada insuficiente
para explicar a inflação se considerada parada no tempo, sem as evoluções do conhecimento;
12)
EQUILÍBRIO
EM MOVIMENTO:
como a economia é um processo em movimento as causa e os efeitos estão sempre
acontecendo e influenciando as expectativas, que são ao mesmo tempo efeito da
conjuntura passada e presente e causa (variável influenciável) da conjuntura futura.
Alarmar os agentes econômicos é mais
fácil do que torná-los otimistas e racionais (o conceito de equilíbrio presume
o desequilíbrio). Expectativas racionais de mercado
influenciam possíveis cenários econômicos, previsíveis pela teoria, mas que sofrem
influências emocionais e do poder político. Confiança nas instituições e nas
autoridades aumentam a segurança e a previsibilidade influenciando
positivamente as expectativas e o ambiente de negócios (maior a segurança menor
a taxa de juro). Um governo (e equipe econômica) considerado sério e
responsável reduz a necessidade de taxa básica e o tempo entre ação e efeitos.
A Política Monetária
(executada pelo BC) deve ser harmônica com a Política Fiscal (executada pelo
executivo), pois uma complementa a outra:
a) estando a economia em
depressão (queda de preços – deflação - e redução das atividades econômicas) é
recomendável que o executivo aumente os Gastos Públicos e o BC reduza a Taxa
Básica de Juro (um pouco abaixo da de equilíbrio) e não permita que a liquidez nem
os empréstimos caiam (não ocorra empoçamento da liquidez);
b) estando a economia com
inflação ascendente (mesmo com recessão) é recomendável que o BC aumente a Taxa
Básica de Juro para um nível um pouco acima da taxa de equilíbrio (no Brasil o
DI 360. A menor possível) para reverter o processo;
c) países em desenvolvimento,
onde a infraestrutura e os serviços básicos são deficientes, é aceitável, como
medida benéfica, que antecipa o bem estar da população, um déficit público até o
nível do crescimento do PIB;
13) A TAXA BÁSICA: como a taxa básica
influencia os agentes econômicos (como ocorre a transmissão)? Em primeiro lugar
influencia os agentes que têm renda mensal superior ao consumo (trabalhadores,
autônomos e outros) e os que têm poupança. Se negativa (ou positiva) influencia
a decisão entre consumir imediatamente ou postergar, fazer aplicações
financeiras ou refugiar-se em ativos que não a moeda pátria (dólar, ouro,
ações, imóveis). Taxas básicas negativas (ib – IR – IPCA) provocam insegurança
e fuga para ativos que não moeda (formação de bolhas). A taxa básica atua
também harmonizando a oferta e a demanda e a quantidade de moeda (as aplicações
no BC reduzem a liquidez, é uma extensão da TQM). A taxa básica positiva passa a percepção de aumento de renda dos agentes,
podendo aumentar a segurança e influenciar o consumo. Neste caso as atividades
não caem (não conheço nenhum caso real).
Considerando
as observações iniciais podemos analisar o efeito da taxa básica nos EUA e no
Brasil. Vou considerar a política monetária gradualista (a mais praticada);
14) OS AUMENTOS DA TAXA BÁSICA PROVOCAM
REDUÇÃO OU AUMENTO DA INFLAÇÃO?
NO BRASIL: com uma conjuntura com
inflação ascendente a taxa básica real negativa (ou abaixo da natural de
equilíbrio) provocará aumento do processo inflacionário. A redução da mesma
apressará o processo inflacionário para a hiperinflação (e a seguir a
estagflação). Com uma conjuntura com inflação descendente as taxas de juros
nominais de mercado de LP caem (acompanhando as expectativas de queda da
inflação). A curva de juros nominais de mercado fica descendente. A taxa básica
deverá ser reduzida até 0,5% abaixo da taxa natural (no Brasil o DI 360). A
afirmação de que o aumento da taxa básica provoca aumento da inflação é um erro
de análise que confunde causa e efeito. Se a taxa básica está abaixo da neutra
(natural ou de equilíbrio) e a inflação está ascendente, os aumentos da mesma
no sistema gradualista (tempo entre os aumentos e o efeito de no mínimo nove
meses) ocorrerão concomitantes - aumento da taxa básica e da inflação. Quando
os aumentos da taxa básica começam a surtir os efeitos, inclusive na inflação,
revertendo o processo inflacionário para descendente, as reduções da taxa
básica também ocorrem concomitantemente com a queda da inflação. A curva da
inflação, assim como a curva dos juros nominais de mercado, iniciam a reversão
de ascendente para descendente. O
argumento de que a taxa básica atua como um sinalizador da inflação futura só
tem validade quando ela é fixada com consistência com a realidade – inflação já
ascendente e autoridade com credibilidade. Reduzir a taxa básica com inflação
ascendente é certeza de hiperinflação (absurdo demagógico);
NOS EUA - A CRISE AMERICANA (SUBPRIME): O FEDERAL RESERVE (Fed
- autoridade monetária americana) fixou a taxa básica, Fed Funds,
excessivamente expansionista (diferença Fed Fund x T Note 5 e 2 anos) por tempo
demasiado (2002 a 2005). Apesar disto a inflação doméstica não subiu, pois o
mundo absorveu o excesso de dólares (não aconteceu excesso de monetização
interna). O aumento do consumo foi satisfeito por aumentos das importações (os
preços não subiram). Mas o excesso de dólares no mundo provocou a inflação de
demanda mundial das commodities (a China os tigres asiáticos e alguns países em
desenvolvimento seguraram a inflação de industrializados por algum tempo. Como
não era possível importar moradias e as taxas de juros estavam muito baixas, os
preços dos imóveis subiram acima da inflação (a bolha se formou aí). Quando o
FED subiu a taxa básica elevando-a até 5,25%, em excesso e por tempo demasiado, 06/2006 a 08/2007, a bolha furou rapidamente (o que
já estava acontecendo, sabido por experta do mercado, que tentaram desovar nos agentes
menos avisados os títulos podres). Aparentemente a básica deveria ter ido
apenas até 4% e por tempo menor. Os efeitos se fizeram sentir nos preços dos
imóveis que subiram muito mais do que a inflação (a taxa básica baixa, 2002 a 2005, provocou fuga da
moeda que não conseguia cumprir sua função de reserva de valor, a bolha se
formou em imóveis e outros ativos). Some-se a isto o efeito do aumento das
taxas de juros nas prestações dos imóveis (a renda dos americanos não subiu). Foi
uma crise de solvência que alastrou-se e transformou-se em de liquidez (isto
foi distribuído para o mundo todo, afetando mais os mais ricos e os que
aceitaram riscos maiores). Os preços das commodities caíram com a crise e
ajudou no controle da inflação. O FED foi obrigado a reduzir a taxa de
redesconto e a básica (zero) para evitar um risco sistêmico mundial (teve que
salvar o sistema bancário). Teve também que dar liquidez a títulos de LP (QE –
quantitative easing) a juros baixos para evitar aumentos nos juros de LP e
queda de empréstimos e liquidez. O BC Europeu foi obrigado a socorrer seus
bancos (afetados pela crise de liquidez). Obs: Greenspan ficou no Fed de 1987
ao início de 2006, quando assumiu Ben Bernanke.
COMMODITIES - PREÇOS
US$.
DATAS
|
Fed
funds
|
OURO
|
PETR.
Brent.
|
Milho
|
Café
|
Soja
|
Suco
Laran.
|
Açucar
|
Trigo
|
2002
|
1,25%
|
348,2
|
28,66
|
235,75
|
60,2
|
569,5
|
91,75
|
7,61
|
325,0
|
2003
|
1,00
|
416,1
|
30,17
|
246,0
|
64,95
|
789,0
|
60,75
|
5,67
|
377,0
|
2004
|
2,25
|
438,4
|
40,46
|
204,75
|
103,75
|
547,75
|
86,1
|
9,04
|
307,5
|
2005
|
4,25
|
518,9
|
58,98
|
215,75
|
107,1
|
602,0
|
125,2
|
14,68
|
339,3
|
2006
|
5,25
|
638,0
|
60,86
|
390
|
126
|
683,5
|
201,3
|
11,75
|
501,0
|
2007
|
4,25
|
838,0
|
93,85
|
455,5
|
136,2
|
1199
|
143,6
|
10,82
|
885,0
|
2008
|
0,25
|
884,3
|
45,59
|
407,0
|
112,05
|
972,25
|
68,55
|
11,81
|
610,8
|
2009
|
0,25
|
1096,2
|
77,93
|
414,5
|
135,95
|
1039,8
|
124,0
|
26,95
|
541,5
|
2010
|
0,25
|
1421,4
|
94,75
|
629,0
|
240,5
|
1393,8
|
172,35
|
32,12
|
794,3
|
2011
|
0,25
|
1566,8
|
107,38
|
646,5
|
226,85
|
1198,5
|
169,0
|
23,30
|
652,75
|
2012
|
0,25
|
1675,8
|
111,11
|
698,25
|
143,80
|
1418,7
|
116,05
|
19,51
|
778,0
|
2013
|
0,25
|
1202,3
|
110,80
|
422,00
|
110,70
|
1312,5
|
136,45
|
16,41
|
605,25
|
2014
|
0,25
|
1184,10
|
57,33
|
397,00
|
166,60
|
1019,25
|
140,25
|
14,52
|
589,75
|
2015
|
0,25
|
1065,20
|
37,28
|
358,75
|
126,70
|
871,25
|
140,00
|
15,24
|
470,00
|
% ano
|
x
|
-10,46
|
-34,97
|
-9,63
|
-23,95
|
-14,52
|
-0,04
|
4,96
|
-20,31
|
% 12 meses
|
x
|
-10,46
|
-34,97
|
-9,63
|
-23,95
|
-14,52
|
-0,04
|
4,96
|
-20,31
|
15) A RELAÇÃO
TAXA BÁSICA E JURO NOMINAL DE MERCADO: se o BC fixar uma taxa básica abaixo
da adequada (com inflação ascendente) as expectativas de inflação aumentam e
também os juros de mercado de LP (a curva de juros fica ascendente acompanhando
a curva da inflação). O BC só conseguirá vender seus títulos atrelados a ela
com deságios (o inverso é verdadeiro).
MAG - 04/02/217
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