EXPECTATIVAS, JUROS, CÂMBIO, EX-ANTE
E EX-POST. 06/2009.
Este texto foi escrito considerando uma economia como a brasileira, que não emite moeda conversível considerada como meio de pagamento (ou reserva de valor) internacional, mas é utilizada internamente (pelos nacionais e estrangeiros) como reserva de valor (mantém a função de reserva de valor com política monetária responsável), diferente dos países que emitem moeda conversível e dos que não conseguem ter a função de reserva de valor para suas moedas.
SITUAÇÕES DIFERENTES DE PAÍSES (que têm impacto sobre a política monetária, cambial, externa e fiscal):
PAÍS
|
DÍVIDA/PIB
%
|
CARGA
TRIB./PIB %
|
A
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20%
|
20%
|
B
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50%
|
30%
|
C
|
100%
|
40%
|
D
|
200%
|
45%
|
A teoria econômica
estuda causas, efeitos, tendências e o comportamento dos agentes e das
variáveis econômicas, no tempo (a dinâmica, a evolução, o processo) e no
ambiente (o país, o mundo, etc.). Apesar de basear-se em dados e fatos, de
utilizar a matemática e a estatística como ferramentas, tem que considerar em
seus estudos:
a) o tempo entre a ação (causa) e o efeito (início e
duração);
b) as variáveis mais significativas (o
máximo possível);
c) o ambiente
(executivo, legislativo, judiciário, legislação, crenças e valores, etc.);
d) a conjuntura local
e mundial;
e) os agentes econômicos e políticos;
f) as expectativas
dos agentes.
O EQUILÍBRIO GERAL DA ECONOMIA (moeda, harmonia entre velocidades da procura e oferta), dos preços
relativos (grupos de interesses), o crescimento sustentado, a melhoria da
distribuição da renda e da qualidade de vida, a busca do maior nível de emprego
sustentado possível e a estabilidade monetária, são objetivos das autoridades
econômicas e governamentais. As crises econômicas provocadas por políticas
monetárias incompatíveis com as fiscais, sempre começam com formação de bolhas nos
preços de ativos que não moeda (imóveis, bolsas, dólar etc.). A origem das
bolhas é a busca de proteção pelos agentes contra a desvalorização da moeda que
deixa de cumprir sua função de reserva de valor (a desvalorização da moeda ser
maior do que as taxas nominais de juros). Por ter que contemplar em seus
estudos as ações dos governos e das pessoas (grupos com os mesmos interesses),
a economia é considerada uma ciência social-política. Toda a sua lógica
baseia-se no estudo do equilíbrio das forças econômicas (variáveis, agentes,
mercados). A ideia de equilíbrio presume o desequilíbrio, as leis econômicas
são dinâmicas (sempre um processo em andamento), são causais e condicionais
(como todas as leis, requisitos são condições necessárias). Menor volatilidade
(economia mais equilibrada) é igual a maior previsibilidade, facilita o
planejamento e encorajam os investimentos, o crescimento é sustentável. Maior
volatilidade, menor a previsibilidade (desencoraja os investimentos). Alarmar
os agentes econômicos é mais fácil do que torná-los otimistas e racionais.
Expectativas racionais (previsíveis pela teoria econômica) e expectativas de
mercado (sofrem influências emocionais, psicológicas e de confiança nas
autoridades) influenciam possíveis cenários econômicos. Expectativas do
mercado: positivas, negativas, neutras, racionais, emocionais, crise de
confiança.
EXPECTATIVAS: ex-ante, efetivamente planejadas,
significa que negócios foram feitos e valores foram colocados em jogo. Ex-post,
efetivamente realizado, é a verificação, passado o tempo, com o ex-ante (o
efetivamente planejado com o efetivamente realizado).
Exemplo: um agente
econômico ao fazer uma aplicação financeira pode escolher entre:
a) taxa pré
fixa de juro;
b) taxa pré fixa de
juro, menor, mais variação cambial;
c) taxa pré fixa de
juro, menor, mais índice de inflação;
d) um % dos CDI.
Se escolher uma taxa
pré fixa de juro pura, logicamente estará prevendo uma inflação ou variação
cambial x ou y (menor que a taxa pré).
EX-ANTE: Ao fazer uma
aplicação por dois anos à taxa pré fixa nominal de 12% a.a. estará prevendo uma
inflação menor do que o percentual pactuado. Se escolher uma taxa pré fixa de
6% mais IGPM, IPCA ou Var. Cambial, estará considerando a taxa escolhida como
real (livre da inflação ou da Var. Cambial). Se escolher um % do CDI estará
preferindo acompanhar a curva da taxa básica (Selic). Nas economias mais
avançadas (sofisticadas) existe um mercado (bolsa) de negociação de títulos
públicos e privados. As taxas pactuadas no dia a dia (na bolsa) formam a curva
das taxas de juros nominais de mercado. No Brasil as taxas dos títulos públicos
e privados são próximas. Se o governo passar a ser desacreditado (declarações
políticas demagógicas) pelo mercado as taxas sobem (os agentes amedrontados
fogem dos títulos públicos). Nos USA as taxas de juros dos títulos públicos
(T-Notes, T-Bill) são menores do que as dos títulos privados (Prime, Libor).
Por ser o dólar a moeda reserva mundial (existe estoque de poupanças em dólar
dentro e fora dos USA).
EX-POST: é quando
passados os dois anos da aplicação o agente faz as contas, 12% a.a. com a
inflação ocorrida e compara com as outras taxas não escolhidas (6% a.a. mais
inflação ou x% do CDI).
Inúmeras causas
afetam as expectativas quanto às taxas de juros e de câmbio, sendo que algumas
podem ser listadas (mas fatos novos sempre poderão acontecer).
Uma
série de taxas mensais reais de juros ex-post negativas ou menor do que a
ex-ante é o pior dos mundos para o controle da inflação.
EXPECTATIVAS QUANTO
AOS JUROS:
a) a taxa básica
fixada abaixo da taxa de juro de mercado mais negociada acima de um ano (em
geral semelhante à taxa neutra) aumenta as expectativas de inflação (e das
atividades) e faz subir as taxas longas (a curva fica positivamente mais
inclinada). Em cenário recessivo (insegurança institucional passada por autoridades
governamentais incompetentes ou irresponsáveis e demagógicas) os juros de LP
podem não subir por falta de demanda;
b) a taxa básica
fixada acima da taxa de juro de mercado mais negociada acima de um ano reduz as
expectativas de inflação (e atividades) e pode fazer cair as taxas longas de
juros (a curva reduz a inclinação positiva);
c) a monetização da
economia, em um primeiro momento, reduz os juros, mas no momento seguinte, as
expectativas de inflação fazem subir as taxas longas;
d) os juros futuros
nominais sobem quando as expectativas dos agentes sentem cheiro de inflação
(neste caso sobem os juros nominais, os reais podem não subir no curto prazo,
mas sobem no médio ou longo);
e) os juros futuros
sobem quando o ambiente (e expectativas) está mudando de recessivo para de
crescimento. Neste caso os juros reais que haviam caído começam a subir devido
ao aumento da procura por financiamentos (mesmo que as expectativas de inflação
sejam baixas). O inverso também pode acontecer;
f) o aumento de
entrada de moeda estrangeira (fluxo), com a consequente troca por moeda
interna, monetiza a economia obrigando o BC a recolher o excesso (em um
primeiro momento pode fazer as taxas de juros caírem e a moeda nacional
valorizar);
g) o aumento do
déficit ou do gasto público pode aumentar as taxas internas de juros;
h) a insegurança
passada por declarações demagógicas ou incompetentes por parte de autoridades políticas
ou governamentais aumenta as taxas de juros;
i) a possibilidade de
vitória em eleição de candidato ignorante ou demagogo aumenta as taxas de
juros;
j) uma taxa básica
alta, mas inferior à necessária, é semelhante a uma dose insuficiente de antibiótico,
pode fazer mais mal do que bem. Uma taxa superior à necessária também postecipa
a demanda agregada e as atividades;
k) em geral os
agentes econômicos se refugiam no dólar (ou outro ativo de liquidez rápida) quando
percebem que a política monetária é considerada excessivamente expansionista ou
demagógicas (normalmente antes das eleições);
l) se o BC fixar uma
taxa básica abaixo da adequada só conseguirá vender seus títulos corrigidos por
Selic com deságio. Exemplo: só conseguirá vender um título de R$ 1.000,00
corrigido por Selic com deságio (valor menor do que 1.000). Os prazos tenderão a ser mais curtos. Se a
Selic for fixada acima da adequada os títulos conseguirão ser vendidos com ágio
(um título de 1.000 será vendido por 1.000 + ágio). Os prazos tenderão a ser mais longos.
EXPECTATIVAS QUANTO
AO CÂMBIO:
O preço (relação
cambial) da mercadoria moeda é função dos movimentos do mercado (ofertas de
compra e de venda). Podemos dizer que é função das expectativas (= visão de
futuro, cenários positivos, negativos, neutros, racionais, emocionais) dos
agentes. Estas se formam baseadas em:
a) credibilidade das
autoridades monetárias ou políticas, segurança (sempre em primeiro lugar),
volatilidade e previsibilidade;
b) balanço comercial
(o brasileiro muito influenciado pelos preços das commodities e taxa básica);
c) fluxo cambial
comercial e financeiro (visão de futuro);
d) saldo em
transações correntes (visão de futuro);
e) estoques de
dólares no mercado interno e externo;
f) movimento de
capitais (visão de futuro);
g) reservas cambiais
(visão de futuro);
h) As apostas
(derivativos, posições vendidas ou compradas) dos bancos, se em volume superior
ao que recomenda a prudência, podem influenciar a taxa de câmbio por um período
curto (volatilidade). Apostas imprudentes são estimuladas por atuações
indevidas dos BCs no câmbio futuro (a atuação previsível do BC entrando salvando
prejuízo estimula as imprudências dos bancos);
i) às expectativas de
inflação de cada moeda (à política monetária prudente ou imprudente,
expansionista ou contracionista).
TENTANDO PREVER
CÂMBIO
A taxa de câmbio é
resultado de expectativas e estas se formam baseadas em dados e fatos (e
conhecimentos acumulados), que podemos listar como:
1) Ambiente interno:
a) SEGURANÇA (do
ambiente, do país), sempre em primeiro lugar, volatilidade, previsibilidade;
b) POLÍTICA CAMBIAL (FLUTUANTE OU FIXO);
c) ESTOQUES DE DÓLARES, com agentes (bancos,
exportadores, outros), com BC (reservas);
d) APOSTAS (derivativos, swaps) NO MERCADO FUTURO (quem
está vendido, quem está comprado, volumes);
e) DEMANDA (a demanda para compras de dólares é maior
do que a oferta?);
f) TENDÊNCIA DO BALANÇO COMERCIAL (das
exportações, das importações). O balanço comercial brasileiro é muito
influenciado pelos preços das commodities e juro básico;
g) TENDÊNCIA DAS TRANSAÇÕES CORRENTES DO BAL. DE
PAGAMENTOS;
h) TENDÊNCIA DA CONTA CAPITAL DO BAL. DE PAGAMENTOS;
i) FLUXO CAMBIAL (comercial e financeiro);
j) POLÍTICA MONETÁRIA E FISCAL, se
expansionistas (aumenta importações e reduz exportações) ou contracionista
(reduz importações podendo aumentar exportações);
k) Diferencial entre taxa de juro interna e externa;
l) Nível em que está a relação de trocas
entre moedas. Real está considerado valorizado ou desvalorizado. Se está
considerado valorizado reduz a atração, se considerado desvalorizado aumenta a
atração;
m) Expectativas políticas (o quadro passa segurança ou
insegurança).
2) Ambiente externo:
a) Política monetária e fiscal dos
USA;
b) Liquidez mundial de dólares;
c) Situação de outros países
concorrentes;
d) Crise, aumenta a atração para o
dólar, a moeda reserva mundial.
No Brasil a política monetária tem como função perseguir a meta da
inflação. Acredito que deveria ter também como meta impedir que as taxas de
juros de mercado de longo prazo subissem acima do aceitável.
Marco Aurélio Garcia, BH. 06/2009.