quinta-feira, 30 de maio de 2019

EXPECTATIVAS, JUROS, CÂMBIO, EX-ANTE E EX-POST. 06/2009.


EXPECTATIVAS, JUROS, CÂMBIO, EX-ANTE E EX-POST. 06/2009.


Este texto foi escrito considerando uma economia como a brasileira, que não emite moeda conversível considerada como meio de pagamento (ou reserva de valor) internacional, mas é utilizada internamente (pelos nacionais e estrangeiros) como reserva de valor (mantém a função de reserva de valor com política monetária responsável), diferente dos países que emitem moeda conversível e dos que não conseguem ter a função de reserva de valor para suas moedas. 

SITUAÇÕES DIFERENTES DE PAÍSES (que têm impacto sobre a política monetária, cambial, externa e fiscal):


PAÍS
DÍVIDA/PIB %
CARGA TRIB./PIB %
A
20%
20%
B
50%
30%
C
100%
40%
D
200%
45%

A teoria econômica estuda causas, efeitos, tendências e o comportamento dos agentes e das variáveis econômicas, no tempo (a dinâmica, a evolução, o processo) e no ambiente (o país, o mundo, etc.). Apesar de basear-se em dados e fatos, de utilizar a matemática e a estatística como ferramentas, tem que considerar em seus estudos:
a) o tempo entre a ação (causa) e o efeito (início e duração);
b) as variáveis mais significativas (o máximo possível);
c) o ambiente (executivo, legislativo, judiciário, legislação, crenças e valores, etc.);
d) a conjuntura local e mundial;
e) os agentes econômicos e políticos;
f) as expectativas dos agentes.

O EQUILÍBRIO GERAL DA ECONOMIA (moeda, harmonia entre velocidades da procura e oferta), dos preços relativos (grupos de interesses), o crescimento sustentado, a melhoria da distribuição da renda e da qualidade de vida, a busca do maior nível de emprego sustentado possível e a estabilidade monetária, são objetivos das autoridades econômicas e governamentais. As crises econômicas provocadas por políticas monetárias incompatíveis com as fiscais, sempre começam com formação de bolhas nos preços de ativos que não moeda (imóveis, bolsas, dólar etc.). A origem das bolhas é a busca de proteção pelos agentes contra a desvalorização da moeda que deixa de cumprir sua função de reserva de valor (a desvalorização da moeda ser maior do que as taxas nominais de juros). Por ter que contemplar em seus estudos as ações dos governos e das pessoas (grupos com os mesmos interesses), a economia é considerada uma ciência social-política. Toda a sua lógica baseia-se no estudo do equilíbrio das forças econômicas (variáveis, agentes, mercados). A ideia de equilíbrio presume o desequilíbrio, as leis econômicas são dinâmicas (sempre um processo em andamento), são causais e condicionais (como todas as leis, requisitos são condições necessárias). Menor volatilidade (economia mais equilibrada) é igual a maior previsibilidade, facilita o planejamento e encorajam os investimentos, o crescimento é sustentável. Maior volatilidade, menor a previsibilidade (desencoraja os investimentos). Alarmar os agentes econômicos é mais fácil do que torná-los otimistas e racionais. Expectativas racionais (previsíveis pela teoria econômica) e expectativas de mercado (sofrem influências emocionais, psicológicas e de confiança nas autoridades) influenciam possíveis cenários econômicos. Expectativas do mercado: positivas, negativas, neutras, racionais, emocionais, crise de confiança.

EXPECTATIVAS: ex-ante, efetivamente planejadas, significa que negócios foram feitos e valores foram colocados em jogo. Ex-post, efetivamente realizado, é a verificação, passado o tempo, com o ex-ante (o efetivamente planejado com o efetivamente realizado).  
Exemplo: um agente econômico ao fazer uma aplicação financeira pode escolher entre: 
a) taxa pré fixa de juro;
b) taxa pré fixa de juro, menor, mais variação cambial;
c) taxa pré fixa de juro, menor, mais índice de inflação;
d) um % dos CDI.
Se escolher uma taxa pré fixa de juro pura, logicamente estará prevendo uma inflação ou variação cambial x ou y (menor que a taxa pré). 

EX-ANTE: Ao fazer uma aplicação por dois anos à taxa pré fixa nominal de 12% a.a. estará prevendo uma inflação menor do que o percentual pactuado. Se escolher uma taxa pré fixa de 6% mais IGPM, IPCA ou Var. Cambial, estará considerando a taxa escolhida como real (livre da inflação ou da Var. Cambial). Se escolher um % do CDI estará preferindo acompanhar a curva da taxa básica (Selic). Nas economias mais avançadas (sofisticadas) existe um mercado (bolsa) de negociação de títulos públicos e privados. As taxas pactuadas no dia a dia (na bolsa) formam a curva das taxas de juros nominais de mercado. No Brasil as taxas dos títulos públicos e privados são próximas. Se o governo passar a ser desacreditado (declarações políticas demagógicas) pelo mercado as taxas sobem (os agentes amedrontados fogem dos títulos públicos). Nos USA as taxas de juros dos títulos públicos (T-Notes, T-Bill) são menores do que as dos títulos privados (Prime, Libor). Por ser o dólar a moeda reserva mundial (existe estoque de poupanças em dólar dentro e fora dos USA). 

EX-POST: é quando passados os dois anos da aplicação o agente faz as contas, 12% a.a. com a inflação ocorrida e compara com as outras taxas não escolhidas (6% a.a. mais inflação ou x% do CDI).
Inúmeras causas afetam as expectativas quanto às taxas de juros e de câmbio, sendo que algumas podem ser listadas (mas fatos novos sempre poderão acontecer).
Uma série de taxas mensais reais de juros ex-post negativas ou menor do que a ex-ante é o pior dos mundos para o controle da inflação.

EXPECTATIVAS QUANTO AOS JUROS:
a) a taxa básica fixada abaixo da taxa de juro de mercado mais negociada acima de um ano (em geral semelhante à taxa neutra) aumenta as expectativas de inflação (e das atividades) e faz subir as taxas longas (a curva fica positivamente mais inclinada). Em cenário recessivo (insegurança institucional passada por autoridades governamentais incompetentes ou irresponsáveis e demagógicas) os juros de LP podem não subir por falta de demanda;
b) a taxa básica fixada acima da taxa de juro de mercado mais negociada acima de um ano reduz as expectativas de inflação (e atividades) e pode fazer cair as taxas longas de juros (a curva reduz a inclinação positiva);
c) a monetização da economia, em um primeiro momento, reduz os juros, mas no momento seguinte, as expectativas de inflação fazem subir as taxas longas;
d) os juros futuros nominais sobem quando as expectativas dos agentes sentem cheiro de inflação (neste caso sobem os juros nominais, os reais podem não subir no curto prazo, mas sobem no médio ou longo);
e) os juros futuros sobem quando o ambiente (e expectativas) está mudando de recessivo para de crescimento. Neste caso os juros reais que haviam caído começam a subir devido ao aumento da procura por financiamentos (mesmo que as expectativas de inflação sejam baixas). O inverso também pode acontecer;  
f) o aumento de entrada de moeda estrangeira (fluxo), com a consequente troca por moeda interna, monetiza a economia obrigando o BC a recolher o excesso (em um primeiro momento pode fazer as taxas de juros caírem e a moeda nacional valorizar);
g) o aumento do déficit ou do gasto público pode aumentar as taxas internas de juros;
h) a insegurança passada por declarações demagógicas ou incompetentes por parte de autoridades políticas ou governamentais aumenta as taxas de juros;
i) a possibilidade de vitória em eleição de candidato ignorante ou demagogo aumenta as taxas de juros;
j) uma taxa básica alta, mas inferior à necessária, é semelhante a uma dose insuficiente de antibiótico, pode fazer mais mal do que bem. Uma taxa superior à necessária também postecipa a demanda agregada e as atividades;
k) em geral os agentes econômicos se refugiam no dólar (ou outro ativo de liquidez rápida) quando percebem que a política monetária é considerada excessivamente expansionista ou demagógicas (normalmente antes das eleições);
l) se o BC fixar uma taxa básica abaixo da adequada só conseguirá vender seus títulos corrigidos por Selic com deságio. Exemplo: só conseguirá vender um título de R$ 1.000,00 corrigido por Selic com deságio (valor menor do que 1.000).  Os prazos tenderão a ser mais curtos. Se a Selic for fixada acima da adequada os títulos conseguirão ser vendidos com ágio (um título de 1.000 será vendido por 1.000 + ágio).  Os prazos tenderão a ser mais longos.
  
EXPECTATIVAS QUANTO AO CÂMBIO:
O preço (relação cambial) da mercadoria moeda é função dos movimentos do mercado (ofertas de compra e de venda). Podemos dizer que é função das expectativas (= visão de futuro, cenários positivos, negativos, neutros, racionais, emocionais) dos agentes. Estas se formam baseadas em:
a) credibilidade das autoridades monetárias ou políticas, segurança (sempre em primeiro lugar), volatilidade e previsibilidade;
b) balanço comercial (o brasileiro muito influenciado pelos preços das commodities e taxa básica);
c) fluxo cambial comercial e financeiro (visão de futuro);
d) saldo em transações correntes (visão de futuro);
e) estoques de dólares no mercado interno e externo;
f) movimento de capitais (visão de futuro);
g) reservas cambiais (visão de futuro);
h) As apostas (derivativos, posições vendidas ou compradas) dos bancos, se em volume superior ao que recomenda a prudência, podem influenciar a taxa de câmbio por um período curto (volatilidade). Apostas imprudentes são estimuladas por atuações indevidas dos BCs no câmbio futuro (a atuação previsível do BC entrando salvando prejuízo estimula as imprudências dos bancos);
i) às expectativas de inflação de cada moeda (à política monetária prudente ou imprudente, expansionista ou contracionista).   

TENTANDO PREVER CÂMBIO
A taxa de câmbio é resultado de expectativas e estas se formam baseadas em dados e fatos (e conhecimentos acumulados), que podemos listar como:

1)  Ambiente interno:
a)   SEGURANÇA (do ambiente, do país), sempre em primeiro lugar, volatilidade, previsibilidade;
b)   POLÍTICA CAMBIAL (FLUTUANTE OU FIXO);
c)    ESTOQUES DE DÓLARES, com agentes (bancos, exportadores, outros), com BC (reservas);
d)   APOSTAS (derivativos, swaps) NO MERCADO FUTURO (quem está vendido, quem está comprado, volumes);
e)   DEMANDA (a demanda para compras de dólares é maior do que a oferta?);
f)    TENDÊNCIA DO BALANÇO COMERCIAL (das exportações, das importações). O balanço comercial brasileiro é muito influenciado pelos preços das commodities e juro básico;
g)   TENDÊNCIA DAS TRANSAÇÕES CORRENTES DO BAL. DE PAGAMENTOS;
h)   TENDÊNCIA DA CONTA CAPITAL DO BAL. DE PAGAMENTOS;
i)     FLUXO CAMBIAL (comercial e financeiro);
j)     POLÍTICA MONETÁRIA E FISCAL, se expansionistas (aumenta importações e reduz exportações) ou contracionista (reduz importações podendo aumentar exportações);
k)   Diferencial entre taxa de juro interna e externa;
l)     Nível em que está a relação de trocas entre moedas. Real está considerado valorizado ou desvalorizado. Se está considerado valorizado reduz a atração, se considerado desvalorizado aumenta a atração;
m)  Expectativas políticas (o quadro passa segurança ou insegurança).  

2)    Ambiente externo:
a)      Política monetária e fiscal dos USA;
b)      Liquidez mundial de dólares;
c)      Situação de outros países concorrentes;
d)      Crise, aumenta a atração para o dólar, a moeda reserva mundial.

No Brasil a política monetária tem como função perseguir a meta da inflação. Acredito que deveria ter também como meta impedir que as taxas de juros de mercado de longo prazo subissem acima do aceitável.  
Marco Aurélio Garcia, BH. 06/2009.


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