sexta-feira, 5 de abril de 2013

CHOQUE OU INFLAÇÃO DE OFERTA?


CHOQUE OU INFLAÇÃO DE OFERTA?

Considerando as definições:
a) inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços dos bens e serviços (o nível geral dos preços);
b) choque de oferta (indevidamente também chamada de inflação de custos ou de oferta) ocorre quando cai a quantidade de um ou mais produto (ou serviço), de significância, ocasionando aumento de seu preço, sem aumento da demanda. Este aumento de preço pode ser sazonal (quando os preços caem no futuro) ou permanente.  
Pela definição acima não podemos concordar com os termos de inflação de custos ou de oferta, pelos motivos:
a) se o choque de oferta (ou de custos) é sazonal os preços cairão mais à frente, não atendendo à definição de aumento generalizado e contínuo;
b) se é permanente ele veio para ganhar parte da renda nacional (aumento do preço relativo) não atendendo também a definição de generalizado e contínuo.  
Podemos então considerar que o aumento de preço por choque de oferta permanente não precisa ser combatido, pois ele afetará apenas o preço relativo do produto? NÃO E SIM. Se o nível geral de preço estiver controlado e não ascendente ocorrerá apenas mudanças nos preços relativos e não um processo de aumentos generalizados e contínuos. Se a conjuntura estiver com inflação ascendente (ou expectativas de) o aumento do preço do produto ou serviço irá contaminar os outros virando um processo inflacionário de controle mais difícil e custoso.
PALAVRAS DE DELFIM NETTO A RESPEITO DE INFLAÇÃO DE CUSTOS (entrevista dada ao jornal VALOR em 30/09/2005, caderno EU):
“O Dênio (Dênio Nogueira, primeiro presidente do Bacen) trouxe do governo Castelo Branco uma política monetária extremamente dura. Cheguei lá (quando assumiu o Ministério da Fazenda no governo Costa e Silva, em 1967), e começamos a INVENTAR UMA TEORIA, de que havia INFLAÇÃO DE CUSTOS, não de demanda. O Campos e o Dr. Bulhões (Roberto Campos e Otávio Gouvêa de Bulhões, ministros do planejamento e da fazenda do governo Castelo Branco) ficavam furiosos. Então, se era inflação de custos, vamos atacar custos. Claro que eu sabia que era um jogo  de palavras, porque se não tiver inflação de demanda a outra não se sustenta. Mas é permissível uma pequena manipulação." 
Resumindo: um choque de oferta ou de custos pode virar um processo inflacionário se a autoridade monetária for demagoga ou ignorante. É o caso atual: a) índice de difusão dos preços (contaminação), 75% com tendência de ir para 85%; b) vide tabelas abaixo (falam por si mesmas). Em vermelho acima da meta.

IPCA (ESTRATIFICADO) X SELIC  X DI 360. (META do IPCA 4,5% a.a, 0,36748% a.m).
MÊS
ANO
BENS
SERVIÇOS 23,35%
MONITORADOS 31,01%
IPCA
Meta 4,5%a.a
0,367485% a.m
SELIC  
DI 360
POL. MONET.
EXPANS.
CONTRAC.
NEUTRA
DURÁVEIS
peso 9,81%
SEMI DUR.
9,37%
NÃO DUR.
26,46%
MÊS
Acum.12
meses
MÊS
Acum.12
meses
MÊS
Acum.12 meses
MÊS
Acum.12
meses
MÊS
Acum.12 meses
MÊS

Acum.12 meses
DEZ./12
0,18
-3,48
0,90
4,98
1,20
8,55
0,98
8,75
0,33
3,65
0,79
5,84
7,25
7,14
CONTRAC.
JAN./13
0,86
-2,52
-0,35
4,47
2,34
10,64
0,92
8,61
-0,22
2,94
0,86
6,15
7,25
7,26
EXPANS.
FEV.
0,37
-2,03
0,54
5,26
1,41
12,22
1,30
8,66
-1,11
1,53
0,60
6,31
7,25
7,76
EXPANS.
MAR.












7,25
7,92
EXPANS.


IPCA - PREÇOS LIVRES, COMERC., NÃO COMERC., MONITORADOS
MÊS / ANO
PREÇOS LIVRES
GERAL
peso 68,99
PREÇOS LIVRES peso 68,99
MONITORADOS
peso 31,01

Comercializáveis
peso 32,81
Não Comercial.
peso 36,18
Mensal
12 meses
Mensal
12 meses
Mensal
12 meses
Mensal
12 meses
JAN./2011
0,79
7,17
0,43
6,61
1,10
7,65
0,94
3,24
DEZ./2011
0,63
6,63
0,51
4,41
0,73
8,59
0,19
6,20
JAN./2012
0,59
6,42
0,04
4,03
1,07
8,58
0,47
6,19
DEZ./2012
0,94
6,56
0,86
4,47
1,00
8,46
0,33
3,65
JAN./2013
1,20
7,20
1,03
5,54
1,35
8,69
-0,22
2,94
FEV./13
1,13
7,86
0,63
6,43
1,58
9,13
-1,11
1,53


IGPM - IPAM - IPCM -  IPA M (Ind. e Agric.)
DATA
IGPM
IPAM
IPCM
IPA DI até 12/08. Após M
Mês
12
meses
Mês
12
meses
Mês
12
meses
Prod. Ind.
Prod. Agric.
Mês
12 meses
Mês
12
meses
JAN./2012
0,25
4,53
-0,07
3,48
0,97
6,05
-0,49
3,67
1,10
2,98
DEZ./2012
0,68
7,82
0,73
8,63
0,73
5,79
0,46
5,03
1,40
18,80
JAN./2013
0,34
7,91
0,11
8,83
0,98
5,81
0,10
5,97
-0,62
16,78
FEV.
0,29
8,29
0,21
9,34
0,30
5,83
0,82
7,11
-1,31
15,59
MAR.
0,21
8,06
0,01
8,90
0,72
6,08
0,30
7,19
-0,70
13,67

MAG 04/2013.

domingo, 24 de março de 2013

ALGUNS CONCEITOS ECONÔMICOS (“economês”).

ALGUNS CONCEITOS ECONÔMICOS (“economês”).

1) NAIRU (Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment); TAXA DE DESEMPREGO QUE NÃO ACELERA A INFLAÇÃO.
2) NAICU (Non-Accelerating Inflation Rate of Capacity Utilization); Taxa de utilização da capacidade instalada que não acelera a inflação.
3) NUCI: NÍVEL DE UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA
4) PIB POTENCIAL, CAPACIDADE DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA.
5) HIATO DO PRODUTO, diferença entre o PIB potencial e o efetivo.
6) HIATO INFLACIONÁRIO demanda agregada maior do que a oferta agregada em situação de pleno emprego dos fatores.
7) HIATO DEFLACIONÁRIO oferta agregada maior do que a demanda agregada em situação de desemprego;
8) Em 1906, Knut Wicksell escreveu: "o problema fundamental da ciência monetária" teria solução teórica e prática, bastando para isso a adequada manipulação da taxa de juro, "reduzindo-a quando os preços estivessem em baixa, e elevando-a quando se mostrassem em alta."
9) MODELOS ECONÔMICOS: modelo é uma representação simplificada da realidade e como tal deve ser entendido. É a expressão matemática de uma teoria econômica. Formulação de um modelo econômico: a) delimitar o fenômeno ou grupos de fenômenos que se deseja estudar; b) localizar as variáveis; c) estabelecer as relações existentes entre as variáveis (equações); d) ter uma ideia definida da finalidade que deverá alcançar.
10) VARIÁVEIS E PARÂMETROS: a) Variáveis endógenas são as que influenciam e são influenciadas pelo conjunto de relações e pelo modelo; b) Variáveis exógenas são as que influenciam o modelo sem serem influenciadas por ele; c) Perturbações aleatórias são as que são introduzidas para recolher o efeito conjunto de múltiplas variáveis, individualmente irrelevantes,  que não figuram no modelo; Parâmetros são magnitudes que expressam a influência de fatores quantitativos e não quantitativos.
11) RELAÇÕES OU EQUAÇÕES: a) Relações de comportamento definem as ações dos agentes econômicos (equação de demanda); b) Relações técnicas expressam as condições nas quais se estudam um processo técnico ou de fabricação (função de produção); c) relações contábeis expressam a identidade quantitativa entre magnitudes econômicas (relações das contas nacionais); d) Relações estruturais são as funcionais que integram e definem um modelo; e) Parâmetros estruturais são os valores concretos que expressam uma determinada estrutura.
12) TIPOS DE MODELOS: a) uniequacionais e multiequacionais; b) lineares e não lineares; c) estáticos e dinâmicos (discretos e contínuos); d) abertos e fechados; e) microeconômicos e macroeconômicos; f) de previsão e de decisão; g) exatos e estocásticos.
13) REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO: a) com capacidade ociosa (com ou sem deflação); b) sem capacidade ociosa (com ou sem inflação).
14) PREÇOS DE PRODUTOS EXPORTADOS: a) Quedas pioram a relação de trocas (redução de renda real pode provocar depreciação cambial); b) Aumentos melhoram a relação de trocas (aumento da renda real pode provocar apreciação cambial).
15) EXPECTATIVAS DE VALORIZAÇÃO CAMBIAL (do real, desvalorização do dólar): pode aumentar a oferta de dólares futuros (swaps) desvalorizando-os mais ainda e por extensão o à vista. O BC pode dificultar e limitar as operações domésticas futuras (mas não alcança operações no exterior). Pode dificultar a entrada de capitais de curto prazo e comprar o excesso de oferta e dólares à vista e futuros (swaps cambiais reversos); 
15.1) EXPECTATIVAS DE DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL (do real, valorização do dólar): pode aumentar a demanda por dólares futuros valorizando-os mais ainda e por extensão o à vista. O BC pode fazer swaps cambiais e vender à vista para atender a demanda.
O  BC tem a obrigação PRUDENCIAL  de normatizar e monitorar as operações futuras e de derivativos dos bancos evitando riscos superiores à capacidade dos mesmos (suportar e honrar perdas).
AS OPERAÇÕES COM  MOEDAS TÊM POR LIMITE A EXISTÊNCIA DAS MESMAS.
AS OPERAÇÕES FUTURAS E DERIVATIVOS DEVEM TER LIMITES FIXADOS PELO BC, POIS SÃO VIRTUAIS E NÃO TÊM LIMITE (evitar jogatinas irresponsáveis e insolvências).
O BC não deve atuar contra a tendência, defendendo posição artificial. 
O BC não deve atuar contra a tendência, defendendo posição artificial. 
16) DEFLAÇÃO E EMPOÇAMENTO DE LIQUIDEZ: quando as bolhas de preços de ativos furam (perda de riqueza com a desvalorização dos ativos e insegurança) é normal ocorrer aversão ao risco e busca de aplicações nos títulos do país que emite a moeda considerada reserva mundial. Isto provoca a redução dos juros dos títulos emitidos por este país. Ao mesmo tempo ocorre uma redução da liquidez para empréstimos ao setor privado (é o que se pode chamar de empoçamento de liquidez). A quantidade de moeda cai (na crise de 30 caiu em um terço). Milton Friedman estudou este fenômeno e aconselhou aos BCs evitar a queda da quantidade de moeda para reduzir os efeitos da crise (sofrimentos). O sofrimento da perda de riqueza (desvalorização de ativos) persiste e provoca redução das atividades. Os USA na crise atual adotou os QE (quantitative easing - comprar títulos em poder do público) para evitar a queda da liquidez e das atividades.
17) PEA: população economicamente ativa (= pessoas da PIA empregadas). PIA: população em idade ativa. TAXA DE DESEMPREGO: pessoas da PIA procurando emprego
18) LIBERALISMO: pensamento que defende a supremacia das leis sobre as autoridades (o poder é da lei e não da autoridade). É a favor de normas que  reduzam o poder discricionário das autoridades e contra as que aumentam. É também contra as normas e os regulamentos que criam dificuldades para oportunizar a venda de facilidades. É a favor da concorrência e do mercado, inúmeros interesses em jogo para definir preços. É obrigação do governo estabelecer as regras do jogo e defender a concorrência e o mais fraco contra o mais forte (evitar monopólios e fiscalizar oligopólios);
19) MONETARISMO: pensamento econômico que afirma que a estabilidade do poder de compra da moeda é necessária, mas não o suficiente, para que ocorra o crescimento sustentado. Recomenda para o controle da inflação:
a) a utilização da taxa básica de juros como a ferramenta mais poderosa para adequar e harmonizar a velocidade de crescimento da oferta e da demanda, controlar a liquidez e o volume de crédito. Fixar acima da taxa neutra ou estrutural, quando ocorre inflação ascendente, abaixo quando a inflação está controlada e a tendência de crescimento não ocorre;
      b) o controle da dívida pública (se alta através de superávits primários);
     c)  o crescimento da liquidez constante (entre 3% e 5% para não causar inseguranças e imprevisibilidades) e em harmonia com o crescimento econômico.
MAG 03/2013.  



2) PNB e PIB - O QUE ENTRA E O QUE NÃO ENTRA NO CÁLCULO.
DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL - OPÇÃO POR REDUÇÃO DO PIB (POBREZA).

 PNB (produto nacional bruto): é o total dos valores adicionados pelos diversos setores da economia ao processo produtivo. Valor Adicionado: conceito que mede a contribuição de cada setor ao processo produtivo (sem duplicações). O PNB mede a capacidade de criação de valor da economia. É a soma de: bens econômicos (tangíveis e intangíveis) produzidos para o mercado + retenção de mercadorias pelos produtores para o consumo + valor do aluguel das casas habitadas pelos proprietários + salários in natura (aluguéis, mercadorias, etc.). PNB = RNB (renda nacional bruta) = total das remunerações pagas aos fatores de produção (salários + juros + lucros + aluguéis). PNB = RNB = DNB (despesa nacional bruta) = valor total das despesas em bens para uso final (mercadorias e serviços para o consumo e investimentos).
Não se inclui no cálculo do PNB: serviços domésticos da dona de casa, pagamentos de renda que não resultem de atividades produtivas (aposentadorias, juros da dívida pública,) e atividades ilegais (não socialmente úteis, como contrabando, etc.).
Fazem parte do PIB produtos benéficos (pão, medicamentos) e maléficos (fumo, bebidas, armas), necessários (alimentos) e desnecessários (pirâmides do Egito).
Os liberais e monetaristas condenam os gastos desnecessários como um mal para a economia, os keynesianos defendem os gastos sejam eles quais forem.
PIB (produto interno bruto): é o PNB ajustado para somar os recebimentos procedentes de rendas do exterior e deduzir as remessas ao exterior.
RLFE (renda líquida de fatores do exterior) = recebimentos menos remessas de rendas para o exterior (Rec. - Rem.).
 PNB = PIB + - RLFE = PIB + Rec. – Rem., portanto PIB = PNB – Rec. + Rem.
 PNB = C + I +G + E – M + Rec. – Rem. e PIB = C + I + G + E - M
Pelas definições acima vimos que não entra no cálculo do PNB e do PIB a propriedade de ativos, internos ou externos, entram apenas os bens econômicos produzidos para o mercado. Então não entra no PNB a propriedade de bens intelectuais (os ativos protegidos por registros), o capital de empresas no exterior, o capital emprestado ao exterior, a propriedade de qualquer ativo no exterior. Apesar de não entrar no cálculo do PNB, seus rendimentos (lucros, aluguéis, juros, royalties) entram. Semelhante aos aluguéis das casas residenciais. O ativo casa não entra, mas é representado pelo valor do aluguel que é semelhante a uma renda (renda = produto). Melhores as residências maiores os aluguéis e o PIB. Da mesma maneira a propriedade de ativos no exterior é representada no PNB pelas suas rendas (lucros, juros, royalties, etc.).
EFEITO DA DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA (para privilegiar exportadores): acomoda a necessidade (e a motivação) da busca de melhoria contínua de qualidade e gestão; transfere recursos da parte eficiente (a competitiva) da economia para proteger os incompetentes e privilegiar os competitivos que exportam (a maioria empresas. com capitais estrangeiros); é opção por redução de poder de compra da população, da demanda e do PIB (empregos inclusive); é opção por parque industrial atrasado e não competitivo.   
Outro efeito muito importante e não divulgado da desvalorização cambial é o barateamento dos ativos nacionais (empresas, imóveis, etc.) e sua conseqüente transferência de titularidade para estrangeiros. Os ativos sendo de propriedade de estrangeiros têm como contrapartida a remessa de lucros (o maior saldo negativo da conta transações correntes do balanço de pagamentos brasileiro).
EXCESSO DE RESERVAS PARA EVITAR VALORIZAÇÃO CAMBIAL: se originada de compras feitas pelo BC para dar liquidez ao mercado é correto. Se, porém, é originada de excessos de compras de moedas para evitar valorização cambial é errado. O excesso de reserva se aplicado com rendimento de juros menores do que a inflação é como se estivéssemos fazendo uma doação ao país emissor da moeda reserva mundial (pobres doando para ricos). É pobre financiando rico.
No momento atual o Brasil tem excesso de reserva e aplica em títulos de liquidez mais alta (e juros menores). Como temos necessidade de captar poupança externa em torno de US$65 bi. em 2012, é aceitável e recomendado que o excesso da reserva seja aplicado financiando empresas (e bancos) brasileiras que fazem captação no exterior (através do BNDES e BB que têm expertise em financiamentos).
Se aplicarmos em títulos americanos estaremos financiando o Fed (com juros baixos) a monetizar o mundo, cobrando juros baixos dos bancos, que reemprestam a empresas brasileiras (e ao TN) cobrando juros altos. MAG 01/03/2012.