quarta-feira, 8 de julho de 2015

JUROS REAIS EX-POST 06/2015

JUROS REAIS EX-POST 06/2015.

No Brasil a diferença entre os juros reais ex-ante e ex-post é imensa. Ao fazer a opção entre poupar ou gastar (consumo ou investimento) os agentes fazem a previsão da inflação esperada e comparam com os juros oferecidos pelo mercado (juros considerados baixos ou negativos estimulam a demanda). O juro real ex-ante é a diferença entre o juro oferecido pelo mercado (líquido de IRF) e a inflação esperada. Após decorrido o prazo da aplicação o agente compara a taxa pactuada com a inflação real, a diferença é o juro real ex-postUma inflação ocorrida maior do que a esperada estimula a demanda (os agentes fogem da moeda mais juros como reserva de valor.). Conforme Fisher (e bom senso do mais simples agente).
No Brasil existe um papo furado de taxa de juro real de 7%. Não é o que acontece nos juros reais ex-post (mensais ou anuais). A tabela abaixo comprova. 06/2015.

RENDIMENTOS DE ATIVOS R$
ATVOS
2012
2013 2014 01/15 02/15 03/15 04/15 05/15 06/15 2015
SELIC (-20% IR)
8,49 (6,79)
8,22 (6,576) 10,90 (8,768) 0,94 0,82 1,04 0,95 0,99 1,07 5,94(4,752)
CDI (-20% IR)
8,40 (6,72)
8,06 (6,448) 10,81 (8,648) 0,93 0,82 1,04 0,95 0,98 1,07 5,92(4,736)
CDI 110% 9,24 8,866 11,891 1,023 0,90 1,144 1,045 1,089 1,177 6,512
CDI 110% - 15% IRF 7,854 7,536 10,107 0,8695 0,77 0,9724 0,888 0,925 0,9416 5,2096
POUPANÇA (antiga)
6,48
6,37 7,08 0,59 0,52 0,63 0,61 0,62
0,68
3,70
IBOVESPA
7,40
-15,50 -2,91 -6,41 9,97 -0,84 9,93 -6,17 0,61 6,15
DÓLAR PTAX
8,94
14,64 13,39 0,23 8,11 11,46 -6,68 6,19 -2,40 16,81
Dólar paralelo SP
7,39
15,60 13,49 0,00 6,99 11,11 -5,59 4,98 -2,08 15,38
Euro
11,05
19,70 0,02 -6,73 7,24 6,76 -3,02 4,56 -0,97 7,23
OURO BM&F
15,26
-17,35 12,04 7,50 2,02 10,43 -5,94 5,54 -2,47 17,25
IPCA
5,84
5,91 6,41 1,24 1,22 1,32 0,71 0,74 0,79 6,17
CDI - 20% IRF - IPCA 0,88 0,538 2,2348 -0,496 -0,564 -0,488 0,05 0,044 0,066 -1,434
IGPM
7,82
5,51 3,69 0,76 0,27 0,98 1,17 0,54 0,67 4,33
CDI - 20% IRF - GPM -1,10 0,938 4,9548 -0,016 0,386 -0,148 -0,41 0,044 0,186 0,406

06/2015.

domingo, 5 de julho de 2015

INFLAÇÃO E JUROS. DA TEORIA QUANTITATIVA AO MONETARISMO MODERNO (TRIPÉ).


INFLAÇÃO E JUROS. DA TEORIA QUANTITATIVA AO MONETARISMO MODERNO (TRIPÉ). Atualizado 04/2020.

A Teoria Quantitativa é confundida, erradamente, com as Equações Quantitativas. As equações são representações matemáticas, importantes, mas didáticas e reducionistas como todos os modelos macroeconômicos (equações matemáticas), sem querer diminuir sua utilização. Abaixo um resumo da evolução do pensamento. Seus limites são diferentes para país emissor de moeda aceita como reserva e meio de pagamento mundial e as não aceitas, conversíveis apenas no país de origem. 

“ESTADO, MOEDA E LIBERDADE:

JEAN BODIN (1576): lança as bases teóricas do estado de direito.

BERNARDO DAVANZATI (1582): escreve “Lição da Moeda” onde é esboçada a ideia, talvez inicial, da teoria quantitativa da moeda. 

DAVID HUME (1752): “Of Money e Of interest” dá forma bem esboçada à ideia da teoria quantitativa da moeda. Separa os efeitos do curto e médio prazo da alteração monetária das do longo prazo (inflação). “Os preços das mercadorias evoluirão sempre proporcionalmente à quantidade de moeda.” 1760 – 1770: tem início a revolução industrial inglesa (inovações). O tempo e os estudos demonstraram que a palavra proporcionalmente deve ser mudada para tendências.

ADAM SMITH (1776): publica o livro “A Riqueza das Nações”, com as ideias básicas do pensamento econômico liberal. A presença do estado deve ser definida e limitada por leis, o poder é da lei e não da pessoa (limitar o poder discricionário das autoridades). Redução dos gastos improdutivos dos governos. Liberdade dos mercados, concorrência defendida por regras do jogo pré-estabelecidas, a menor presença estatal possível.  

GUSTAV KNUT WICKSELL (1911): “Lições de Economia Política”, quase um resumo de suas obras. Introduziu a ideia de taxa de juro de equilíbrio (natural) e suas relações com a inflação. Se o juro de mercado é superior ao de equilíbrio a demanda e os preços caem. O monetarismo racional tem origem em seus estudos.  

IRVING FISHER (1928/1937): desenvolveu os estudos da teoria monetária moderna (tudo passa por ele).

JOHN MAYNARD KEYNES (1936): “Teoria Geral do Trabalho, do Juro e da Moeda”, pode-se dizer que a macroeconomia moderna baseou-se toda ela em seus estudos, foi o tiro inicial que motivou o aprofundamento das pesquisas e o desenvolvimento da matéria (apesar de suas conclusões terem sido influenciadas negativamente pela depressão de 29/30).    
   
FRIEDRICH AUGUST VON HAYEK (1944), publica o livro Caminho da Servidão. Adequou com brilhantismo o pensamento liberal à sua época.

MILTON FRIEDMAN (1962), com a publicação do livro “Capitalismo e Liberdade”, em linguagem acessível a todos, faz o monetarismo renascer, contrapondo-se às conclusões de Keynes, que considerava totalmente erradas (fábrica de estagflação). É o principal autor do liberalismo e monetarismo modernos. Sua principal obra é “A História Monetária dos Estados Unidos”.

Outros autores: 
Karl R. Popper, A Sociedade Aberta e seus Inimigos
Douglass North, Entendendo o Processo de Mudança Econômica
Norberto BobbioLiberalismo e Democracia.

Na vida temos que aceitar o possível frente ao ideal (a difícil escolha do necessário frente ao possível). São os limites que a vida nos impõe, em todos os setores, inclusive nas políticas fiscal, monetária e cambial. A teoria quantitativa da moeda evoluiu e adequou-se aos acontecimentos da economia, como:

a) as medidas dos meios de pagamento, amplo e restrito (M0, M1, M2, M3 e M4);
b) à crise de 29/30 (e conclusões de Keynes e Milton Friedman);
c) a Breton Woods (relação dólar x ouro);
d) às tentativas de câmbio fixo;
e) ao término da relação dólar x ouro e à necessidade prática (bom senso) da adoção do câmbio flutuante. 

Os acontecimentos proporcionaram aprendizados importantes, mas a ideia básica permanece, a relação crescimento da quantidade de moeda (passa a ser entendida como liquidez = tudo que pode se transformar em moeda em menos de 30 dias) e a capacidade de crescimento do PIB (PIB potencial). É a teoria que melhor adequou-se à evolução do padrão ouro para o fiduciário. Os BCs evoluíram seus conhecimentos acompanhando as evoluções dos mercados monetários e financeiros. A ampliação dos mercados financeiros, a melhoria das estatísticas, a publicação das curvas de juros de mercado e os resultados das políticas monetárias permitiram evoluir e ampliar os conhecimentos.

MONETARISMO, UM RESUMO DA EVOLUÇÃO DA TEORIA QUANTITATIVA:

     a)    KNUT WICKSELL estudou as relações, in (taxa de juro natural, a de equilíbrio ideal, mas virtual) x im (taxa de juros de mercado). A taxa natural de equilíbrio (não confundir com taxa básica do BC) é a que permite o crescimento sem inflação, a de mercado é a praticada pelos agentes econômicos. Para Wicksell quando:

       a1) in é maior do que im ocorre inflação (significa que existe liquidez excessiva em relação ao crescimento potencial da economia);
     a2) in é menor do que im ocorre redução da inflação (significa que está acontecendo contração monetária, redução da liquidez).  
    
    Escreveu que um processo inflacionário se constata quando a taxa natural de juros (neutra, de equilíbrio) inicia uma tendência de alta. A causa dos processos inflacionários são os juros de mercado baixos em relação ao natural (neutro ou de equilíbrio). A teoria do juro e da moeda de Wicksell (Johan Gustaf Knut Wicksell, 1851, 1926) é a mais bela construção teórica em economia monetária, pela simplicidade, racionalidade e bom senso (todos, após ele, nadaram em seus estudos). A crítica dos opositores à teoria de Wicksell de que a taxa natural não pode ser quantificada (medida) é facilmente elucidada:

    a3) ocorre um processo inflacionário quando ela (in) está acima da de taxa de mercado (im, esta quantificada);
    a4) quando a in está abaixo da taxa de mercado não ocorre processo inflacionário.  
          
     b)  IRVING FISHER estudou a inflação com uma clareza e racionalidade acessível a todos. Fisher complementa o raciocínio de Wicksell introduzindo o conceito de comparação entre os juros de mercado (nominal, ex-ante, fruto das expectativas de inflação, efetivamente planejado), com o juro acontecido (real, ex-post, efetivamente realizado). Se as expectativas de inflação são maiores do que os juros de mercado, é o pior dos mundos para o processo inflacionário. Para ele a inflação alimenta a expectativa de que os preços continuarão a subir (a inércia). Se os juros ex-post derem negativos (menores do que a inflação ocorrida), diferente do previsto (ex-ante), é prejudicial ao controle da inflação.

    c) MILTON FRIEDMAN estudou a crise de 29/30 e concluiu que ela ocorreu por política monetária frouxa (com aumentos sem controle na quantidade de moeda) que motivou a valorização dos ativos que não moeda acima do racional (fuga da moeda como reserva de valor), as famosas bolhas e a evolução natural do processo, o furo, as desvalorizações e as consequentes perdas das riquezas virtuais, o sentimento de empobrecimento, as insolvências, a crise de crédito, a queda da demanda, a deflação e a depressão. Concluiu que a depressão ocorreu pelo Fed ter permitido a queda da quantidade de moeda (liquidez) em 1/3 e a quebra de 5000 bancos. Se tal não tivesse acontecido os sofrimentos teriam sido muito menores concluiu ele. Alguns sofrimentos ocorreriam, mas suportáveis. A autoridade monetária deve também impedir o empoçamento da liquidez (possível de ocorrer por aversão ao risco e expectativa de deflação) para impedir a queda do crédito e das atividades. Concluiu que a moeda deve ter um crescimento constante, sem flutuações, previsível, algo entre 3 e 5% (hoje sabemos poder crescer 2% acima do PIB potencial para combater recessão ou expectativa de depressão). 

     d)  ESCOLA AUSTRÍACA (LIBERTÁRIA) apesar de se denominar liberal (muitos escrevem libertária) é diferente do pensamento original por não ter uma posição clara sobre uma das principais funções do estado liberal moderno (as democracias liberais, o estado democrático do direito) que é REGULAR (e não operar). Acreditam no livre mercado (livre concorrência) enquanto os liberais defendem normas que defendam as regras do jogo (a concorrência, o mercado). Os liberais defendem que o poder deve ser das normas e não das autoridades, os libertários aproximam-se mais da ausência de autoridades. São contra a existência de um Banco Central e por extensão contra o liberalismo e monetarismo de Milton Friedman. No geral são mais próximos do que distantes dos liberais.

TN (tesouro nacional) e BC (banco central): recursos com o TN e o mercado são semelhantes (liquidez). Recursos com o BC são considerados fora do mercado, não afetam as atividades.

O TRIPÉ (superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante): o superávit primário (utilizado para dívida considerada superior à capacidade de pagamento dos governos) e a meta são redutores do poder discricionário das autoridades (fiscal e monetária), já que as limitam e obrigam a perseguir um objetivo. O câmbio flutuante também reduz o poder discricionário, já que elimina o administrado (um poder discricionário).

RELAÇÃO ENTRE POLÍTICA MONETÁRIA E POLÍTICA FISCAL: a Política Monetária (executada pelo BC) deve ser harmônica com a Política Fiscal (executada pelo executivo), pois uma complementa a outra.

EFEITOS DA TAXA BÁSICA E DO DEPÓSITO COMPULSÓRIO:

     a)  TAXA BÁSICA: é a principal e mais poderosa ferramenta que o BC utiliza para controlar a inflação, é uma variável controlável. É uma taxa de cp (1 dia) fixada pelo BC objetivando influenciar as expectativas inflacionárias, podendo ser modificada a qualquer momento. Deve ser fixada acima da taxa de equilíbrio (neutra ou natural) para influenciar a expectativa inflacionária modificando-a de ascendente para descendente, e, por extensão, as taxas de juros de mercado de longo prazo (neste sentido reduz o custo de captação, permite alongar e aumentar o volume negociado no lp pelo TN). A parte longa da curva de juros de mercado passa a ficar descendente. Em um segundo momento a taxa básica pode ser reduzida acompanhando a queda da inflação. É uma taxa do BC para administrar a política monetária e que não deve ser utilizada pelo TN para financiar-se (aceita-se apenas para uma pequena parte da dívida pública). Por ser básica é a menor taxa do mercado. É a variável que consegue modificar a relação in e im. 

Com in maior do que a im. Um aumento da taxa básica aumenta os juros do aplicador (o BC consegue retirar moeda do mercado) e do tomador, inclusive os juros de cp (os juros de lp caem no segundo momento) para o TN (e para a parte do estoque da dívida indexada à taxa básica), a liquidez, as atividades e a demanda caem. Os investimentos são postergados na expectativa do sucesso do BC na redução do processo inflacionário para a seguir voltar com mais intensidade. A taxa básica pode cair assim que o processo inflacionário é controlado (muda de ascendente para descendente).

     b)    DEPÓSITO COMPULSÓRIO: sua principal utilização tem a finalidade prudencial, mas tem também efeitos na liquidez e na inflação. 

Com in maior do que im. Um aumento no percentual do depósito compulsório (DC) provoca os efeitos sequenciais: a liquidez cai e os juros de mercado sobem na ordem a seguir, primeiro para o TN e tomadores, após para os aplicadores. A demanda e os investimentos caem. É uma medida estática com efeitos menos eficazes do que o aumento da taxa básica. Deve ser utilizada apenas como medida prudencial. A relação in x im pode aproximar-se da igualdade. 
     
     Com im maior do que in a inflação cai.

im < in : + DC - Poupança; + C; + Lucros; + I; + Salários; + NUFP; + INFLAÇÃO.
im > in : - DC + Poupança; - C; - Lucros; - I; - Salários; - NUFP; - INFLAÇÃO
NUFP = nível de utilização dos fatores de produção.
______________________________________________________________

A ESCOLHA DOS POUPADORES: MOEDA PÁTRIA X OUTROS ATIVOS
ATIVO
RISCOS
RENDA DOS POUPADORES
DESTINO, FINALIDADE
MOEDA (preferência pela liquidez)
Guarda
Evita perda com deflação,
desvalorizações de títulos e insolvências.
Entesourar moeda.
APLIC. FINANC. Renda Fixa Pré
Inflação, Juros subirem (cai valor títulos)
Juros (- Inflação - IRF).
Financiamentos (empresas e pessoas).
APLIC. FINANC. CM, Índices
A parte de juros subir (cai valor títulos)
Juros + CM - IRF
Financiamentos (empresas e pessoas).
BOLSA
Desvalorizações
Dividendos. + - Variações no valor
Aumento de Capital, Transferências.
IMÓVEIS, TERRENOS, AMPLIAÇÕES
Liquidez, desvalorizações
Alugueis + -  Variações no Valor
Locatários (empresas e pessoas).
ESTOQUES, MAQUINÁRIOS
Depreciações tecnológicas (inovações)
Valorizações
Consumo futuro.
OUTRAS MOEDAS
Desvalorizações
Juros + - Variações Cambiais
Câmbio.
OURO
Desvalorizações
Valorizações
Entesourar

0        7/2015. MAGECONOMIA.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A MOEDA - RESUMO HISTÓRICO


A MOEDA - RESUMO HISTÓRICO

1) NO INÍCIO AS TROCAS DIRETAS (ESCAMBO): as sociedades e economias rudimentares utilizavam as trocas diretas como meio de circulação dos produtos. Com o desenvolvimento das relações comerciais e a divisão do trabalho algumas mercadorias passaram a ser utilizadas como moeda.

2) MERCADORIA MOEDA: mercadorias mais comercializáveis, mais fáceis de estocar e de transportar, passaram a ser utilizadas como moeda de troca (o sal, o trigo, o gado, etc.). Como eram ao mesmo tempo um bem de consumo e de troca, ficavam comprometidas como reserva de valor e instrumento de troca. Produtos com mais durabilidade e facilidade de transporte passaram a ser os preferidos como instrumento de trocas e de reserva (os metais).

3) MOEDA METÁLICA: o ouro e a prata passaram a ser os metais preferidos por suas qualidades atenderem as funções de reserva de valor e de instrumento de trocas. Comerciantes mais ricos e que adquiriram CONFIANÇA do mercado, passaram a emitir certificados de depósitos de ouro ou de prata, para evitar o risco e a dificuldade do transporte. Daí nasceram as casas de Custódia, que armazenavam o ouro ou a prata e emitiam os Certificados de Depósitos, mais cômodos e seguros. Estes certificados passaram a circular no lugar dos metais. O poder de compra da moeda metálica, ouro ou prata, variava diretamente com o valor de mercado dos metais. As descobertas de novas minas influenciavam o valor dos metais no mercado (e o poder de compra das moedas).

3.1) BIMETALISMO E MONOMETALISMO: quando os governos passaram a fixar o poder de compra das moedas, ouro e prata, obedecendo a uma relação fixa (Inglaterra em 1717, USA 1787) independente do valor dos metais no mercado, a moeda cujo metal valorizava em relação ao outro sumia de circulação (todos só pagavam com a moeda cujo metal estava desvalorizado em relação ao outro). Principalmente por este motivo, em 1816 a Inglaterra adotou o padrão ouro, e os USA em 1873 (formal em 1879). Milton Friedman argumentou que a adoção do monometalismo (ouro) nos USA, devido à valorização e à escassez do ouro em relação à prata foi um crime contra a economia. Seu argumento era de que se a prata não tivesse sido abandonada a quantidade de moeda em circulação teria crescido muito mais do que com o padrão ouro (mais escasso). O descasamento do ritmo de crescimento econômico com a quantidade ofertada de moeda padrão ouro fez ocorrer deflação, o que gerava insatisfação (ao que denominou de ilusão monetária = a atenção é maior para os preços nominais do que para os reais). A deflação desagradava mais aos produtores (era mais visível nos poucos produtos que vendia), do que agradava aos consumidores (a atenção era dispersa em vários produtos). Já a inflação moderada (o aumento dos preços agrada aos vendedores e por ser disperso e pequeno desagrada pouco aos consumidores) provoca a sensação de bem estar, e a deflação, mesmo que moderada, causa uma sensação de desagrado. 

4) MOEDA-PAPEL: os certificados emitidos pelas casas de custódia passaram a ser considerados como uma moeda-papel. Os donos das casas de custódia, com o tempo, verificaram que um saldo do estoque de moedas (ouro e prata) sempre ficava ocioso (apesar da movimentação de novos depósitos e saques).

5) PAPEL MOEDA, MOEDA FIDUCIÁRIA: os depósitos de ouro que ficavam ociosos em estoque nas Casas de Custódia permitiram que estas emitissem certificados não lastreados ou parcialmente lastreados, sendo que sua circulação e aceitação dependiam da CONFIANÇA da casa emissora do certificado, dando início ao que seria no futuro o papel moeda com emissão monopolizada pelos governos. Como vemos os primeiros certificados eram 100% lastreados em metal.

6) PAPEL MOEDA MONOPÓLIO DOS GOVERNOS; com o tempo os governos se viram obrigados a controlar e fiscalizar as casas de custódia (primeiros bancos).  O monopólio de emissão de moedas pelos governos foi uma evolução natural. A evolução na tecnologia na fabricação do papel moeda (início do século XIX), evitando falsificações, foi fator importante e preponderante no abandono da moeda metálica ouro para o papel moeda padrão ouro. No início as moedas emitidas pelos governos eram parcialmente conversíveis. A última moeda importante parcialmente conversível foi o dólar americano, que abandonou o padrão ouro em 1971.

7) MOEDA ESCRITURAL, CONTÁBIL OU BANCÁRIA: com a evolução e o desenvolvimento do sistema financeiro, do crescimento dos depósitos e dos empréstimos, foi sendo aumentada a circulação e a quantidade da moeda escritural, movimentada por meio de cheques e de ordens de pagamentos (hoje transações eletrônicas). Verificou-se que os depósitos criam condições de empréstimos, que criam novos depósitos, que criam novos empréstimos, sucessivamente. Os governos verificaram a necessidade de regulamentar o sistema bancário, com normas prudenciais, limites de criação de moeda escritural (capital x empréstimos) e a atividade passou a ser concedida ou autorizada e regulamentada pelos governos.

8) O BANCO CENTRAL (A AUTORIDADE MONETÁRIA); o monopólio da emissão de moeda, a necessidade de controle e fiscalização dos bancos e do meio circulante fez surgir, como evolução natural, o que hoje entendemos por Banco Central (século XIX). Podemos considerar o Banco da Inglaterra como o primeiro banco central do mundo. Foi uma evolução natural, depositário das reservas do sistema bancário, compensação das operações dos outros bancos, emprestador de última instância (redesconto). Na América Latina, o Banco do Uruguai, foi o que podemos considerar como primeiro Banco Central da região (1896). A separação do Banco Central com a execução orçamentária de receita e despesa dos governos (orçamento fiscal) é uma conquista que veio aos poucos e está ainda em implantação em muitos países. A autonomia ou independência do BC é assunto que ainda provoca contraditórios, mas é uma necessidade e evolução natural. 
As funções modernas dos bancos centrais são: 
a) emissão de moeda e controle do meio circulante; 
b) redesconto (empréstimos a instituições financeiras); 
c) regular a oferta da moeda através da taxa básica de juros (compra de títulos do governo) e do compulsório (medida também prudencial); 
d) banco do governo (caixa do tesouro nacional) e dos bancos; 
e) regulamentar, supervisionar e fiscalizar o sistema financeiro nacional, inclusive conceder autorização para o funcionamento de bancos; 
f) administrar o sistema de pagamentos e o meio circulante; 
g) administrar as reservas (em moedas, títulos e ouro); 
h) executar a política cambial, incluindo o movimento de capitais. Resumindo, podemos definir a missão do Banco Central como: Assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e a solidez do sistema financeiro.     

9) O BANCO CENTRAL DO BRASIL: foi criado pela lei 4.595 de 31/12/1964 (governo revolucionário), denominada lei da reforma bancária (em substituição à SUMOC, criada em 1945), juntamente com o CMN (Conselho Monetário Nacional). O Banco Central do Brasil exerce a função de banqueiro do governo (conta única do Tesouro Nacional). A política monetária, atualmente, obedece ao Sistema de Metas para a Inflação (SMPI). A meta é estabelecida pelo CMN como objetivo a ser alcançado pelo BC e pelo COPOM, Comitê de Política Monetária do BC, que buscam influenciar as expectativas dos agentes econômicos, utilizando como ferramentas, a taxa básica de juros (acima ou abaixo da taxa neutra, conforme a conjuntura), depósito compulsório, IOF, normas, atas, relatórios e comunicados.

10) AS DESVALORIZAÇÕES DAS PRINCIPAIS MOEDAS DESDE A ANTIGUIDADE (um breve resumo): as moedas metálicas tinham o seu valor baseado no seu peso e pureza (ouro, prata). Os romanos para financiar suas guerras de conquistas reduziam o peso e a pureza do ouro contido nas moedas (era um tipo de inflação ou desvalorização da moeda). Os governos imperiais e monárquicos achavam-se no direito de falsificar a moeda da mesma maneira que os romanos. Nos tempos mais contemporâneos muitas nações deixaram de honrar o compromisso com sua moeda. Podemos enumerar os prejuízos (tipo de moratória ou quebra) que deram: 
a) a Inglaterra deixou de honrar a conversibilidade da Libra esterlina em ouro na primeira guerra mundial (após a guerra, em 1925, retornou para a conversibilidade à paridade de antes da guerra, um tiro no peito); 
b) em 1931 a França resolveu transformar toda a sua reserva em ouro. A Inglaterra não tendo como honrar suspendeu a conversibilidade da Libra esterlina; 
c) em 1944, na conferência de Bretton Woods os USA comprometeram-se a garantir a conversibilidade do dólar em ouro ao preço de US$35,00 por onça-troy. Em 1968 os USA estabeleceu dois preços para o ouro, um oficial apenas para os bancos centrais, outro livre para outros agentes econômicos; 
d) em 15/08/1971, os USA, abandonam totalmente a conversibilidade do dólar em ouro. Em março de 1973 os países industrializados abandonam a paridade fixa com o dólar, deixando suas moedas flutuarem em relação ao mesmo enterrando de vez o sistema de Bretton Woods; 
e) em 1979 os principais países da Europa decidiram criar um sistema monetário regional (o EURO). 

O ouro chegou a valer mais de US$800,00 (1980), caindo para US$300,00 em 1985 (as negociações ou especulações como alguns definem alcançaram uma intensidade de movimentação imprevisível). Na primeira década do século 21 o dólar passa a ter circulação muito maior do que a economia dos USA  (na verdade os USA passam a viver de emitir moeda). O regime de câmbio fixo só se justificaria se o dólar fosse conversível em ouro a uma paridade fixa (Bretton Woods). Se o dólar é apenas uma moeda escritural, seu valor dependerá da política monetária e da economia americana (a capacidade dos USA oferecer alguma riqueza real em troca dos dólares). O capital (direitos de receber dividendos, juros, de retorno de capitais) de residentes nos USA no exterior deve ser considerado nesta análise.    

ADENDO SOBRE O MONETARISMO: pensamento econômico que afirma que a estabilidade do poder de compra da moeda é condição necessária, mas não o suficiente, para que ocorra o crescimento sustentado.
Recomenda para o controle da inflação:
a) a utilização da taxa básica de juros como a ferramenta mais poderosa para adequar e harmonizar a velocidade de crescimento da oferta e da demanda, controlar a liquidez e o volume de crédito. Fixar acima da taxa neutra ou estrutural, quando ocorre inflação ascendente, abaixo quando a inflação está controlada e a tendência de crescimento não ocorre;
b) o controle da dívida pública (se alta através de superávits primários);
c)  o crescimento da liquidez constante (entre 3% e 5% para não causar inseguranças e imprevisibilidades) e em harmonia com o crescimento econômico.


marco aurélio garcia, 03/2011.