domingo, 5 de julho de 2015

INFLAÇÃO E JUROS. DA TEORIA QUANTITATIVA AO MONETARISMO MODERNO (TRIPÉ).


INFLAÇÃO E JUROS. DA TEORIA QUANTITATIVA AO MONETARISMO MODERNO (TRIPÉ). Atualizado 04/2020.

A Teoria Quantitativa é confundida, erradamente, com as Equações Quantitativas. As equações são representações matemáticas, importantes, mas didáticas e reducionistas como todos os modelos macroeconômicos (equações matemáticas), sem querer diminuir sua utilização. Abaixo um resumo da evolução do pensamento. Seus limites são diferentes para país emissor de moeda aceita como reserva e meio de pagamento mundial e as não aceitas, conversíveis apenas no país de origem. 

“ESTADO, MOEDA E LIBERDADE:

JEAN BODIN (1576): lança as bases teóricas do estado de direito.

BERNARDO DAVANZATI (1582): escreve “Lição da Moeda” onde é esboçada a ideia, talvez inicial, da teoria quantitativa da moeda. 

DAVID HUME (1752): “Of Money e Of interest” dá forma bem esboçada à ideia da teoria quantitativa da moeda. Separa os efeitos do curto e médio prazo da alteração monetária das do longo prazo (inflação). “Os preços das mercadorias evoluirão sempre proporcionalmente à quantidade de moeda.” 1760 – 1770: tem início a revolução industrial inglesa (inovações). O tempo e os estudos demonstraram que a palavra proporcionalmente deve ser mudada para tendências.

ADAM SMITH (1776): publica o livro “A Riqueza das Nações”, com as ideias básicas do pensamento econômico liberal. A presença do estado deve ser definida e limitada por leis, o poder é da lei e não da pessoa (limitar o poder discricionário das autoridades). Redução dos gastos improdutivos dos governos. Liberdade dos mercados, concorrência defendida por regras do jogo pré-estabelecidas, a menor presença estatal possível.  

GUSTAV KNUT WICKSELL (1911): “Lições de Economia Política”, quase um resumo de suas obras. Introduziu a ideia de taxa de juro de equilíbrio (natural) e suas relações com a inflação. Se o juro de mercado é superior ao de equilíbrio a demanda e os preços caem. O monetarismo racional tem origem em seus estudos.  

IRVING FISHER (1928/1937): desenvolveu os estudos da teoria monetária moderna (tudo passa por ele).

JOHN MAYNARD KEYNES (1936): “Teoria Geral do Trabalho, do Juro e da Moeda”, pode-se dizer que a macroeconomia moderna baseou-se toda ela em seus estudos, foi o tiro inicial que motivou o aprofundamento das pesquisas e o desenvolvimento da matéria (apesar de suas conclusões terem sido influenciadas negativamente pela depressão de 29/30).    
   
FRIEDRICH AUGUST VON HAYEK (1944), publica o livro Caminho da Servidão. Adequou com brilhantismo o pensamento liberal à sua época.

MILTON FRIEDMAN (1962), com a publicação do livro “Capitalismo e Liberdade”, em linguagem acessível a todos, faz o monetarismo renascer, contrapondo-se às conclusões de Keynes, que considerava totalmente erradas (fábrica de estagflação). É o principal autor do liberalismo e monetarismo modernos. Sua principal obra é “A História Monetária dos Estados Unidos”.

Outros autores: 
Karl R. Popper, A Sociedade Aberta e seus Inimigos
Douglass North, Entendendo o Processo de Mudança Econômica
Norberto BobbioLiberalismo e Democracia.

Na vida temos que aceitar o possível frente ao ideal (a difícil escolha do necessário frente ao possível). São os limites que a vida nos impõe, em todos os setores, inclusive nas políticas fiscal, monetária e cambial. A teoria quantitativa da moeda evoluiu e adequou-se aos acontecimentos da economia, como:

a) as medidas dos meios de pagamento, amplo e restrito (M0, M1, M2, M3 e M4);
b) à crise de 29/30 (e conclusões de Keynes e Milton Friedman);
c) a Breton Woods (relação dólar x ouro);
d) às tentativas de câmbio fixo;
e) ao término da relação dólar x ouro e à necessidade prática (bom senso) da adoção do câmbio flutuante. 

Os acontecimentos proporcionaram aprendizados importantes, mas a ideia básica permanece, a relação crescimento da quantidade de moeda (passa a ser entendida como liquidez = tudo que pode se transformar em moeda em menos de 30 dias) e a capacidade de crescimento do PIB (PIB potencial). É a teoria que melhor adequou-se à evolução do padrão ouro para o fiduciário. Os BCs evoluíram seus conhecimentos acompanhando as evoluções dos mercados monetários e financeiros. A ampliação dos mercados financeiros, a melhoria das estatísticas, a publicação das curvas de juros de mercado e os resultados das políticas monetárias permitiram evoluir e ampliar os conhecimentos.

MONETARISMO, UM RESUMO DA EVOLUÇÃO DA TEORIA QUANTITATIVA:

     a)    KNUT WICKSELL estudou as relações, in (taxa de juro natural, a de equilíbrio ideal, mas virtual) x im (taxa de juros de mercado). A taxa natural de equilíbrio (não confundir com taxa básica do BC) é a que permite o crescimento sem inflação, a de mercado é a praticada pelos agentes econômicos. Para Wicksell quando:

       a1) in é maior do que im ocorre inflação (significa que existe liquidez excessiva em relação ao crescimento potencial da economia);
     a2) in é menor do que im ocorre redução da inflação (significa que está acontecendo contração monetária, redução da liquidez).  
    
    Escreveu que um processo inflacionário se constata quando a taxa natural de juros (neutra, de equilíbrio) inicia uma tendência de alta. A causa dos processos inflacionários são os juros de mercado baixos em relação ao natural (neutro ou de equilíbrio). A teoria do juro e da moeda de Wicksell (Johan Gustaf Knut Wicksell, 1851, 1926) é a mais bela construção teórica em economia monetária, pela simplicidade, racionalidade e bom senso (todos, após ele, nadaram em seus estudos). A crítica dos opositores à teoria de Wicksell de que a taxa natural não pode ser quantificada (medida) é facilmente elucidada:

    a3) ocorre um processo inflacionário quando ela (in) está acima da de taxa de mercado (im, esta quantificada);
    a4) quando a in está abaixo da taxa de mercado não ocorre processo inflacionário.  
          
     b)  IRVING FISHER estudou a inflação com uma clareza e racionalidade acessível a todos. Fisher complementa o raciocínio de Wicksell introduzindo o conceito de comparação entre os juros de mercado (nominal, ex-ante, fruto das expectativas de inflação, efetivamente planejado), com o juro acontecido (real, ex-post, efetivamente realizado). Se as expectativas de inflação são maiores do que os juros de mercado, é o pior dos mundos para o processo inflacionário. Para ele a inflação alimenta a expectativa de que os preços continuarão a subir (a inércia). Se os juros ex-post derem negativos (menores do que a inflação ocorrida), diferente do previsto (ex-ante), é prejudicial ao controle da inflação.

    c) MILTON FRIEDMAN estudou a crise de 29/30 e concluiu que ela ocorreu por política monetária frouxa (com aumentos sem controle na quantidade de moeda) que motivou a valorização dos ativos que não moeda acima do racional (fuga da moeda como reserva de valor), as famosas bolhas e a evolução natural do processo, o furo, as desvalorizações e as consequentes perdas das riquezas virtuais, o sentimento de empobrecimento, as insolvências, a crise de crédito, a queda da demanda, a deflação e a depressão. Concluiu que a depressão ocorreu pelo Fed ter permitido a queda da quantidade de moeda (liquidez) em 1/3 e a quebra de 5000 bancos. Se tal não tivesse acontecido os sofrimentos teriam sido muito menores concluiu ele. Alguns sofrimentos ocorreriam, mas suportáveis. A autoridade monetária deve também impedir o empoçamento da liquidez (possível de ocorrer por aversão ao risco e expectativa de deflação) para impedir a queda do crédito e das atividades. Concluiu que a moeda deve ter um crescimento constante, sem flutuações, previsível, algo entre 3 e 5% (hoje sabemos poder crescer 2% acima do PIB potencial para combater recessão ou expectativa de depressão). 

     d)  ESCOLA AUSTRÍACA (LIBERTÁRIA) apesar de se denominar liberal (muitos escrevem libertária) é diferente do pensamento original por não ter uma posição clara sobre uma das principais funções do estado liberal moderno (as democracias liberais, o estado democrático do direito) que é REGULAR (e não operar). Acreditam no livre mercado (livre concorrência) enquanto os liberais defendem normas que defendam as regras do jogo (a concorrência, o mercado). Os liberais defendem que o poder deve ser das normas e não das autoridades, os libertários aproximam-se mais da ausência de autoridades. São contra a existência de um Banco Central e por extensão contra o liberalismo e monetarismo de Milton Friedman. No geral são mais próximos do que distantes dos liberais.

TN (tesouro nacional) e BC (banco central): recursos com o TN e o mercado são semelhantes (liquidez). Recursos com o BC são considerados fora do mercado, não afetam as atividades.

O TRIPÉ (superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante): o superávit primário (utilizado para dívida considerada superior à capacidade de pagamento dos governos) e a meta são redutores do poder discricionário das autoridades (fiscal e monetária), já que as limitam e obrigam a perseguir um objetivo. O câmbio flutuante também reduz o poder discricionário, já que elimina o administrado (um poder discricionário).

RELAÇÃO ENTRE POLÍTICA MONETÁRIA E POLÍTICA FISCAL: a Política Monetária (executada pelo BC) deve ser harmônica com a Política Fiscal (executada pelo executivo), pois uma complementa a outra.

EFEITOS DA TAXA BÁSICA E DO DEPÓSITO COMPULSÓRIO:

     a)  TAXA BÁSICA: é a principal e mais poderosa ferramenta que o BC utiliza para controlar a inflação, é uma variável controlável. É uma taxa de cp (1 dia) fixada pelo BC objetivando influenciar as expectativas inflacionárias, podendo ser modificada a qualquer momento. Deve ser fixada acima da taxa de equilíbrio (neutra ou natural) para influenciar a expectativa inflacionária modificando-a de ascendente para descendente, e, por extensão, as taxas de juros de mercado de longo prazo (neste sentido reduz o custo de captação, permite alongar e aumentar o volume negociado no lp pelo TN). A parte longa da curva de juros de mercado passa a ficar descendente. Em um segundo momento a taxa básica pode ser reduzida acompanhando a queda da inflação. É uma taxa do BC para administrar a política monetária e que não deve ser utilizada pelo TN para financiar-se (aceita-se apenas para uma pequena parte da dívida pública). Por ser básica é a menor taxa do mercado. É a variável que consegue modificar a relação in e im. 

Com in maior do que a im. Um aumento da taxa básica aumenta os juros do aplicador (o BC consegue retirar moeda do mercado) e do tomador, inclusive os juros de cp (os juros de lp caem no segundo momento) para o TN (e para a parte do estoque da dívida indexada à taxa básica), a liquidez, as atividades e a demanda caem. Os investimentos são postergados na expectativa do sucesso do BC na redução do processo inflacionário para a seguir voltar com mais intensidade. A taxa básica pode cair assim que o processo inflacionário é controlado (muda de ascendente para descendente).

     b)    DEPÓSITO COMPULSÓRIO: sua principal utilização tem a finalidade prudencial, mas tem também efeitos na liquidez e na inflação. 

Com in maior do que im. Um aumento no percentual do depósito compulsório (DC) provoca os efeitos sequenciais: a liquidez cai e os juros de mercado sobem na ordem a seguir, primeiro para o TN e tomadores, após para os aplicadores. A demanda e os investimentos caem. É uma medida estática com efeitos menos eficazes do que o aumento da taxa básica. Deve ser utilizada apenas como medida prudencial. A relação in x im pode aproximar-se da igualdade. 
     
     Com im maior do que in a inflação cai.

im < in : + DC - Poupança; + C; + Lucros; + I; + Salários; + NUFP; + INFLAÇÃO.
im > in : - DC + Poupança; - C; - Lucros; - I; - Salários; - NUFP; - INFLAÇÃO
NUFP = nível de utilização dos fatores de produção.
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A ESCOLHA DOS POUPADORES: MOEDA PÁTRIA X OUTROS ATIVOS
ATIVO
RISCOS
RENDA DOS POUPADORES
DESTINO, FINALIDADE
MOEDA (preferência pela liquidez)
Guarda
Evita perda com deflação,
desvalorizações de títulos e insolvências.
Entesourar moeda.
APLIC. FINANC. Renda Fixa Pré
Inflação, Juros subirem (cai valor títulos)
Juros (- Inflação - IRF).
Financiamentos (empresas e pessoas).
APLIC. FINANC. CM, Índices
A parte de juros subir (cai valor títulos)
Juros + CM - IRF
Financiamentos (empresas e pessoas).
BOLSA
Desvalorizações
Dividendos. + - Variações no valor
Aumento de Capital, Transferências.
IMÓVEIS, TERRENOS, AMPLIAÇÕES
Liquidez, desvalorizações
Alugueis + -  Variações no Valor
Locatários (empresas e pessoas).
ESTOQUES, MAQUINÁRIOS
Depreciações tecnológicas (inovações)
Valorizações
Consumo futuro.
OUTRAS MOEDAS
Desvalorizações
Juros + - Variações Cambiais
Câmbio.
OURO
Desvalorizações
Valorizações
Entesourar

0        7/2015. MAGECONOMIA.

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