sábado, 15 de setembro de 2012

CRISES E BOLHAS. OURO E COMMODITIES.


CRISES E BOLHAS. OURO E COMMODITIES - 12/2008.

1) USA, SET./2001 - ATAQUE A TORRES GÊMEAS. Fed inicia queda da taxa básica, cai até 1% (01/2002 a 08/2004). Preços dos imóveis subiram (bolha). Quando a moeda não cumpre a função de reserva de valor os agentes refugiam-se em outros ativos e as bolhas se formam. Ampliaram os empréstimos com garantias hipotecárias e juros mais altos (a valorização dos imóveis permitia). Por falta de opções (as outras taxas de juros eram menores) todos os bancos embarcaram na bolha dos sub-prime (financiamentos hipotecários de maior risco).

2) USA, SET./2008 (LB)- Em 2006 o Fed sobe a taxa básica (12/2005 a 08/2007). Os preços dos imóveis começam a cair e a inadimplência começa a subir. Em 2007 a crise tem início. Em set./2008 agravou-se (transformou-se em crise de liquidez, de crédito e de confiança.).

3) Nas crises o que sobe mais (bolha) é  também o que desce mais. A descida é mais rápida do que a subida.

4) A Euforia (emoção faz a ganância suplantar a razão) forma a bolha (crescimento).

5) O Medo provoca a fuga dos ativos e fura a bolha  (recessão ou redução do crescimento). O crédito e a liquidez são afetados. A crise de confiança instala-se.

6) JAPÃO (DÉCADA de 1980)- crise imobiliária. Imóveis valorizaram. A bolsa atingiu 40.000 pontos (em set./ 2008 ainda estava em 12.000).

7) USA, NASDAQ (2000)- caiu de 5048 pontos (03/2000) para 2240 (09/2008).

8) O QUE FAZ BOLHAS E CRISES? TAXA BÁSICA INADEQUADAMENTE BAIXA POR MUITO TEMPO. A MOEDA NÃO CUMPRIR A FUNÇÃO DE RESERVA DE VALOR. IRRESPONSABILIDADES NA POLÍTICA FISCAL (DÉFICITS FISCAIS SUPERIORES A 3% DO PIB, OU POR MUITOS ANOS SEGUIDOS, PRESSIONANDO A RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA PIB).

9) COMO  EVITAR CRISES? SUBIR A TAXA BÁSICA, AOS POUCOS, ATÉ O PONTO MAIS NEGOCIADO DA CURVA DE JUROS DE LONGO PRAZO.

10) COMO COMBATER CRISES JÁ INSTALADAS: DAR LIQUIDEZ AO MERCADO (CAIR BÁSICA E REDESCONTO). AMPLIAR PRAZOS DE FINANCIAMENTOS (ADEQUAR A FLUXOS DE CAIXA). SE O PAÍS TEM PROBLEMAS NO BALANÇO DE PAGAMENTOS (SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES) A TAXA BÁSICA NÃO DEVE SER REDUZIDA (DEVE IR PARA O PONTO MAIS NEGOCIADO DA CURVA DE LONGO PRAZO PARA REDUZIR IMPORTAÇÕES).

11) BRASIL 1971/72 - A QUEDA APÓS ALTA DA BOLSA BRASILEIRA EM 1971/72 (MILAGRE ECONÔMICO) SÓ FOI REVERTIDA 16 ANOS DEPOIS, EM 1986 (PLANO CRUZADO), CAINDO EM SEGUIDA. APÓS O PLANO REAL O CRESCIMENTO FOI MAIS CONSISTENTE. ACONTECEU A QUEDA POR MEDO DO LULA E DO PT (2002/03), SENDO TAMBÉM REVERTIDA. MAG 12/2008.

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A SAÍDA DE TODAS AS CRISES EXIGIRÁ ALGUM TIPO DE SOFRIMENTO. SE BEM GERENCIADA EXIGIRÁ A ADEQUAÇÃO A UM PADRÃO DE VIDA POSSÍVEL E SUSTENTÁVEL. O PADRÃO ANTERIOR MANTIDO POR IRRESPONSABILIDADE FISCAL E/OU MONETÁRIA, INVIÁVEL E INSUSTENTÁVEL NÃO CONSEGUIRÁ SER MANTIDO. O SOFRIMENTO ATINGIRÁ A TODOS, CREDORES E DEVEDORES.

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A MOEDA - RESUMO HISTÓRICO.
Publicado em 03/2011 no site magconsultoria.uaivip.com.br

ITEM 10 DO ARTIGO) AS DESVALORIZAÇÕES DAS PRINCIPAIS MOEDAS DESDE A ANTIGUIDADE (um breve resumo): as moedas metálicas tinham o seu valor baseado no seu peso e pureza (ouro, prata). Os romanos para financiar suas guerras de conquistas reduziam o peso e a pureza do ouro contido nas moedas (era um tipo de inflação ou desvalorização da moeda). Os governos imperiais e monárquicos achavam-se no direito de falsificar a moeda da mesma maneira que os romanos. Nos tempos mais contemporâneos muitas nações deixaram de honrar o compromisso com sua moeda. Podemos enumerar os prejuízos (tipo de moratória ou quebra) que deram: 
a) a Inglaterra deixou de honrar a conversibilidade da Libra esterlina em ouro na primeira guerra mundial (após a guerra, em 1925, retornou para a conversibilidade à paridade de antes da guerra, um tiro no peito); 
b) em 1931 a França resolveu transformar toda a sua reserva em ouro. A Inglaterra não tendo como honrar suspendeu a conversibilidade da Libra esterlina; 
c) em 1944, na conferência de Bretton Woods os USA comprometeram-se a garantir a conversibilidade do dólar em ouro ao preço de US$35,00 por onça-troy. Em 1968 os USA estabeleceu dois preços para o ouro, um oficial apenas para os bancos centrais, outro livre para outros agentes econômicos; 
d) em 15/08/1971, os USA, abandonam totalmente a conversibilidade do dólar em ouro. Em março de 1973 os países industrializados abandonam a paridade fixa com o dólar, deixando suas moedas flutuarem em relação ao mesmo enterrando de vez o sistema de Bretton Woods; 
e) em 1979 os principais países da Europa decidiram criar um sistema monetário regional (o EURO). O ouro chegou a valer mais de US$800,00 (1980), caindo para US$300,00 em 1985 (as negociações ou especulações como alguns definem alcançaram uma intensidade de movimentação imprevisível). Na primeira década do século 21 o dólar passa a ter circulação muito maior do que a economia dos USA  (na verdade os USA passam a viver de emitir moeda). O regime de câmbio fixo só se justificaria se o dólar fosse conversível em ouro a uma paridade fixa (Bretton Woods). Se o dólar é apenas uma moeda escritural, seu valor dependerá da política monetária e da economia americana (a capacidade dos USA oferecer alguma riqueza real em troca dos dólares). O capital (direitos de receber dividendos, juros, de retorno de capitais) de residentes nos USA no exterior deve ser considerado nesta análise.    
MAG -  03/2011.

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COMMODITIES MUNDIAIS - PREÇOS (BCB)
DATAS
OURO
PETR.
Brent.
Milho
Café
Soja
Suco
Laran.
Açúcar
Trigo
2002
348,2
28,66
235,75
60,2
569,5
91,75
7,61
325,0
2003
416,1
30,17
246,0
64,95
789,0
60,75
5,67
377,0
2004
438,4
40,46
204,75
103,75
547,75
86,1
9,04
307,5
2005
518,9
58,98
215,75
107,1
602,0
125,2
14,68
339,3
2006
638,0
60,86
390,25
126,2
683,5
201,3
11,75
501,0
2007
838,0
93,85
455,5
136,2
1199
143,6
10,82
885,0
2008
884,3
45,59
407,0
112,05
972,25
68,55
11,81
610,8
2009
1096
77,93
414,5
135,95
1039,8
124,0
26,95
541,5
2010
1421
94,75
629,0
240,5
1393,8
172,35
32,12
794,3
2011
1567
107,38
646,5
226,85
1198,5
169,0
23,30
652,75
08/2012
1685
114,57
802,75
164,55
1764,50
131,90
19,78
870,00
% mês
4,64
9,20
-0,46
-5,65
2,53
20,02
-12,63
-2,05
% ano
7,56
6,70
24017
-27,46
47,23
-21,95
-15,11
33,28
% 12 meses
-7,87
-0,24
5,97
-43,08
21,77
-21,74
-33,36
16,74

Em 2008 os preços que não caíram foram os do ouro e os do açucar. Em 2009 todos os preços subiram, menos os do trigo. Em 2010 todos os preços subiram. Em 2011 os preços das commodities agrícolas Café, Soja, Suco Laranja, Açúcar e Trigo caíram. O Ouro e o petróleo subiram. Em 2012 até agosto o Ouro havia subido 7,56%, e caído -7,87% no acumulado de 12 meses (em outros anos também aconteceram quedas durante o ano, mas em dez. sempre fecharam positivo).

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CONJUNTURA PROSPECTIVA – USA, EURO, BRASIL. 09/2012.

 USA: por ainda emitir a moeda reserva mundial, por ter a liderança nas inovações tecnológicas, por ter sua dívida em dólar, por ser o país líder em multinacionais (que remetem dividendos), por ser um dos maiores produtores de commodities agrícolas, pecuárias e industriais, por ser o maior produtor de armamentos e deter a mais moderna tecnologia e ainda por ter como aliados os países que têm ativos dolarizados (a desvalorização abrupta traria prejuízos para eles), pode adotar uma política monetária e fiscal mais expansionista e por mais tempo. Os déficits fiscais, do balanço comercial e da conta saldo em transações correntes podem ser financiados. Na aversão ao risco todos correm para os títulos americanos (perdem em rentabilidade, juros, mas garantem o capital.).  Os ativos que não moeda disputam a preferência dos investidores e dos poupadores. Os imóveis e o ouro formam bolhas que furam em épocas diferentes. Os imóveis desvalorizam quando as previsões das atividades ficam negativas. O ouro valoriza quando a monetização é inadequadamente superior ao crescimento do PIB e desvaloriza quando a crise acaba e a economia volta ao normal.
O passivo americano, dívida e moeda entesourada pelo mundo, apesar dos déficits no balanço comercial e no saldo da conta de transações correntes, é gerenciável com a desvalorização do dólar. A dívida real cai, os preços dos produtos americanos também caem e ficam competitivos, mas o padrão de vida também cai com a queda do poder de compra da moeda. O PIB efetivo cai, mas o país pode iniciar novo ciclo de crescimento.

EURO: a irresponsabilidade fiscal de alguns países membros (incluído aí a má utilização de recursos) e a ganância (que cega análise racional) dos bancos permitiu a crise da moeda. A falta de um emprestador de última instância e a crise americana fizeram a moeda quase implodir. De fato apenas a Grécia seria um caso insolúvel. Os outros foram pegos no arrastão (o medo). A solução ainda não foi encontrada e também será longa e sofrida (padrão de vida terá que ser adequado ao possível).

BRASIL: o aumento dos preços das commodities comercializadas pelo país (agrícolas, pecuárias, industriais), a maturidade alcançada pela democracia brasileira (parar de culpar a terceiros por seus erros) de respeitar contratos e tratar honestamente e com simpatia os investidores e os clientes (os compradores de nossos produtos e serviços), as corretas políticas monetária e fiscal (o tripé, superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação), fez, inicialmente, aumentar o saldo do balanço comercial brasileiro e da conta saldo em transações correntes, reduzindo a dívida externa e atraindo capitais. A moeda brasileira valorizou-se em razão da melhoria dos termos de troca e da correta política econômica, aumentando o poder de compra dos brasileiros (inclusive das empresas), a demanda e o PIB. O parque industrial pode comprar novas tecnologias e maquinários adequando-se às exigências dos mercados. Foram 16 anos de continuidade de política econômica vitoriosa. Faltaram as reformas para adequar o país à evolução do mundo (as relações de mercado).
O Brasil não pode abrir mão do tripé (já citado) e ceder à pressão dos lobbies empresariais que desejarem reserva de mercado, fazer do mercado brasileiro um cartório para defesa de seus interesses, contra a qualidade de vida de todos os brasileiros, para atender a seus lucros extras ou incompetências. Isto é apostar no atraso.

AS REFORMAS:

TRIBUTÁRIA: simplificar e eliminar guerra fiscal entre estados e municípios.

PREVIDENCIÁRIA: adequar-se ao possível e eliminar as injustiças dos privilégios. O plano tem que ter consistência atuarial. Estudo assinado por no mínimo três atuários com fundamentação (e revisão e crítica de outros três) deve anteceder a aprovação pelo congresso. Os tributos e os penduricalhos cobrados na folha devem ser eliminados.

RELAÇÕES CAPITAL X TRABALHO (CLT): A relação capital x trabalho deveria ser mais flexível validando acordos entre sindicatos dos trabalhadores e de empresas e também entre sindicato e empresa (individualmente). O imposto sindical obrigatório deve ser eliminado (de patrões e de empregados). As leis trabalhistas devem sofrer um afrouxamento.

POLÍTICA: eliminar a representatividade de partidos políticos que não alcançarem 5% dos votos válidos. Isto para cada eleição separadamente. Um partido poderá ter representação em uma câmara de vereadores ou deputados e não ter em outra Isto possibilitaria o crescimento dos partidos e respeitaria a vontade dos eleitores de cada distrito ou cidade.  

terça-feira, 11 de setembro de 2012

SELIC NEGATIVA, INFLAÇÃO E DESEMPREGO.


SELIC (taxa básica) X DI 360 (taxa de mercado).
SELIC X DI 360 
Meses
 
2008
PIB 5,2% 
2009
 PIB -0,36%
2010
 PIB 7,5%
2011
 PIB 2,7%
2012
 PIB 1,8%
DI 360  SELIC DI 360 SELIC DI 360 SELIC DI 360 SELIC DI 360 SELIC 
JAN. 12,08 E11,25 11,16 C12,75 10,46 E8,75 12,44 E11,25 9,55 C10,5
FEV. 11,92 E11,25 10,62 C12,75 10,75 E8,75 12,62 E11,25 9,41 C10,5
MAR. 12,69 E11,25 9,79 C11,25 10,85 E8,75 12,29 E11,75 8,96 C9,75
ABR. 13,21 E11,75 9,88 C10,25 11,66 E8,75 12,58 E12 8,33 C9
MAI. 13,75 E11,75 9,34 C10,25 11,54 E9,5 12,45 E12 7,93 C8,5
JUN. 14,45 E12,25 9,23 E9,25 11,86 E10,25 12,65 E12,25 7,57 C8,5
JUL. 14,58 E13 9,21 E8,75 11,16 E10,75 12,58 E12,5 7,46 C8
AGO. 14,57 E13 9,2 E8,75 11,1 E10,75 11,22 C12 7,49 C7,5
SET. 14,43 E13,75 9,65 E8,75 11,28 E10,75 10,39 C12
OUT. 15,34 E13,75 9,93 E8,75 11,21 E10,75 10,3 C11,5
NOV. 15,34 E13,75 10,12 E8,75 11,94 E10,75 9,66 C11,5
DEZ. 12,17 C13,75 10,4 E8,75 12,03 E10,75 10,04 C11
SELIC MAIOR DO QUE DI 360 = CONTRACIONISTA (C), em amarelo. MENOR = EXPANSIONISTA (E), em azul.
IPCA (meta 4,5% a.a; 0,367485% a.m)
ANO Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Ano
2008 0,54 0,49 0,48 0,55 0,79 0,74 0,53 0,28 0,26 0,45 0,36 0,28 5,9
2009 0,48 0,55 0,20 0,48 0,47 0,36 0,24 0,15 0,24 0,28 0,41 0,37 4,31
2010 0,75 0,78 0,52 0,57 0,43 0,0 0,01 0,04 0,45 0,75 0,83 0,63 5,91
2011 0,83 0,80 0,79 0,77 0,47 0,15 0,16 0,37 0,53 0,43 0,52 0,50 6,50
2012 0,56 0,45 0,21 0,64 0,36 0,08 0,43 0,41 x x x x 3,18

JUROS REAIS EX-POST (DI 360 - 20% IRF - IGPM)
ANO Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Ano
2008 -0,354 0,11 -0,07 0,03 -0,91 -1,21 -0,92 1,13 0,77 -0,04 0,42 1,026 0,174
2009 1,272 0,42 1,516 0,822 0,686 0,684 1,054 0,912 0,132 0,502 0,428 0,836 9,624
2010 -0,102 -0,708 -0,332 -0,242 -0,59 -0,218 0,538 -0,058 -0,478 -0,362 -0,802 0,054 -3,52
2011 -0,102 -0,328 0,116 0,172 0,352 0,94 0,90 0,416 0,1 0,174 0,188 0,84 4,18
2012 0,462 0,652 0,218 -0,29 -0,436 -0,148 -0,796 -0,878 x x x x -1,254
DI 360 (no Brasil é semelhante à Selic.).
O DI 360 (taxa nominal de mercado, semelhante à Selic) líquido de IRRF e do IGPM (i real ex-post de mercado) de 2009 (9,624%) não impediu  o crescimento de 7,5% do PIB em 2010 e um IPCA de 4,31% em 2009 e de 5,9% em 2010. Já em 2010, apesar de ter sido negativa (-3,52%), só conseguiu motivar um crescimento do PIB de 2,7% em 2011 e um IPCA de 6,5% (taxa básica negativa amedronta mais do que motiva). A taxa básica (Selic) negativa de 2012 está amedrontando e motivando  um crescimento menor ainda. Taxas negativas de juros trazem insegurança e instabilidade aos mercados (todos procuram se refugiar em ativos que não a moeda pátria). Keynes, Lênin e todos de bom senso e racionais sabem que a melhor maneira de desestabilizar e desorganizar uma economia é desmoralizando sua moeda (as autoridades monetárias desmoralizam junto.).
Considerando que a análise econômica é complexa e não aceita definições reducionistas (são inúmeras variáveis e agentes, o tempo), motivo de interpretações divergentes por linhas de pensamento, entretanto algumas evidências foram e são comprovadas por dados e fatos. Dito isto, afirmamos que: a taxa básica tem mais força negativa, para reduzir as atividades, do que positiva, para expandi-las. A moeda estável é condição necessária para o crescimento sustentado, mas não o suficiente. Podemos afirmar que a história comprovou que a inflação é causa de desemprego e se não combatida adequadamente é causa da estagflação (inflação sem crescimento). Uma taxa básica frouxa ou negativa não causará crescimento sustentado, mas bolhas nos preços dos ativos que não moeda e crise na hora que furar (imprevisível).
O DI 360 é uma taxa de juro nominal de mercado para 360 dias (ex-ante, a inflação prevista está embutida). Se as expectativas do mercado forem positivas, se os agentes estiverem prevendo aumento das atividades e dos lucros, estes se dispõem a pagar mais juros (os lucros compensarão). Claro que outras variáveis (internas, externas, liquidez, normativas e outras) também influenciam a taxa nominal de juro de mercado. Mas se os agentes estiverem prevendo queda das atividades e dos lucros, reduzem a demanda por crédito (o risco aumenta e os bancos ficam mais seletivos) e a taxa de juro nominal de mercado normalmente cai (a selic deve acompanhar). O BC influencia a taxa nominal de mercado se tiver credibilidade e se suas previsões forem racionais (de acordo com o mercado) e aceitáveis. Se o mercado estiver prevendo aumento das atividades e da inflação, não adianta o BC tentar influenciar com argumentos considerados não racionais (ele perde a credibilidade). Neste caso se ele abaixar a taxa básica, a taxa nominal longa de mercado subirá, acompanhando as expectativas de inflação.     MAG  

domingo, 9 de setembro de 2012

INFLAÇÃO E DESEMPREGO - HAYEK


INFLAÇÃO, MÁ ALOCAÇÃO DE MÃO DE OBRA E DESEMPREGO.
Friedrich A. Hayek (1889 – 1992). Trechos do artigo.

Três escolhas de política
A verdade inquietante — mas inalterável — reside no fato de que a enganosa política monetária e creditícia adotada durante quase todo o período posterior à Segunda Guerra Mundial levou os sistemas econômicos de todos os países industriais do Ocidente a uma situação muito instável: qualquer coisa que façamos redundará nas mais desagradáveis consequências.  Restam-nos apenas três opções:
1. Permitir que continue o acelerado processo inflacionário até que ele leve à completa desorganização de toda a atividade econômica. 
2. Controlar salários e preços, o que encobriria os efeitos de uma inflação continuada, mas, por outro lado, nos levaria, inevitavelmente, a um sistema econômico totalitário, dirigido centralmente. 
3. Frear com firmeza o aumento da quantidade de dinheiro, medida esta que, fazendo surgir um desemprego substancial, traria à tona todos os problemas decorrentes de um direcionamento errôneo da alocação da mão de obra, problemas estes que, causados pela inflação dos anos anteriores, se tornariam, no entanto, ainda mais graves no caso de se optar por qualquer uma das duas outras alternativas. 

Minha situação não é nada agradável: durante quarenta anos repeti que o momento de prevenir o advento de uma depressão tem lugar durante o auge da prosperidade.  Nesta época, porém, ninguém me deu ouvidos.  Agora, muitas pessoas vêm perguntar-me como evitar as consequências desta mesma política contra a qual sempre me coloquei abertamente.  Eu teria que endossar promessas feitas pelos chefes de governo de todos os países industriais do Ocidente a seus povos no sentido de que eles poderão estancar a inflação e preservar o pleno emprego.  No entanto, tenho certeza de que eles não podem cumpri-las.  Chego mesmo a temer que as tentativas de protelar a crise inevitável com um novo empurrão inflacionário possam ter algum êxito temporário, o que certamente tornará o colapso ainda pior. 

É possível identificar três fases bem distintas no desenvolvimento do pensamento de Keynes.  A princípio ele reconheceu a necessidade de reduzir os salários reais.  A seguir, concluiu que tal medida seria politicamente inviável.  Depois, convenceu-se de que esta redução seria inútil e até mesmo nociva.  O Keynes de 1919 ainda entendia que: "não há meio mais sutil nem mais seguro de subverter a ordem social do que o aviltamento da moeda.  Trata-se de um processo que mobiliza todas as forças ocultas da lei econômica a favor da destruição, e o faz de maneira tal que em um milhão de pessoas não há uma só que seja capaz de fazer um diagnóstico."
A avaliação política que Keynes fazia da situação o tornou o grande inflacionista, ou pelo menos o mais ávido antideflacionista dos anos 1930.  Tenho, no entanto, boas razões para crer que ele desaprovaria o que fizeram os seus seguidores no período de pós-guerra.  Se não tivesse morrido tão cedo, teria sido, certamente, um dos líderes na luta contra a inflação. 

A teoria de Keynes — uma tentação para os políticos
O fato de a teoria keynesiana ter dado aos políticos oportunidades tentadoras foi provavelmente ainda mais importante do que o seu aspecto, então muito em voga, de método científico, aspecto este que a fez parecer tão atraente para os economistas profissionais.  Esta teoria representava para os políticos não apenas um método barato e rápido de eliminar uma importante fonte de sofrimento humano, mas também um meio de se libertarem das duras restrições que os cerceavam quando objetivavam alcançar popularidade.  De repente, medidas como gastar dinheiro e gerar déficits orçamentários passaram a ter uma conotação extremamente positiva.  Argumentava-se, com profunda convicção, que a expansão dos gastos públicos era totalmente meritória, uma vez, que propiciava a utilização de recursos até então ociosos, o que, além de nada custar à comunidade, trazia-lhe um ganho líquido. 

4. A inflação acaba aumentando o desemprego
No entanto, por que todo esse medo da inflação? Não deveríamos tentar aprender a conviver com ela, como alguns países sul-americanos parecem ter feito, principalmente no caso de ela ser, como alguns acreditam, necessária para manter o pleno emprego? Se esta hipótese é verdadeira e se os danos decorrentes da inflação são apenas aqueles que muitos apregoam, é, então, o caso de considerarmos seriamente essa possibilidade de convívio. 
Por que não podemos viver com inflação
Há dois motivos para que não possamos conviver com a inflação.  O primeiro reside no fato de que tal inflação, para atingir a meta desejada, teria que acelerar-se constantemente; ora, uma inflação em aceleração constante mais cedo ou mais tarde há de atingir um grau que tornará impossível qualquer ordem efetiva de uma economia de mercado.  O segundo — e o mais importante — está na certeza de que, a longo prazo, essa inflação criará, inevitavelmente, um volume de desemprego muito maior do que aquele que pretendeu evitar. 
O argumento, frequentemente apresentado, de que a inflação simplesmente gera uma redistribuição do produto social, enquanto o desemprego reduz este produto, representando, portanto, um mal maior, é falso porque é a inflação que, na verdade, se torna causa de aumento do desemprego. 

Evitar que a recessão degenere em depressão
Se eu fosse, hoje, responsável pela política monetária de um país, certamente tentaria de todas as maneiras possíveis evitar uma deflação iminente, ou seja, uma queda absoluta nos fluxos de renda.  Além disso, deixaria bem claro o meu propósito de assim proceder.  Por si só, esta medida provavelmente seria suficiente para evitar que a recessão se degenerasse numa depressão de longa duração. 
A recuperação de um mercado no sentido de que ele volte a funcionar adequadamente, porém, ainda exige a reestruturação do complexo representado pelo sistema de preços relativos e salários, bem como uma readaptação à expectativa de preços estáveis, o que pressupõe muito maior flexibilidade em relação aos salários do que a que hoje existe, não ouso fazer uma previsão das probabilidades de que o mercado chegue à fixação dos salários relativos, nem mesmo posso prever quanto tempo este processo consumiria.

O sonho keynesiano
O sonho keynesiano findou, muito embora seus fantasmas estejam, há várias décadas, como que dominando os políticos.  Seria excelente — embora isto certamente signifique desejar demais — que a expressão "pleno emprego", agora tão intimamente associada à política inflacionária, pudesse ser deixada de lado, ou que pelo menos estivesse sempre presente a lembrança de que ela foi o objetivo de economistas clássicos muito anteriores a Keynes.  John Stuart Mill fala, em sua autobiografia, sobre como "o pleno emprego com altos salários", na sua juventude, era tido como o principal desideratum da política econômica.

Disciplinando as autoridades monetárias
Seria bom poder dividir com meu amigo Milton Friedman a confiança que tem no fato de que se poderiam evitar abusos de poder, por parte das autoridades monetárias para fins políticos, se se destituíssem estas autoridades de todo e qualquer poder discricionário, prescrevendo a soma de dinheiro que elas poderiam e deveriam, a cada ano, acrescentar ao meio circulante.  Talvez ele considerasse isto viável porque, para efeitos estatísticos, ele acostumou-se a distinguir com precisão a linha divisória entre o que é e o que não é considerado dinheiro.  Essa distinção, no entanto, não existe no mundo real. 
Para garantir que tudo o que é quase-dinheiro possa ser convertido em dinheiro propriamente dito — o que se faz necessário para evitar pânico ou graves crises de liquidez —, estou certo de que é preciso que as autoridades monetárias tenham um certo grau de arbítrio.  Concordo com Friedman, no entanto, quando diz que temos de tentar voltar a um sistema mais ou menos automático, se quisermos regular a quantidade de dinheiro dos tempos normais. 

DESEMPREGO: CONSEQUÊNCIA INEVITÁVEL DA INFLAÇÃO
O primeiro dever de qualquer economista que mereça este nome parece-me ser o de acentuar, em todas as oportunidades, o fato de que o desemprego de hoje é a consequência direta e inevitável das chamadas políticas de pleno emprego que, nos últimos vinte e cinco anos, vêm sendo seguidas.  Muita gente ainda acredita equivocadamente que um aumento da demanda agregada eliminará, por algum tempo, o desemprego.  Esta solução para o desemprego, muito embora, no mais das vezes, seja bastante eficiente a curto prazo, longe de ter efeitos positivos, vai gerar, mais tarde, um desemprego muito maior.  E só a compreensão deste fato pode impedir o público de exercer uma pressão irresistível para retomar a inflação assim que o desemprego for aumentando consideravelmente. 

Não há possibilidade de escolha entre inflação e desemprego
A inflação tem, obviamente, muitos outros efeitos nocivos, muito mais graves e dolorosos, aliás, do que podem supor as pessoas que não vivenciaram um processo inflacionário severo.  Mas o efeito, mais devastador, e ao mesmo tempo o menos compreendido, é que a inflação, a longo prazo, inevitavelmente leva ao desemprego em grande escala.