domingo, 17 de março de 2019

A CRISE DA MACROECONOMIA. O DESENVOLVIMENTISMO (HETERODOXIA) APELIDADO DE UM NOVO PARADIGMA MACROECONÔMICO.



A CRISE DA MACROECONOMIA. O DESENVOLVIMENTISMO (HETERODOXIA) APELIDADO DE UM NOVO PARADIGMA MACROECONÔMICO.  

Análise resumida por tópicos de artigo publicado no VALOR: A CRISE DA MACROECONOMIA.
     
      1)    A moeda fiduciária contemporânea é essencialmente uma unidade de conta.  

COMENTO: uma análise sintética deve no mínimo observar as 3 funções essenciais: Unidade de Conta, aceitação como Meio de Pagamento nacional (ou também mundial), e principalmente Reserva de Valor nacional (ou também mundial), se é conversível ou não. Milton Friedman ensinou que nas crises (recessões) os BCs não devem deixar a liquidez cair (ele escreveu quantidade de moeda que influencia a liquidez). É o que o Fed pratica hoje. Qual a novidade? A relação dólar e países que o aceitavam como reserva de valor. A entrada da China e dos países da desfeita URSS modificou a relação QUANTIDADE DE DÓLAR (liquidez e aceitação como meio de pagamento) x TAMANHO DO MERCADO (do PIB, países que passaram a aceitar e poupar em dólar, os que abriram sua economia). Se o tamanho do mercado aumentou, o Fed (USA) teve que aumentar a liquidez, e o fez através dos QE – quantitative easing. A China principalmente, os tigres asiáticos, o Japão e a Europa, com seus superávits comerciais sustentaram a demanda (e déficits) dos USA sem inflação (mas aconteceu uma inflação nas commodities mundiais). Todos poupam suas reservas em dólar (títulos dos USA) e é sabido que nas crises a moeda mais forte se valoriza e a demanda por títulos dos USA  aumenta (por ser o país mais seguro) e os juros longos caem. O inverso acontece com os países que não emitem moedas conversíveis, e pior ainda com os que suas moedas não são utilizadas pelos nacionais como reserva de valor (são utilizadas apenas como meio de pagamento).

     2)    A moeda é endógena, criada e destruída à medida que a atividade econômica e a riqueza financeira se expandem ou se contraem. Sua expansão ou contração é consequência, e não causa, do nível da atividade econômica.

COMENTO: o conceito moderno de moeda é o de liquidez (todos os ativos que podem ser monetizados em no máximo 30 dias). Se as atividades (demanda) caem, cai também a liquidez. As análises de conjuntura devem pesquisar se as atividades caíram por causa da queda da liquidez ou se esta caiu por causa da queda das atividades. Sabemos que as causas sempre são múltiplas e que os efeitos de hoje serão as causas de efeitos futuros. E a experiência ensina que nunca aconteceu um processo inflacionário sem expansão monetária superior ao PIB potencial.    

     3)    Moeda e impostos são indissociáveis. A moeda é um título de dívida do Estado que serve para cancelar dívidas tributárias. Como todos os agentes na economia têm ativos e passivos com o Estado, a moeda se transforma na unidade de contabilização de todos os demais ativos e passivos na economia. A aceitação da moeda decorre do fato de que ela pode ser usada para quitar impostos.

COMENTO: um conceito reduzido, pois a aceitação pode ser a legal (curso legal, lei), o poder do PIB do país emissor e da riqueza acumulada (o capital que produz o PIB) e outras variáveis. A aceitação pode acontecer como meio de pagamento e não acontecer como reserva de valor.

     4)    O governo não tem restrição financeira, mas é obrigado a respeitar a restrição da realidade, sob pena de pressionar a capacidade instalada, provocar desequilíbrios internos e externos e criar pressões inflacionárias.
     
     COMENTO: aí concorda com os monetaristas. A relação velocidade (e capacidade) de crescimento da oferta x velocidade de crescimento demanda. Existindo recursos ou crédito externo pode-se importar.  Após um ciclo de correções (sempre com sacrifícios) de barbeiragens monetárias, cambiais e/ou fiscais, sempre aparece a turma do pensamento mágico para aproveitar-se, prometendo milagres.    

      5)    O terceiro pilar é a constatação de que o Banco Central fixa a taxa de juros básica da economia, que determina o custo da dívida pública.

COMENTO: O BC determina a taxa de juros de curtíssimo prazo (TAXA SELIC), mas a transmissão da política monetária se dá por meio das taxas de mercado em diferentes horizontes (as taxas nominais de juros de longo prazo), que não são controladas pela autoridade monetária. Uma taxa básica abaixo da considerada adequada pelos agentes aumentará a expectativa de inflação e os juros nominais de mercado de longo prazo. É uma demagogia falar que reduzir a taxa básica abaixo da neutra (a adequada, a que não aumenta as expectativas de inflação) reduz o custo da dívida.

     6)    Desde os anos 1990, sabe-se que os bancos centrais não controlam a quantidade de moeda, nenhum dos chamados "agregados monetários", mas sim a taxa de juros. O principal instrumento de que dispõe o Banco Central para o controle da demanda agregada é a taxa básica de juros.

COMENTO: REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO:
a) A eficácia da política monetária depende em grande medida da sua CREDIBILIDADE;
b) Uma COMUNICAÇÃO eficaz e o compromisso com a TRANSPARÊNCIA são fundamentais;
c) A coordenação das EXPECTATIVAS exige explicações racionais e consistentes por parte do BC;
d) O BC determina a taxa de juros de curtíssimo prazo (TAXA SELIC), mas a transmissão da política monetária se dá por meio das taxas de mercado em diferentes horizontes, que não são controladas pela autoridade monetária;
e) é possível ocorrer um descasamento entre a taxa selic e as taxas de mercado, se os agentes antecipam mudanças da política monetária, ou em períodos de incerteza ou ainda em períodos em que a política monetária perde CREDIBILIDADE.


7) O quarto pilar é a constatação de que uma taxa de juros da dívida inferior à taxa de crescimento da economia tem duas implicações importantes. A primeira é que a relação dívida/PIB irá decrescer a partir do momento em que o déficit primário - aquele que exclui os juros da dívida - for eliminado, sem necessidade de qualquer aumento da carga tributária. Portanto, se a taxa de juros, controlada pelo Banco Central, for fixada sempre abaixo da taxa de crescimento, a dívida pública irá decrescer, sem custo fiscal, a partir do momento em que o déficit primário for eliminado. sem necessidade de qualquer aumento da carga tributária. Portanto, se a taxa de juros, controlada pelo Banco Central, for fixada sempre abaixo da taxa de crescimento, a dívida pública irá decrescer, sem custo fiscal, a partir do momento em que o déficit primário for eliminado.

COMENTO: o saldo primário não considera o custo da dívida. Se ele for positivo é sabido que os juros caem (e o custo da dívida). É sabido que países que não têm moeda reserva mundial se fixarem a taxa básica abaixo da adequada (neutra) influenciará negativamente as expectativas. Em 1967 já lia: Alarmar os agentes econômicos é mais fácil do que torná-los otimistas e racionais. Expectativas racionais de mercado influenciam possíveis cenários econômicos (previsíveis pela teoria econômica). Influências emocionais - confiança nas instituições e nas autoridades aumentam a segurança e a previsibilidade facilitando o crescimento (o inverso é verdadeiro). Um economista heterodoxo no BC influenciará negativamente as expectativas e fará as taxas de juros de mercado nominais de LP subirem e provocará fuga para o dólar. Uma taxa básica abaixo da adequada poderá eliminar a harmonia entre velocidade de crescimento da oferta e da demanda e criar uma crise cambial.

8) Ao contrário do que se acreditou por muito tempo, a moeda não provoca inflação. Inflação é essencialmente questão de expectativas, porque expectativas de inflação provocam inflação. As expectativas se formam das maneiras mais diversas, dependem das circunstâncias, e os economistas não têm ideias precisas sobre como são formadas.

COMENTO: Sabe-se que economistas heterodoxos no BC provocam expectativas negativas (o inverso é verdadeiro). E a experiência ensina que nunca aconteceu um processo inflacionário sem expansão monetária superior ao PIB potencial.    

9) A pressão excessiva da demanda agregada sobre a capacidade instalada cria expectativas de inflação, mas não é condição necessária para a existência de expectativas inflacionárias. Alguns preços, como salários, câmbio e taxas de juros, funcionam como sinalizadores para a formação das expectativas. 

COMENTO: velocidade de crescimento da demanda superior à capacidade de acompanhamento pela oferta sempre criou inflação (mais do que apenas expectativas).

10) Se o banco central tiver credibilidade, as metas anunciadas para a inflação também serão um sinalizador importante. Uma vez ancoradas, as expectativas são muito estáveis. A inflação tende a ficar onde sempre esteve. Por isso é tão difícil, como sempre se soube, reduzir uma inflação que está acima da desejada. Depois da grande crise financeira de 2008, ficou claro que é igualmente difícil elevar uma inflação abaixo da desejada.

COMENTO: o inverso é verdadeiro. Um economista heterodoxo retira a credibilidade do BC.

11) Um governo que equilibra o seu orçamento, mas gasta mal e tributa muito, é incomparavelmente mais prejudicial do que um governo deficitário, mas que gasta bem e tributa de forma eficiente e equânime, sobretudo quando a economia está aquém do pleno emprego.

COMENTO: Adam Smith escreveu no livro Riqueza das Nações que se a parcela dos gastos improdutivos do governo superar um % da riqueza fará a mesma cair (queda de PIB).

12) A inflação brasileira tem origem na pressão excessiva sobre a capacidade instalada, durante as três décadas de 1950 a 1980 de esforço desenvolvimentista. Foi agravada pelo choque do petróleo na primeira metade da década de 1970, quando adquiriu uma dinâmica própria, alimentada pela indexação e pelas expectativas desancoradas. Altas taxas de inflação crônica têm uma forte inércia, não podem ser revertidas apenas através do controle da demanda agregada, com objetivo de provocar desemprego e capacidade ociosa.

COMENTO: o plano real conseguiu vencer a inflação inercial.

 13) O déficit do sistema previdenciário, como todo déficit público, não precisa ser eliminado se a taxa de juros for inferior à taxa de crescimento. Como estamos com alto desemprego, significativamente abaixo da plena utilização da capacidade instalada e com expectativas de inflação ancoradas, o objetivo primordial das "reformas" deve ser estimular o investimento e a produtividade.

COMENTO: não faz parte da soma do PIB, aposentadorias e juros da dívida pública (gastos improdutivos). O próprio texto do autor fala em qualidade do gasto público. Nem os novos desenvolvimentistas defendem gastos improdutivos.

14) Compreender que o governo não tem restrição financeira não implica compactuar com um Estado inchado, ineficiente e patrimonialista, que perde de vista os interesses do país. Ao contrário, redobra a responsabilidade e a exigência de mecanismos de controle e avaliação sobre a qualidade, os custos e os benefícios, dos serviços e dos investimentos públicos.

COMENTO: é o inverso do escrito no item 13.

15) Embora a história tenha mostrado que seus defensores, desde Eugênio Gudin, estavam certos sobre os riscos do capitalismo de Estado, do corporativismo, do patrimonialismo e do fechamento da economia à competição, foram derrotados porque adotaram um dogmatismo monetário quantitativista equivocado. Tentaram combater a inflação promovendo um aperto da liquidez. O resultado foi sempre o mesmo: recessão, desemprego e crise bancária.

COMENTO: não é o que nossa experiência recente demonstrou com o tripé, com H. Meirelles e com Ilan Goldfajn.
Receita para fazer expectativas de inflação e juros de mercado nominais de LP subirem, colocar no BC um economista com este argumento.  03/2019


EUGÊNIO GUDIN: SOBRE CÂMBIO E INFLAÇÃO 01/1968.
"Numa conjuntura de depressão generalizada, por exemplo, quando predomina o pessimismo, e os preços continuam a cair, não há taxa de juros, por mais baixa que seja, capaz de reanimar a atividade econômica."
INFLAÇÃO E CÂMBIO: Normalmente a inflação afeta o câmbio antes de afetar os preços internos, mas com as sucessivas repetições acaba-se entendendo que os dois efeitos são gêmeos, e um afeta o outro.

Eugênio Gudin, em 01/1968, no livro "Princípios de Economia Monetária." A citação de um livro antigo foi intencional.
REGRA GERAL: não existe inflação que perdure sem expansão monetária e demanda que a sustente. MAGECONOMIA

5 comentários:

  1. EM 15/03/2016: NEOPOPULISMO MONETÁRIO (PENSAMENTO MÁGICO) PROVOCA CRESCIMENTO?
    Em um ambiente e conjuntura com memória inflacionária, inflação inercial, déficit fiscal primário e nominal e que não emite moeda reserva mundial neopopulismo monetário (taxa básica abaixo da adequada) consegue provocar crescimento, mesmo que sem sustentação (voo da galinha)? Não.
    Neopopulismo monetário só funciona após um período de ajuste monetário e fiscal. A demagogia monetária e fiscal só funciona após um período de responsabilidade.
    A experiência demonstrou que a política monetária é mais eficaz no combate à inflação (claro que a parceria com a política cambial e fiscal adequadas torna-a mais eficaz ainda) do que, sozinha, para motivar e conseguir crescimentos (aumentos consistentes das atividades econômicas). O neopopulismo só funciona após um governo responsável.
    O falso ganho com o juro básico negativo (SELIC – IRF – IGPM ou IPCA) é menor (menos representativo) do que a perda da renda das famílias com a inflação (perda de poder de compra da moeda e das poupanças). O que acontece é a bolha de um ativo ou vários ativos que não a moeda (os preços dos ativos sobem acima da inflação).

    COMENTO 15/03/2019: a turma da demagogia começa a mostrar a cara da desonestidade intelectual. Após um período de sacrifícios que conseguiu reverter o processo inflacionário, o desemprego, a recessão, os juros nominais de mercado de curto e longo prazos aparecem querendo aproveitar-se com teorias picaretas e desonestas.

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  2. 04/03/2012 MONETARISMO (uma síntese).

    O monetarismo defende o princípio de que a política monetária deve ser conduzida por regras (princípio que busca no pensamento liberal). É contra o poder discricionário na condução da política monetária. Semelhante ao pensamento liberal e contra o keynesianismo que defende o arbítrio do poder discricionário. Defende a transparência e o crescimento constante e sem oscilações na oferta monetária (a um ritmo estável). Acredita que as oscilações na oferta monetária são uma das causas das crises. Receita para as crises: não deixar que caia a oferta monetária. Defende a responsabilidade monetária e fiscal, as metas de inflação, o câmbio flutuante, limites para déficits e dívida pública.

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  3. 03/03/2016; A TAXA BÁSICA, A CURVA DE JUROS E A PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ.

    Uma elevação da taxa básica (ou de redesconto) tem a finalidade de dar um sinal para o mercado (influenciar expectativas), não pelo aumento do juro, que é insignificante, mas pelo aviso implícito de que a autoridade monetária está vigilante e não permitirá descontrole do processo inflacionário.

    Em uma conjuntura com inflação dentro da meta, a curva de juros será ascendente (os juros curtos serão menores do que os longos - é a preferência pela liquidez).

    Em uma conjuntura com inflação acima da meta e expectativa de aumentos (inflação ascendente), a curva de juros fica ascendente (além da preferência pela liquidez a expectativa de inflação influencia os juros longos). Um aumento da taxa básica acima da neutra (natural ou de equilíbrio) influencia as expectativas de inflação (queda da inflação futura) e os juros de longo prazo (estes caem). A curva de juros fica descendente na parte longa (é o mercado acreditando na queda da inflação).

    É ASSIM QUE O MERCADO AVISA QUE ACREDITA NA QUEDA DA INFLAÇÃO. MAGECONOMIA

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  4. 02/03/2019. COMENTO. A frase abaixo de Eugênio Gudin (1968) ainda é verdadeira. Estudei economia influenciado por leituras dele e de Roberto Campos. O curso de ECONOMIA no Brasil é criação dos esforços de Gudin (a FGV é em parte fruto de seus esforços). São dois pensadores econômicos que ainda vale a pena serem lidos.

    A queda da Selic conseguiu reduzir os juros de mercado de médio e de LP, mas não conseguiu reanimar as atividades (os juros de mercado estão baixos por causa das atividades baixas).
    O DÓLAR VALORIZOU (os brasileiros perderam poder de compra de produtos com preços influenciados), a renda familiar disponível caiu (influencia as atividades). O IGPM subiu bem acima do IPCA (tem inflação reprimida).

    SOBRE INFLAÇÃO 02/03/2016:
    "Numa conjuntura de depressão generalizada, por exemplo, quando predomina o pessimismo, e os preços continuam a cair, não há taxa de juros, por mais baixa que seja, capaz de reanimar a atividade econômica."
    Eugênio Gudin, em 01/1968, no livro "Princípios de Economia Monetária." A citação de um livro antigo foi intencional.

    O Brasil está com uma conjuntura recessiva (não depressiva), com insegurança (a credibilidade do governo é zero), inflação e taxa básica de juros altas, mas negativa, pelo critério: Selic - IRF - IGPM.
    Vamos ver quem ganha a corrida: o IPCA cairá por causa da recessão ou entraremos em um quadro de estagnação (inflação alta sem crescimento)? Ajudando a redução da inflação temos os preços das commodities mundiais baixos e o Fed paralisando o aumento da taxa básica. O risco: o câmbio, a inércia inflacionária, o déficit público, os aumentos das aposentadorias e do salário mínimo. O medo do PT e do governo.

    REGRA GERAL: não existe inflação que perdure sem expansão monetária e demanda que a sustente. MAGECONOMIA

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