quarta-feira, 30 de maio de 2012

DESENVOLVIMENTISTAS, CRISE E CÂMBIO (VALOR)

DESENVOLVIMENTISTAS, CRISE E CÂMBIO (VALOR)
Delfim Netto (Valor 29/05/12): “Analistas culpam os países devedores (gastadores) pela crise que estamos vivendo, ressaltando a moderação virtuosa dos países credores.” “A crise foi construída pela desmontagem da regulação financeira aprovada nos anos 30 e pela péssima política monetária dos Bancos Centrais apoiada pela parte mais vocal e instrumentalizada da Academia.”
“Felizmente soubemos (o Brasil) aproveitar os últimos anos: 
1º) aprovando uma lei de Responsabilidade Fiscal que paradoxalmente fortaleceu nosso federalismo desregrado e criou, de fato, uma área monetária ótima; 
2º) um vento de cauda do comércio exterior que sem nenhum esforço exportador (continuamos a ter a mesma percentagem, 1,3%, que há 50 anos temos nas exportações totais) resolveu nosso problema externo.” “E isso é tudo que falta à zona do euro, a única moeda que não tem um país.”
Sugere que a Alemanha (que define como país virtuoso) contribua com: 
“1º) aumentando a sua demanda global para ajudar as exportações dos outros; 
2º) aceitando que o BCE cumpra o seu papel de emprestador de última instância; 
3º) aprovando a emissão de títulos solidários para atrair o setor privado no financiamento dos investimentos.”     

COMENTO: Condena os analistas que consideram a falta de responsabilidade fiscal (a desobediência às regras fundamentais da criação do Euro, déficit máximo de 3% e dívida pública de 60% do PIB) como a causa principal e primeira da crise. Em seguida se contradiz recomendando que copiem a responsabilidade fiscal (austeridade) do Brasil (Real). ATENÇÃO: para os analistas, a quem critica, a causa da crise seria a desobediência às regras básicas da criação do Euro. Define como causa da crise a desmontagem da regulação financeira aprovada nos anos 30. ATENÇÃO: não considerou a evolução dos fatos acontecidos após 30. O sistema cambial mundial evoluiu de fixo para variável (após o país emissor da moeda reserva mundial descumprir a regra da paridade dólar x ouro. Deixou flutuar.). Outras regras foram estabelecidas, maiores em quantidade e em complexidade, mas incapazes de sozinhas evitarem as crises (como todos de bom senso sabem). As crises são feitas por países (autoridades irresponsáveis) que não respeitam a responsabilidade fiscal ou monetária (no que concorda ao avesso). SUGERE ainda que a Alemanha aumente sua demanda (gastos públicos) indo de encontro à regra de responsabilidade fiscal. Esquece que o mercado alemão pode (e deve) ser atendido pelos produtores mais competentes (qualidade e preço) do mundo todo. Recomenda que o BCE empreste aos países (bancos) quebrados (quem irá pagar?), sem exigir como contrapartida a eliminação dos gastos insustentáveis (a maioria roubalheiras políticas e populista-demagógicas). E afinal recomenda que o BCE avalize a dívida dos quebrados (a emissão de títulos pelo BCE seria isto). É o mesmo que punir os responsáveis (alemães) a pagar as dívidas dos gastadores irresponsáveis, aumente sua taxa de juro e reduza a dos outros países, sem ter o direito de exigir que as gastanças (como definiu) sejam eliminadas.

L. C. Bresser P. e Nelson Marconi (Valor 29/05/12): “O mercado interno é o maior ativo que a economia de um país pode possuir; “  “... uma parcela dos economistas brasileiros prefere conviver com a sobreapreciação cambial existente, porque o custo de se colocar a taxa de câmbio no nível de equilíbrio (a do equilíbrio industrial, que torna competitivas as empresas industriais eficientes) implicará alguma redução dos salários reais e em aumento da inflação (ambos temporários).”   

COMENTO. CONSIDERAÇÕES SOBRE CÂMBIO.
Partindo das premissas: 
1) câmbio não aceita definições reducionistas; 
2) câmbio é função das expectativas (= visão de futuro, positivas, negativas, neutras, racionais, emocionais) dos agentes e que estas se formam baseadas em: 
a) segurança, credibilidade (das instituições e do governo), previsibilidade (sempre em primeiro lugar); 
b) balanço comercial (o brasileiro muito influenciado pelos preços das commodities); 
c) fluxo cambial comercial e financeiro (visão de futuro); 
d) saldo em transações correntes (visão de futuro); 
e) estoques de dólares no mercado interno e externo; 
f) movimento de capitais (visão de futuro); 
g) reservas cambiais (visão de futuro); 
h) as apostas (derivativos, posições vendidas ou compradas) dos bancos, se em volume superior ao que recomenda a prudência, podem influenciar a taxa de câmbio por um período curto (volatilidade). Apostas imprudentes são estimuladas por atuações indevidas dos BCs no câmbio futuro (a atuação previsível do BC entrando salvando prejuízos estimulam as imprudências dos bancos). 
i) às expectativas de inflação de cada moeda (à política monetária – juros - prudente ou imprudente); 
 3) o câmbio de equilíbrio é aquele que for bom para a maioria.  Nunca será bom para todos. Se for ruim para os consumidores não será bom para a economia;
4) Não existe liberalismo sem livre concorrência, nem consistentes ganhos de produtividade, competitividade e avanços tecnológicos, com reservas de mercados ou privilégios, qualquer que seja ele (inclusive proteção cambial, mesmo que escondido atrás de artificialismos); 
5) CÂMBIO FLUTUANTE COMO SOLUÇÃO DO MERCADO LIVRE (Milton Friedman). “A instabilidade das taxas de câmbio é um sintoma da instabilidade da estrutura econômica subjacente. A eliminação de tais sintomas pelo congelamento administrativo das taxas cambiais não corrige nenhuma das dificuldades subjacentes e só torna o ajustamento a elas ainda mais penoso.”

Os autores propõem um câmbio de equilíbrio industrial (parcial, portanto artificial e privilegia a parte mais rica da sociedade, inclusive os acionistas estrangeiros, quase sempre a maioria.). Definem o mercado interno como o maior ativo que uma economia pode possuir e ao mesmo tempo receitam a desvalorização da moeda pátria (se a desvalorização tem que ser conseguida com o abandono do sistema de câmbio flutuante pelo administrado, é artificial). Enfim: desvalorização artificial da moeda é igual à redução do poder de compra de todos (não apenas dos salários, mas inclusive das empresas que importam maquinários e tecnologias), que é igual à piora da qualidade vida, e ainda, é igual a reduzir o tamanho do mercado (que é o que dizem defender). Menor o mercado menor a atração de indústria. Na verdade defendem a ultrapassada política protecionista e os interesses dos exportadores (da maioria que tem altos lucros e não precisa de proteção, bem como da minoria que nunca conseguirá ser competitiva). 


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