domingo, 22 de abril de 2012

CONSUMO: RELAÇÕES COM RENDA, JUROS E INFLAÇÃO.

CONSUMO: RELAÇÕES COM RENDA, JUROS E INFLAÇÃO.
1)  KEYNES: para Keynes o consumo subiria de acordo com a renda. Maior a renda maior o consumo total, mas menor em relação à renda.

2)  IRVING FISHER: para Fisher o consumo dependia da expectativa de renda e de vida.

3)  MILTON FRIEDMAN: para Friedman o consumo dependia da renda permanente (a renda que os agentes têm segurança de que receberão).

4)  MODIGLIANI: para Modigliani o consumo é função da riqueza e da renda em relação à expectativa de vida.

5)  CLÁSSICOS: para os clássicos a taxa de juro mais alta desestimula o consumo e estimula a poupança. Keynes refutou este pensamento. Para ele se a taxa de juro sobe, o investimento cai (para ele poupança e investimento são iguais em uma economia fechada e em um dado momento). Como consumo é igual à renda menos investimento, maior a taxa de juro, menor o aumento da capacida de produção (investimentos), o PIB e o consumo. 
  
6)  MELHORIA NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: a melhoria na distribuição de renda (redução da concentração da renda) aumenta o consumo no curto e no médio prazo (ou enquanto houver espaço para ela ocorrer). O aumento do consumo induz o aumento dos investimentos (é o crescimento da renda total = PIB).

7)  O CONSUMO, A TAXA BÁSICA DE JURO, A LIQUIDEZ (QUANTIDADE DE MOEDA) E A INFLAÇÃO: os monetaristas defendem o princípio de que o aumento da liquidez (moeda) em proporção maior do que o crescimento do PIB potencial provoca um crescimento da demanda (C + I) no cp, das expectativas de inflação e da inflação no médio ou no longo prazo. Recomendam que a liquidez tenha um aumento constante, não superior à capacidade de crescimento do PIB potencial. Desaconselham altos e baixos no crescimento da moeda, pois isto trás insegurança aos agentes e reduz a previsibilidade e os investimentos. A taxa básica é a ferramenta mais eficaz dos BCs na redução do excesso de liquidez (moeda) do mercado, por conseqüência reduz também as expectativas de inflação (no processo a taxa básica será reduzida no segundo momento). Uma taxa básica abaixo da adequada permitirá um aumento das expectativas de inflação e necessidade de uma taxa maior no futuro para combater os aumentos de preços. Se a autoridade monetária deixar que a liquidez aumente seguidamente em relação ao PIB potencial o processo inflacionário instala-se.       
  
8)  CRISES: em um processo de aumento de liquidez agravado com taxa de juro real ex-post negativa (a taxa real ex-ante fica maior do que a real ex-post, a inflação ocorrida fica sempre maior do que a projetada), instala-se o processo inflacionário e a fuga da moeda mais juros para os ativos que não moeda (imóveis, moedas estrangeiras, ações, ouro, etc.). Esta conjuntura artificial (aumento desproporcional de liquidez e juros negativos) caminha para o processo de insegurança e furo da bolha dos preços dos ativos que não moeda, trazendo redução de previsibilidade para o mercado, instalando-se um cenário que começa com a desaceleração do crescimento do PIB provocada pela redução da riqueza (desvalorizações de ativos), passando para a recessão, podendo chegar à depressão se não combatido adequadamente. O combate à crise que se instala resume-se em impedir a quebra dos bancos, a redução da liquidez (não confundir com aumentos excessivos.), complementada por política fiscal (aumento de gastos públicos não constantes e melhoria de distribuição de renda).         

quinta-feira, 12 de abril de 2012

HIPÓTESE: TN PARAR DE EMITIR TÍTULOS CORRIGIDOS POR SELIC.

HIPÓTESE: TN PARAR DE EMITIR TÍTULOS CORRIGIDOS POR SELIC.
Se o TN parar de oferecer títulos corrigidos por selic ao mercado terá que limitar-se a vender títulos corrigidos por IGPM mais juros, IPCA mais juros, pré-fixados e valor de face vendido com deságios. Perderá uma opção de venda que se adequou e se adéqua a períodos de menor previsibilidade (insegurança). Os títulos pré-fixados terão que pagar taxas muito altas para serem aceitos pelo mercado com vencimentos acima de certo prazo. Os títulos corrigidos por IPCA e IGPM serão os mais utilizados para prazos maiores (um retorno à indexação?). Os custos para o TN serão os decorrentes dos títulos acima.
O BC para praticar a política monetária e controlar o processo inflacionário terá que continuar a oferecer uma taxa básica (selic ou outro nome qualquer) para o sistema financeiro se quiser retirar liquidez do mercado (com inflação ascendente). Os agentes financeiros venderão liquidez para o BC a troco de uma taxa básica que será fixada de acordo com o cenário e a expectativa de inflação. A taxa básica pode ser fixada pelo BC por prazo de até 1 dia (overnight? Sim. Ou selic.). Hoje o BC utiliza o prazo de 45 dias para mudar a taxa básica referencial que é fixada através de um percentual anual (através de taxa equivalente efetiva pode ser calculada por dia, por mês, etc.). A taxa básica tem a virtude de subir quando a expectativa de inflação sobe e descer quando ela desce. É um título com menos risco e por este fato mais aceito pelo mercado e com as menores taxas de juros. É a menor taxa de financiamento que o TN tem utilizado nos últimos anos.    
O único argumento crítico que tem certa procedência é o de que quando a selic sobe a renda nominal dos poupadores também sobe (em tese pode estimular o consumo). Na prática sabemos que quando a selic sobe as expectativas de inflação caem.  

COPOM DE 17 E 18 ABRIL - SELIC

COPOM DE 17 E 18 ABRIL –SELIC
Considerando que o ponto mais negociado da curva de juros está em 9,19% (jan./2014), que o DI 360 está em 8,76% (distanciando-se muito de jan./14) e que o maior volume negociado na curva de juros está abaixo de 1 ano (redução de previsibilidade = insegurança), a leitura da conjuntura prospectiva pelo COPOM, como descendente, tem que ser totalmente livre de dúvidas para justificar uma nova redução de 0,75% na Selic. A menor dúvida aconselha que a queda deva ser de no máximo 0,5%. A favor da queda de 0,75% na Selic temos a redução da taxa de jan./2014 de 9,52% para 9,19% (o Di 360 caiu de 8,86% para 8,76%). Contra temos o maior volume da curva de juros negociado com prazo inferior a 1 ano (em minha opinião só isto já desaconselha uma queda de 0,75% na Selic.), o IGP M ter subido para 0,43%, o IGP DI para 0,56%, o IPA M para 0,42%, o IPA DI para 0,55%, o IPC DI para 0,60% e o IPA Agro para 1,22%. São indicadores que devem ser considerados.  Temos que levar em consideração que uma meta de inflação de 4,5% não facilita a estabilidade monetária nem o crescimento sustentado. A inflação e o crescimento do PIB com esta meta estão no vai e volta. A meta que mais sucesso faz no mundo para se conseguir a estabilidade monetária e o crescimento sustentado fica entre 1 e 3% (com taxa básica em torno do ponto neutro, sem demagogias.).      

quarta-feira, 11 de abril de 2012

POLÍT. MONET.: EXPANSIONISTA. (E), CONTRACIONISTA. (C) OU NEUTRA (N).

SELIC, DI 360, IPCA, IGPM.
 POLÍT. MONET.: EXPANSIONISTA. (E), CONTRACION. (C) OU NEUTRA (N).
SELIC, DI 360, IPCA, IGPM.
 POLÍT. MONET.: EXPANSIONISTA. (E), CONTRACIONISTA. (C) OU NEUTRA (N).
S
SELIC
2011
DI
360

E,
C.
N.
IPCA

IGPM

SELIC
2012
DI
360

E,
C.
N.
IPCA

IGPM

JAN.
11,25
12,44
E
10,4275
9,9029
x
10,5
9,55
C
6,9309
3,0416
FEV.
11,25
12,62
E
10,0338
12,682

10,5
9,41
C
5,53567
-0,722
MAR.
11,75
12,29
E
9,90295
7,699

9,75
8,96
C
2,5493
5,2838
ABR.
12,00
12,58
E
9,6415
5,5356






MAI.
12,00
12,45
E
5,7881
5,2838






JUN.
12,25
12,65
E
1,8149
-2,1815






JUL.
12,50
12,58
E
1,93698
-1,449






AGO.
12,0
11,22
C
4,53147
5,4096






SET.
12,0
10,39
C
6,54871
8,0850






OUT.
11,5
10,30
C
5,2838
6,5487






NOV.
11,50
9,66
C
6,42159
6,1678






DEZ.
11,0
10,04
C
6,16778
-1,4495






OBS: ÍNDICES MENSAIS ANUALIZADOS (índice do mês de referência anualizado).


APESAR DA SELIC EM QUEDA A POLÍTICA MONETÁRIA PASSOU DE  EXPANSIONISTA PARA CONTRACIONISTA (o DI 360 caiu mais ainda). O FATOR TAXA BÁSICA (SELIC) EXPANSIONISTA MOSTROU-SE MENOS POTENTE DO QUE OUTROS (como diz a boa teoria).  A CONJUNTURA MUDOU (FATORES EXTERNOS INFLUÍRAM).  

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CRESCIMENTO ECONÔMICO – PROTECIONISMOS OU PORTAS ABERTAS PARA AS INOVAÇÕES E O CAPITAL?

CRESCIMENTO ECONÔMICO – PROTECIONISMOS OU PORTAS ABERTAS PARA AS INOVAÇÕES E O CAPITAL?

Por ano milhares de inovações tecnológicas são registradas no mundo. O crescimento econômico sustentado e competitivo só acontece com ganhos de produtividade contínuos e ininterruptos, conseguidos com portas abertas para as melhorias e as inovações tecnológicas.
O crescimento econômico acontece com mais efetividade em ambientes onde:
a)     as leis prevaleçam sobre a autoridade (o império das leis).
b)    as regras do jogo sejam estabelecidas e defendam a concorrência;
c)    os investimentos são atraídos por leis que garantam de forma clara o direito de propriedade;
d)    as portas estejam abertas para importações da vanguarda tecnológica;
e)    protecionismos diretos ou indiretos não prejudiquem a concorrência (a luta pelo lucro e pela sobrevivência);
f)     o judiciário seja eficiente (tenha credibilidade por parte dos agentes econômicos) e eficaz (ágil e correto);
g)    uma boa legislação que regule a relação capital x trabalho;
h)   a população no geral e a população em idade economicamente ativa estejam em crescimento.
Os mercados são racionais a maior parte dos tempos. A estabilidade monetária facilita a previsibilidade, o planejamento de longo prazo, os investimentos e a racionalidade dos mercados. A irracionalidade dos mercados (efeito manada), valorizações dos ativos acima dos IPCs, desvalorizações que provocam perdas (o retorno ao normal, a recessão) acontece por irresponsabilidades ou incompetências na administração das políticas fiscal, monetária ou cambial.    
INOVAÇÕES RADICAIS: as inovações radicais provocam mudanças radicais nos mercados. O sistema de produção pode mudar totalmente. As perdas com as depreciações tecnológicas podem ser de 100% e ocorrer em um espaço de tempo muito menor do que o previsto. O protecionismo pode ser fatal para o desenvolvimento de um país em um período de inovações tecnológicas (de sistemas ou de maquinarias) rápidas. A opção é manter as portas abertas para o capital (investimentos) e para as importações de tecnologias.    
PODER DISCRICIONÁRIO OU REGRAS NA CONDUÇÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA E CAMBIAL: a meta de inflação é uma regra e um limitador do poder discricionário da autoridade monetária. A taxa básica fica comprometida com a meta de inflação. A falta de meta de inflação dá à autoridade monetária o poder discricionário na condução da política monetária inclusive na fixação da taxa básica. O câmbio administrado dá poder discricionário à autoridade monetária, já o flutuante retira (é uma regra, a de mercado).

sábado, 24 de março de 2012

CRESCIMENTO ECONÔMICO SUSTENTADO: CONDIÇÕES NECESSÁRIAS.

CRESCIMENTO ECONÔMICO SUSTENTADO: CONDIÇÕES NECESSÁRIAS.

“A melhor maneira de destruir um sistema capitalista é destruir a sua moeda.” Lênin.

“Para retirar um estado do mais baixo nível de pobreza e elevá-lo à riqueza bastam três coisas: a paz, impostos módicos e uma boa administração da justiça. O resto virá por conseqüência.” Adam Smith, 21 anos antes de publicar A Riqueza das Nações.

A economia é uma ciência social-política que se desenvolveu através da observação e de estudos da busca das causas de conseqüências e efeitos de atos dos fenômenos econômicos ocorridos nos países com mercados mais desenvolvidos. Neste sentido podemos dizer que é uma ciência da observação. O desenvolvimento da ciência aconteceu com o desenvolvimento dos mercados e da evolução natural da moeda metálica para a fiduciária. Os autores de assuntos econômicos foram se beneficiando uns dos escritos dos outros. Adam Smith pode ser considerado o pioneiro com o livro Riqueza das Nações (1776), Malthus, Ensaios (1798), J. B. Say, Tratado de Economia Política (1803), Ricardo, Princípios (1817), James Mill, Elementos de Política Econômica (1821), List, Sistema Nacional de Economia Política (1841), J. S. Mill, Princípios de Economia Política (1848), K. Marx, O Capital (1867), A. Marshall, Princípios de Economia Política (1890), Walras, Estudos de Economia Política e Aplicada (1898), Wicksell, Lições de Economia Política (1911), J. M. Keynes, Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), Milton Friedman, Capitalismo e Liberdade (1962), História Monetária dos EUA (1963), e os autores mais contemporâneos, quase todos laureados com o Nobel de Economia.

CRESCIMENTO SUSTENTADO.
As observações das experiências ocorridas até hoje permitem dizer que as condições necessárias (não únicas) para o crescimento sustentado são:

a) A ESTABILIDADE MONETÁRIA é uma condição necessária ao crescimento e ao desenvolvimento econômico sustentado. E qual é essa estabilidade monetária necessária? A experiência de novo nos diz que é aquela que mantém a inflação entre o mínimo de 1% e o máximo de 3%. Neste sentido buscar o crescimento com um pouco mais de inflação (4,5% a 6,5%) é uma medida demagógica que tem se provada errada no Brasil atual (o vai e vem do crescimento do PIB). O de melhor que se fez até hoje foi a redução da inflação;
b) CONTROLE DA QUANTIDADE DE MOEDA E SEU CRESCIMENTO SEM OSCILAÇÕES BRUSCAS (as oscilações trazem insegurança e expectativas negativas) é outra condição que se provou necessária;
c)   O sistema de câmbio flutuante (o BC não deve atuar contra as tendências criando artificialismos);
d)   Gastos do governo com uma relação investimentos x gastos totais aceitável;
e)   Déficit público de no máximo 3% e dívida pública limitada a 60% do PIB;
f)    Taxa básica de juro adequada e comprometida para que a meta seja atingida;
g) gastos improdutivos o mínimo possível, limitando-se aos necessários.

A RESPEITO DE POLÍTICA MONETÁRIA:
a) Sozinha não resolve problemas microeconômicos, estruturais ou setoriais. A ESTABILIDADE MONETÁRIA É CONDIÇÃO NECESSÁRIA (mas não suficiente) AO DESENVOLVIMENTO E AO CRESCIMENTO ECONÔMICO;
b) A moeda neutra permite que o equilíbrio nas relações tenha como efeito uma taxa de crescimento consistente e sustentável;
c) A emissão de moeda não provoca crescimento sustentado (provoca bolhas nos preços dos ativos que não moeda e crises);
d) A política monetária deve contribuir para um ambiente de ESTABILIDADE  e de PREVISIBILIDADE, permitindo o alongamento do planejamento e das operações (das famílias e das empresas);
e) A estabilidade e a previsibilidade são condições para redução das taxas de juros reais de longo prazo e conseqüentemente do crescimento do PIB;
f) A TAXA BÁSICA DE JURO É O PRINCIPAL INSTRUMENTO DA POLÍTICA MONETÁRIA (errando nela errou em tudo);
g) A determinação da taxa básica ideal deve obedecer a ação impessoal dos mercados (um grande número de agentes, com interesses, gera resultados superiores aos alcançados pelo poder discricionário dos planejamentos centralizados). O ponto da curva de juro de mercado mais negociado é o mais próximo da taxa neutra (ou de equilíbrio);
h) O regime de taxa de câmbio flutuante é necessário para que a política monetária não provoque desequilíbrios no balanço de pagamentos;
i) o BC não deve atuar contra as tendências em câmbio, é artificialismo que irá dificultar o problema. 
MAG 03/2012.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O PLENO EMPREGO E A INFLAÇÃO - Eugenio Gudin (13-9-68).


Em 1968 eu estava na terceira série do curso de economia. Lia e admirava Gudin e Roberto Campos no Brasil. O texto abaixo de Gudin é atual (e propõe solução correta) até hoje.

O PLENO EMPREGO E A INFLAÇÃO - Eugenio Gudin (13-9-68)
Entre um combate radical à inflação e o desejo de promover a euforia econômica e incrementar a taxa de desenvolvimento, a opção do atual Governo foi clara. Optou pela segunda solução. Desde o segundo trimestre de 1967 foram tomadas as providências para estimular a atividade econômica em todos os setores, com resultados incontestavelmente satisfatórios. A produção tem aumentado tanto no setor industrial como no setor agrícola, onde o maior suprimento de crédito ajudou as condições favoráveis do tempo a produzir boas safras.
O fato de o Governo optar pela segunda opção não quer dizer que ele descure da inflação, mas, como não é possível atingir simultaneamente os objetivos em parte contraditórios, a verdade é que, de um modo geral, a diátese inflacionária persiste.
Se eu fosse governo (o que para a felicidade geral da Nação não é o caso) teria adotado a outra opção. É de certa forma uma vergonha para os governos da Revolução, em seu conjunto, não terem ao fim de 4 anos eliminado a inflação. Mas não é por defesa dos brios da Revolução que eu optaria pelo combate a Inflação e sim porque sua excessiva persistência exerce um efeito de perigosa erosão não só sobre o Sistema Econômico, como sobre a Conjuntura Social e Política do país.
A inflação é o tormento permanente de mal-estar e das queixas dos consumidores (pelo Brasil afora) contra a alta irritante e repetida dos preços; são as constantes solicitações, fundamentadas ou não, de aumento dos salários; é o impacto repetido e desmoralizante das altas do dólar; é o clamor contra o déficit orçamentário;  é a distorção dos investimentos;  é o desvio da poupança para as "letras financeiras" de taxa tentadora (porque não separam a correção monetária) em vez do investimento em ações;  são as aparentes injustiças resultantes da incidência desigual da inflação sobre as várias classes sociais;  são as intervenções do Governo no sentido de "reprimir" seus efeitos;  é a erosão do capital de giro das empresas etc. É difícil obrigar o público a suportar esse estado de coisas anos a fio.
* * *
Já tenho mais de uma vez procurado esclarecer que o combate à inflação não exige medidas que promovam a depressão econômica. Porque não há inflação quando a demanda monetária corresponde aos fatores de produção disponíveis - equipamento e mão-de-obra. Ela resulta é de uma "demanda superior" à quantidade desses fatores, que dá lugar à disputa para obtê-los, ao leilão, digamos, desses fatores.
Grosso modo, é assim. Mas há um detalhe muito importante a considerar. É que não é possível chegar a 'um total aproveitamento dos fatores de produção', sem inflação. Uma 'taxa mínima de desemprego' e de capacidade ociosa é indispensável no combate a inflação. A começar porque há em todos os países uma 'taxa de desemprego normal', resultante não só dos empregados que estão transferindo de uma para outra ocupação, como porque a 'qualidade' ou 'espécie' do trabalho oferecido não coincide com a do trabalho procurado. Pode haver uma grande procura por mecânicos, eletricistas e contabilistas, que permanece insatisfeita por falta de oferta, como pode haver excesso de disponibilidade de mão-de-obra despreparada, para a qual não há procura.
Nos Estados Unidos, a experiência tem demonstrado que quando se procura reduzir a taxa de desemprego a menos de 3,5% os efeitos inflacionários logo se manifestaram. Não sei qual seria essa taxa entre nós, mas acredito que seja mais elevada, devido ao grande excesso da oferta, em relação à procura, de trabalho manual elementar.
O mesmo se aplica ao equipamento e maquinaria, sobretudo nos setores de infra-estrutura, como ferrovias, água, instalações hidrelétricas, fornos siderúrgicos etc., onde uma certa margem de capacidade ociosa é inevitável, devido ao tamanho das unidades. De outro lado, a elasticidade da procura dos diferentes produtos não é a mesma; o aumento de disponibilidades monetárias não incide "uniformemente" sobre a demanda; em certos setores essa demanda aumenta mais do que proporcionalmente e em outros menos do que em proporção, ou mesmo nada.
Não se pode ajustar a oferta e a procura de fatores de produção de modo a atingir ao pleno emprego integral, como um carpinteiro ajusta os dois lados de uma porta ou uma gaveta. No sistema econômico, a linha de ajuste é irregular; os dois lados da porta se afastam em certos pontos de 4%, 5% ou 10%, enquanto em outros eles se tocam.
* * *
Situação semelhante encontra-se na Política Salarial. Porque a melhoria da produtividade não é uniforme. Nas indústrias onde o progresso tecnológico é mais pronunciado, pode a taxa de produtividade aumentar de 5% ou até de 10% em um ano, o que dá margem para um aumento salarial correspondente. Mas é muito possível que nas indústrias de produtos alimentícios, ou de tecelagem, por exemplo, a melhoria da produtividade tenha sido muito mais baixa; uma percentagem uniforme de incrementos salariais resulta então em aumento de custos e preços nestes setores. Em França, por exemplo, a produtividade média da indústria aumentou de 100 em 1958 para 134 em 1965;  os salários foram aumentados nesse período de 25% em termos reais, "inclusive nas indústrias de alimentação" onde a melhoria da produtividade não foi além de 119. Os preços desses produtos subiram no período de 100 para 120.
* * *
Contra um combate mais radical da inflação, há um argumento triste sentido mas infelizmente de bastante realidade. É o da interrogação que um governo faz a si próprio sobre a validade ou inutilidade de seu esforço deflacionário, isto é, receio de que esse esforço venha a ser perdido, porque o próximo governo voltará a inflacionar.
Por mais "realista" porém que possa ser esse argumento de pessimismo e descrença, ele não deve ser acolhido. Nenhum homem de governo, verdadeiramente responsável, pode aceitá-lo. Quando mais não fosse porque o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever.