quinta-feira, 25 de junho de 2015

DEFLAÇÃO X RECESSÃO (queda da demanda).


DEFLAÇÃO X RECESSÃO (queda da demanda).

No Brasil a nossa experiência recente foi de inflação, hiperinflação e estagflação até a implantação do Plano Real (que evoluiu para o tripé, superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante), que estabilizou a inflação em patamares baixos (apesar de não os ideais). Poucos se lembram de que na crise de 29/30 o Brasil viveu uma recessão e deflação (os prejuízos e sofrimentos foram muito grandes). Os preços mundiais caíram (inclusive o café, nosso principal produto de exportação) e influenciaram a economia brasileira (foi uma crise importada).

DEFLAÇÕES: as deflações podem ocorrer por queda de demanda ou excesso de oferta (a oferta cresce em velocidade maior do que a demanda). Este texto pretende resumidamente estudar as relações de causa e efeito entre: demanda, oferta, nível de preços e juros.
A CRISE de 29/30, originada nos USA, ocorreu por aumentos de preços de ativos que não moeda (bolsa principalmente), muito acima do que seria razoável, formando uma ilusão geral de riqueza, que na verdade era apenas virtual. Quando começaram a entender que os preços destes ativos eram artificiais, não tinham sustentação racional, as baixas começaram e aconteceram em uma velocidade impressionante. As autoridades monetárias americanas, responsáveis por ter permitido a formação das bolhas, nada fizeram, 5.000 bancos quebraram e a crise virou sistêmica atingindo o mundo todo. A quantidade de moeda em circulação caiu em 1/3, segundo Milton Friedman, e as autoridades monetárias nada fizeram para impedir, o que seria possível e reduziria os sofrimentos para suportáveis. Os preços caíram no mundo inteiro. Foi uma depressão com deflação (alguns preços caíram 50%).    

CONSUMO: RELAÇÕES COM RENDA, JUROS E INFLAÇÃO:
1) KEYNES: para Keynes o consumo subiria de acordo com a renda. Maior a renda maior o consumo total, mas menor em relação à renda.
2) IRVING FISHER: para Fisher o consumo dependia da expectativa de renda e de vida.
3) MILTON FRIEDMAN: para Friedman o consumo dependia da renda permanente (a renda que os agentes têm segurança de que receberão).
4) MODIGLIANI: para Modigliani o consumo é função da riqueza e da renda em relação à expectativa de vida.
5) CLÁSSICOS: para os clássicos a taxa de juro mais alta desestimula o consumo e estimula a poupança. Keynes refutou este pensamento. Para ele se a taxa de juro sobe, o investimento cai (para ele poupança e investimento são iguais em uma economia fechada e em um dado momento). Como consumo é igual à renda menos investimento, maior a taxa de juro, menor o aumento da capacidade de produção (investimentos), o PIB e o consumo. 
6) MELHORIA NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: a melhoria na distribuição de renda (redução da concentração da renda) aumenta o consumo no curto e no médio prazo (ou enquanto houver espaço para ela ocorrer). O aumento do consumo induz o aumento dos investimentos (é o crescimento da renda total = PIB).


Hoje sabemos que os Bancos Centrais não podem permitir a queda dos meios de pagamentos ampliados e dos empréstimos ao setor privado (operações de crédito do sistema financeiro). É possível e adotado por todos os BCs do mundo desenvolvido. Milton Friedman aconselhou que a quantidade de moeda deve crescer de maneira uniforme, sem grandes variações, entre 3 e 5% a.a. O crescimento da quantidade de moeda, sabemos hoje, deve crescer em torno de 3% a.a acima do PIB potencial.  

A CRISE BRASILEIRA DE 2015: em 2007 o governo Lula iniciou uma distensão, abandono gradual do tripé, que foi se avolumando até que em 2013 o governo, através do BC, teve que fazer operações de swaps cambiais para evitar a desvalorização do real (antes o problema era a valorização), reprimir preços de combustíveis e energia elétrica, e aumentou a dívida pública bruta (aumentando o estoque de títulos do TN no BC, operações proibidas). Passou a imagem de que o governo tinha aversão ao lucro, amedrontando e desmotivando investidores. A política monetária que deveria corrigir os desmandos da política fiscal, subindo a taxa básica, não o fez adequadamente. A política cambial deixou de ser flutuante para ser administrada através de operações de swaps cambiais crescentes, chegando a atingir US$ 112 bilhões, para evitar a desvalorização do real. O real ficou artificialmente valorizado passando uma falsa sensação de riqueza aos brasileiros. Todos os desarranjos trouxeram uma desarmonia (desequilíbrio) entre a demanda e a capacidade doméstica de oferta (a demanda passou a crescer em velocidade superior à oferta), sendo esta sustentada com déficits na Conta Externa de Transações Correntes (em 2014 o déficit atingiu US$ 114 bi.), insustentáveis no tempo, iria levar o país a uma crise cambial de grandes proporções (uma quebra).  A economia estava rodando em nível acima do sustentável. A surpresa foi o tamanho dos desajustes. Corretamente DR dá uma guinada e abandona a política econômica que seus economistas denominaram de “nova matriz econômica” e indica para assumir o Ministério da Fazenda um competente e conceituado economista da linha liberal monetarista, Joaquim Levy. Os preços começam a ser liberados e a inflação aumenta reduzindo o poder de compra das classes baixa e média (o comércio sofre as influências, os aluguéis caem). A demanda reduz e os preços que não estavam represados começam a cair (inclusive aluguéis comerciais). Ao mesmo tempo o BC inicia a correção da taxa básica de juros para evitar a contaminação da correção dos preços antes represados aos outros e o risco da volta da inércia inflacionária. O aumento da taxa básica reduz mais ainda a demanda, mas a inflação resiste. O risco é o BC ter que ceder à grita contra os aumentos da Selic, inclusive de bancos (a inadimplência cresceu). A FIESP sempre foi contra a política monetária responsável. O próprio PT voltou-se contra a política do governo. Infelizmente a ignorância sobre os efeitos da taxa básica ainda é muito grande. Muitos que se dizem entendidos não diferenciam taxa básica (Selic) dos juros de mercado. Muitos não sabem os efeitos da taxa básica na curva dos juros de mercado, na parte curta e na longa da curva. Não sabem que a taxa básica acima da neutra reduz os juros de lp e faz a parte longa da curva ficar descendente (o custo de captação do TN cai ao invés de aumentar como dizem). A maioria escreve e não faz a conta SELIC – IRF – IPCA ou IGPM, para ver a taxa real de juro. A taxa de juro ex-post decepciona e fica negativa. Escrevem que a taxa de juros está em 6% reais (não explicam se é a ex-ante, apenas uma previsão, ou a ex-post) quando na verdade ela ainda está negativa. Aconselham política monetária adequada para inflação descendente quando o processo inflacionário está ascendente e com alto risco de retorno da inércia inflacionária.
Existe diferença entre recessão com inflação e recessão com deflação. O caso atual brasileiro é com inflação ascendente e risco de retorno do processo inercial grave. 06/2015.
RENDIMENTOS DE ATIVOS R$
ATVOS
2012
2013
2014
01/15
02/15
03/15
04/15
05/15
2015
SELIC (-20% IR)
8,49 (6,79)
8,22 (6,576)
10,90 (8,768)
0,94
0,82
1,04
0,95
0,99
4,83 (3,864)
IBOVESPA
7,40
-15,50
-2,91
-6,41
9,97
-0,84
9,93
-6,17
5,51
DÓLAR PTAX
8,94
14,64
13,39
0,23
8,11
11,46
-6,68
6,19
19,67
Dólar paralelo SP
7,39
15,60
13,49
0,00
6,99
11,11
-5,59
4,98
17,83
Euro
11,05
19,70
0,02
-6,73
7,24
6,76
-3,02
4,56
8,28
OURO BM&F
15,26
-17,35
12,04
7,50
2,02
10,43
-5,94
5,54
20,22
IPCA
5,84
5,91
6,41
1,24
1,22
1,32
0,71
0,74
5,34
CDI - 20% IRF - IPCA
0,88
0,538
2,2348
-0,496
-0,564
-0,488
0,05
0,044
-1,492
GPM
7,82
5,51
3,69
0,76
0,27
0,98
1,17
0,54
3,64
CDI - 20% IRF - IGPM
-1,10
0,938
4,9548
-0,016
0,386
-0,148
-0,41
0,044
0,208




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